segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O ano dos êxitos improváveis

1. Um dos jornalistas portugueses em quem mais confio, Paulo Pena, classificou este ano nacional como o dos êxitos improváveis, graças a três homens em particular destaque: Fernando Santos, António Costa e António Guterres.
O primeiro conseguiu levar uma equipa de futebol, que jogou sofrivelmente e foi superando obstáculos quando parecia à beira de ser por eles derrubados, a ganhar o Euro de 2016 graças à capacidade de maximizar os pontos fortes e reduzir ao mínimo os de manifesta fraqueza. Se não se ganhou em beleza, conseguiu-se-o em manifesta eficácia.
O segundo foi o primeiro-ministro de uma maioria parlamentar, cuja possibilidade parecia ser uma espécie de Godot e que, depois de testada em inúmeros desafios, a todos correspondeu com sucesso contribuindo para o que dizem as sondagens e, muito particularmente, o índice de confiança dos consumidores divulgado pelo INE, que é o de um país decididamente mais esperançado quanto à probabilidade de ver melhorados os seus padrões de qualidade de vida.
E, finalmente, com Guterres foi a demonstração de não existirem impossíveis, quando se quer muito alcançar um objetivo e para ele se canalizam as competências próprias e a notável capacidade diplomática da equipa dos Negócios Estrangeiros e respetivas embaixadas (mormente a de Nova Iorque). Aquela que seria a candidata, que Merkel entendia ser a mais ajustada para ocupar a liderança das Nações Unidas com alguém do Partido Popular Europeu foi achincalhada com votação humilhante, enquanto o improvável vencedor o era por unanimidade.
2. Se o ano deu-nos bastos motivos para nos regozijarmos com sucessivos suplementos de alma, talvez não fosse desavisado imitarmos os franceses, que acabam de condenar Christine Lagarde pela forma negligente como cuidou dos dinheiros públicos, apesar do rombo causado ter sido de apenas 430 milhões de euros. Ora, olhando para o comportamento de Maria Luís Albuquerque com a resolução do Novo Banco ou o tapar dos olhos com a peneira nos casos do Banif ou da Caixa Geral de Depósitos, justificar-se-ia que a culpa não morresse solteira. É que não responsabilizá-la pelos danos causados às finanças públicas, e em particular ao sistema bancário, acaba por ser em si um grave caso de … negligência.
3. Andamos a desejar que os jovens voltem a recuperar algumas das melhores características  das que nós, mais velhos, tivemos: a generosidade na luta política, o desejo de transformar o mundo no sentido de se garantirem mais liberdades e igualdades e a necessidade de empatias fraternas com quem partilhássemos tais valores.
Um estudo hoje divulgado na Faculdade de Motricidade Humana mostra o contrário e até se revela inquietantemente deprimente. Segundo uma das principais coordenadoras, Margarida Gaspar de Matos, “fica-se com a sensação que um jovem é competentíssimo e confiante mas muito pouco preocupado com os outros e com a realidade — portanto, autocentrado e egoísta, ou cria empatia com o que o rodeia e sofre por causa disso e torna-se menos bem-sucedido”. Impera, pois, o egoísmo, o salve-se quem puder, o “cada um por si e Deus contra todos”.  Sendo que o “Deus” é aqui esse monstro neoliberal, que promete condenar essa geração aos empregos precários e mal pagos, se não mesmo à sempiterna frustrada busca de paraísos impossíveis. 
Carl Friedrich David

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