domingo, 6 de novembro de 2016

A China, os EUA de Trump e a recuperação de Mossul

Aproveitando o balanço, que lhe conferiu a escrita e recente publicação de «A Grande História do Mundo» nas edições Fayard, François Reynaert foi desafiado pelo «L’Obs» a comentar três dos principais assuntos da atualidade internacional.
O primeiro tem a ver com a China, enquanto país central em torno do qual cada vez mais parece gravitar o resto do mundo. Nas notícias mais recentes vimos o psicopata filipino a romper a antiga aliança militar com os Estados Unidos para se aliar a Pequim, um construtor chinês a publicitar a entrada estrondosa no mercado europeu atualmente em preparação e até Villas Boas, o treinador português de futebol, que passou pelo F.C. Porto, pelo Chelsea ou pelo Zenit assinou agora um contrato invejável com um clube de Xangai.
A China ambiciona recuperar o estatuto de maior potência económica mundial, que já teve até ao fim do século XVIII graças ao chá, à seda e às porcelanas com que dominava os mercados mundiais.
A decadência desse poderio chinês só sucedeu no século XVIII com a sua derrota na Guerra do Ópio, que tornou obrigatória a compra de tal planta à Índia, então ainda a joia da coroa do Império Britânico. Foi na sequência dessa sua quebra, que a China se viu obrigada a suportar concessões francesas, alemãs ou americanas nas suas cidades costeiras, por onde se movimentavam, à revelia das suas autoridades, as principais trocas comerciais desse tempo.
Para os chineses esse século XIX foi para esquecer só se iniciando a recuperação com a Revolução Republicana de 1911, a guerra civil e a empreendida contra a ocupação japonesa, mas sobretudo a desenvolvida pelo maoismo a partir de 1949.
São poucos os que hoje duvidam da progressiva afirmação política e económica da China no mundo de amanhã.
O segundo tema analisado por Reynaert é o da tentação isolacionista norte-americana como provável desiderato de uma eventual vitória de Trump nas presidenciais. De acordo com as promessas deste último os Estados Unidos deixariam de ser os polícias do mundo, abandonando a postura messiânica de expandir por todo o planeta o seu sistema de valores  e de pensamento.
De acordo com os correligionários do magnata os Estados Unidos deveriam virar costas ao mundo e cuidar da sua própria prosperidade de acordo com a vontade de milhões de cidadãos demasiado escaldados pelos sucessivos desastres militares no Iraque ou no Afeganistão, cujos custos pagaram em vidas humanas e em impostos.
No terceiro tema em análise o ataque a Mossul faz esquecer como a região teve outrora as capitais dos primeiros califas, que lhes deram enorme esplendor, como aconteceu com Damasco ou Bagdad. Em 800 d.C. esta última era uma das maiores e mais belas cidades do mundo, com a civilização árabe-muçulmana a constituir uma das mais avançadas do seu tempo.
Só no século XIX é que as populações do Médio oriente começaram a compreender o atraso face ao poderio das potências europeias, que cuidavam de as colonizar. Ainda nesse século o vice-rei do Egito, Méhémet Ali, e Nasser no seguinte, compreenderam residir a solução na imitação do Ocidente, mas foram mal sucedidos porque logo se começaram a superiorizar os defensores do regresso à religião muçulmana, através desse salafismo jihadista, cuja versão mais assustadora está no Daesh.
A rivalidade entre a civilização ocidental e o obscurantismo salafista só terá fim, quando este último se vir desprezado por quem volte a interessar-se pelo estudo de todos os saberes  e pela capacidade de os discutir, incluindo essa religião mais vocacionada para ser interpretada do que fixada nos seus critérios arreigados.
Otto Dix

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