segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Os Trumps que andam entre nós

Andamos muito justamente indignados com as palavras injuriosas de Donald Trump sobre as mulheres, mas suficientemente distraídos para deixarmos passar sem sobressalto a notícia da semana passada sobre a decisão do Tribunal da Relação de Coimbra, que considerou sem «dignidade penal» o crime praticado sobre uma mulher de São Pedro do Sul a quem um energúmeno se terá dirigido na rua a dizer-lhe: "Comia-te toda! És toda boa! Pagavas o que me deves!"
A injúria era tão gravosa, que a vítima do tratante procurou ver reconhecida nos tribunais a natureza crapulosa da agressão a que fora sujeita em público. A esta hora deverá ainda estar a tentar perceber em que país vive, depois de ver o biltre regressar ao conforto da sua marialvice com a sensação vitoriosa de poder prosseguir na mesma via, porque contará com a solidariedade implícita da coutada de machos lusitanos, que ainda continuam a ser certos tribunais.
Bem tentou Fernanda Câncio chamar a atenção para o caso numa crónica no «Diário de Notícias», que ele não ganhou a relevância merecida.
O que se comprova é não existirem apenas Trumps na América: eles estão entre nós e não apenas no lúmpen onde se compreenderia que fosse o espaço previsível para que existisse uma tal «compreensão» com forma tão desprezível de menorizar as mulheres.
Afinal três juízes com carreira bastante para se sentarem num tribunal superior confirmam o estado da nossa Justiça, aonde se considera normal tratar as mulheres como meros objetos sexuais a quem se pode achincalhar sem temer quaisquer consequências.!

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