segunda-feira, 19 de setembro de 2016

De livros que não li a enganos que o não foram

1. Neste início de semana uma das curiosidades mais palpitantes será saber se Pedro Passos Coelho continua firme na decisão de apresentar o tal livro, que a maioria dos portugueses não leu, não gostou e repudia quem gosta.
Se mantiver a satisfação do compromisso dá ensejo a que dele se diga: «diz-me que livros apresentas, dir-te-ei quem és!». Se se escusar vê ferida aquela imagem de antes quebrar que torcer, alimentada durante todo o período da sua partilha do poder com a troika e em que lhe foram indiferentes os custos sociais do que decidia, porque não «existia outra alternativa» (a célebre TINA!).
De uma forma ou de outra, o ainda líder da Oposição sai mal do filme e acentua o declínio, que as sondagens vão anunciando. E para seu mal dificilmente contará com convites como os recebidos por Durão Barroso ou Paulo Portas para se reformar da carreira política. O seu feitio nada assertivo reduzi-lo-á a um exílio interno só entrecortado de algum comentário televisivo, porque estando os ecrãs tão pejados de irrelevantes ressaibados, de Medina Carreira a Manuela Ferreira Leite, não custa imaginar que neles caiba mais um.
2. O que apraz dizer sobre a eleição alemã deste fim-de-semana, que significou para Angela Merkel o resultado mais negativo alguma vez obtido pelo seu partido m Berlim nos últimos quarenta anos, não é a dimensão dessa derrota ou a correspondente subida da extrema-direita. Sobre isso não faltam por aí as análises redundantes. Prefiro olhar para as vitórias pífias do SPD. É que, embora como em Magdeburgo, tenha ganho as eleições, nem subiu na respetiva percentagem, nem consegue formar governo sem o recurso a parceiros, que lhe desfigurarão o programa.
É o que acontece aos partidos socialistas e sociais-democratas, que, em vez de combaterem as direitas, preferem com elas coligar-se. Ainda não se verifica uma pasokização do SPD, porque o Die Linke tarda em afirmar-se, mas para lá caminha.
Para quem, como Francisco Assis, a preferência seria essa, a perda de identidade de esquerda no matrimónio contranatura com a direita afasta os eleitores.
Esperemos que ele e outros socialistas, que silenciaram as críticas em função dos sucessivos êxitos da atual maioria parlamentar, vão retirando daí as devidas lições.
3. O ataque norte-americano à base aérea síria, que provocou dezenas de mortos e irá provavelmente estilhaçar o frágil cessar-fogo anunciado na semana transata, não pode ser lido como um engano dos pilotos americanos. Bem pelo contrário!
Na Casa Branca já se compreendeu que o futuro da Síria passará pela continuidade de Bashar al Assad na sua presidência e tentam por isso mesmo conseguir militarmente uma inversão na relação de forças, que evite esse anunciado desiderato da guerra. Por isso o «erro» foi seguido de um ataque imediato dos rebeldes, supostamente abrangidos pelo cessar-fogo, às posições do regime.
Naquilo que terá sido um teste para ver se pegava, o resultado não foi o que esperavam. E sabem que, doravante, se já estavam desconfiados da bondade das suas propostas, os russos e os sírios mais alerta estarão contra jogadas de tal jaez.

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