segunda-feira, 25 de julho de 2016

Ainda é possível a reconstrução?

Uma Europa por reconstruir é o título do artigo de Serge Halimi publicado na capa do «Le Monde Diplomatique» deste mês e que surge na sequência do referendo inglês sobre o Brexit.
As razões, que motivaram os ingleses e os galeses a optarem pela saída da União Europeia podem não ter sido as melhores levando em conta toda a demagogia dos populistas, mas alguns dos seus argumentos tiveram total razão de ser, sobretudo quando se fundamentaram na falta de Democracia hoje assumida pelas instituições sedeadas em Bruxelas ou Frankfurt.
A pressa com que pretendem ver implementada a saída do Reino Unido da União Europeia recorda toda a estratégia aplicada à Grécia do Syriza para lhe impor a punição decorrente da sua frustrada tentativa para ensaiar uma alternativa à asfixiante austeridade. Quase todos os dias são publicados relatórios e notícias sobre os «efeitos catastróficos iminentes» do que ocorrerá proximamente à economia inglesa por ter havido a atrevimento de contrariar a vontade (ainda) maioritária das instituições europeias. Perante a deceção com o resultado do Brexit, os burocratas desistiram da alternativa que sempre tinham utilizado até aqui: promover tantos referendos quantos os necessários para fazer coincidir os resultados com os seus objetivos. Agora anseiam transformar o Reino (Des)Unido num novo exemplo do que já fizeram com a Grécia, embora se saibam com meios de chantagem menos fortes do que os impostos a Tsipras.
No artigo de Halimi este situa o abandono do projeto original europeu na queda do Muro de Berlim. Nessa altura os líderes europeus tiveram a oportunidade única de opor “ao triunfo da concorrência planetária, um modelo de cooperação regional, de proteção social e de integração por cima das populações do ex-bloco de Leste.”
Ao invés criaram “um grande mercado, carregado de comissários, de regras para os Estados e de punições para as populações, mas muito aberto a uma concorrência desleal para os trabalhadores.” Em suma trataram de “agradar aos mais privilegiados e aos mais bem relacionados das praças financeiras e das grandes metrópoles”.
Hoje soam a falso as pretensões da direita segundo a qual só os apoiantes do Bloco de Esquerda ou do Partido Comunista são contra esta União Europeia. Aumenta o número dos socialistas que estão contra essas “elites políticas autistas e desacreditadas”, que teimam em manter uma ideologia cujo fracasso é revelado de forma tão explicita nos últimos meses. Uma grande parte ainda quer acreditar que os esforços de António Costa para mudar a União ainda justificam a expetativa. Mas o sucedido com a Grécia, e agora com o Brexit, só justifica a futura pertinência de uma consulta democrática sobre a continuidade do país num clube onde ele é tratado como uma «ovelha negra».

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