sábado, 11 de junho de 2016

O neoliberalismo não é um mito

1. Um dos programas que não costumo perder na televisão portuguesa é o que dá à segunda-feira à noite na RTP 3 e que põe Ricardo Paes Mamede a confrontar a sua inteligência e solidez argumentativa contra um Teixeira dos Santos em registo “melhoral” (não faz bem, nem faz mal) e um Jorge Braga de Macedo, que dá razão a todos quantos o acham um dos mais irritantes personagens, que mais mal tem feito à economia portuguesa, ou não seja ele um persistente «conselheiro» dos sucessivos líderes do PSD desde que deixou de ser ministro num dos governos cavaquistas.
«Os Números do Dinheiro» vale, sobretudo, a pena pelas intervenções de Mamede, mas também pelo confronto de olhares e de sorrisos, que ele e aquele que ficou pejorativamente conhecido como o «adiantado mental», trocam.
No programa da semana transata houve um momento em que esteve em causa a personalidade de José Reis, respeitado professor da Universidade de Coimbra, que tem um vídeo em vias de se tornar viral nas redes sociais onde denuncia a forma como a direita travestiu os números do desemprego. Quando Braga de Macedos se referiu sobranceiramente a ele, Mamede logo o encostou ás cordas:
- Mas tem algum problema com o José Reis?
Por um momento ainda quis crer, que veria o que, desde há várias semanas, espero: Mamede levantar-se e afincar um bom par de chapadas no inepto presunçoso.
Sei que seria utopia, e que desde o episódio com João Soares, as lambadas estão um bocado desvalorizadas, mas que era o que Macedo merecia não duvido…
2. A escolha de Hillary Clinton em vez de Bernie Sanders para encabeçar a candidatura democrata à Casa Branca terá o óbice de deixar, uma vez mais adiada, a possibilidade de se limitar a capacidade de Wall Street continuar a causar tantos danos quantos os que têm saído da sua lavra, acabando com a desregulação da sua atividade, que equivaleu a deixar o carro de portas abertas e a chave na ignição para que o ladrão o possa levar.
Os portugueses, que foram dando à direita os votos necessários para replicar essa mesma desregulação á escala interna, já se viram esbulhados de muitos milhões de euros à conta das sucessivas falências do BPN, do BPP, do BES ou do Banif.
Seria bom que, à escala externa e à interna, se conjugassem regras de controlo e supervisão, que impossibilitassem novos casos como os ocorridos. E que impedissem os fluxos para as tais offshores, que prometem continuar de boa saúde como se comprova no súbito silêncio em torno dos Panama Papers.
Uma outra política é não só possível, como imperativa, sob pena de continuarmos a ser os trouxas, que pagam os desvarios alheios. Teremos de deixar de nos sentir compensados com os filmes de Hollywood, que tudo isto denunciam, sem nos suscitarem o sobressalto bastante para nos levar a dizer: «Basta!».
3. Voltando ao programa de António Perez Metelo com os economistas referenciados no início deste texto, ele abordou o estudo produzido por três vedetas do FMI, onde demonstram as malfeitorias das políticas neoliberais causadas nas vidas de milhões de pessoas e como elas se revelaram irracionais em relação aos objetivos pretendidos.
Hoje em dia, por muito que os neoliberais queiram lançar-nos poeira para os olhos, afiançando que o neoliberalismo nunca existiu, mais não sendo do que uma invenção das esquerdas para combater politicamente a direita, ele continua a ser uma realidade à mesa do G7, do Eurogrupo e de todas as instituições onde gente em grande parte não eleita por ninguém toma decisões sobre as vidas de todos nós. E por isso importa denunciá-los, combatê-los, derrota-los...

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