sexta-feira, 3 de junho de 2016

Discurso contra o blá-blá-blá

Na «Quadratura do Círculo» desta semana os seus participantes foram convidados a enunciarem algumas das suas reflexões sobre o atual problema dos refugiados.
Começou Jorge Coelho e foi o típico blá-blá-blá de repetição dos lugares comuns mais do que esgotados. Seguiu-se Lobo Xavier e foi mais uma sucessiva verbalização do mesmo discurso blá-blá-blá.
Como tinha mais que fazer fiquei-me por aí, mas não tenho grandes expectativas quanto às opiniões de Pacheco Pereira, mesmo admitindo-o capaz de ir bem mais além e dizer algo de novo, mesmo sem tocar no essencial.
Ora, quatro horas antes desse programa, o «28 minutes» do canal ARTE entrevistou o filósofo esloveno Slavoj Žižek abordando o mesmo tema e o que disse foi estimulante dando razão aos que o consideram o mais interessante de todos quantos andam a cogitar sobre as sociedades do nosso tempo e nos permitem olhá-las com o discernimento de entender em que direção caminham. Não com um pensamento definitivo, que nos eximisse de conduzirmos nós próprios essa ponderação, mas agindo como autêntico «maître à penser», que prefere pôr perguntas do que dar as respostas.
Mas quais são essas perguntas? Refutando o blá-blá dominante, que faz do discurso sobre os refugiados o feudo dos corações piedosos, comovidos com o seu martírio nas águas do Mediterrâneo ou com os muros levantados para impedir a sua passagem, devemos interrogarmo-nos das razões, porque - sendo eles os grandes culpados quanto à situação na Síria ao constituírem os principais financiadores dos que combatem Assad - porque não se pressiona a Arábia Saudita e os riquíssimos Emiratos do Golfo Pérsico a absorverem essa mole humana? Até porque, ouvindo muitos desses candidatos ao exílio europeu, a maioria diz-se sunita, a exemplo daqueles retrógrados regimes árabes!
Outra das questões pertinentes levantadas por Žižek é a da moda multiculturalista, que procura impor um pensamento «politicamente correto», no respeito pelos credos religiosos desses recém-chegados com tudo o que eles comportam em valores e preconceitos, que deveríamos liminarmente proibir. Imagine-se que, em nome desse suposto respeito pela cultura de tais populações, ainda há quem defenda o seu direito a prosseguir a mutilação genital das meninas ou a poligamia, que mantém as mulheres numa condição infantilizada.
Embora arriscando perigosas sintonias com alguma extrema-direita, mas que se resume a uma mera defesa do bom senso, os europeus podem ver condicionados muitos avanços civilizacionais conquistados duramente nas últimas décadas - o aborto, a igualdade entre homens e mulheres, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc. - se aumentar a percentagem da população, que leva a sua alienação religiosa ao ponto de impor aos demais os modelos de vida e os valores, que professa no recato dos seus lares. E, nesse sentido, já nos bastam - e têm de ser ativamente combatidos! - os obstáculos levantados a essa dinâmica pelos estarolas ultraconservadores do catolicismo na Polónia ou na Irlanda.
É por isso que as questões levantadas por Žižek tendem-me a fazer crer nesta regra, que desejaria ver transposta para o espaço público: sendo aceites como exilados nas nossas sociedades europeias os refugiados não deveriam ser autorizados a guetizarem-se em espaços onde se tornem maioritários, antes disponibilizando-se a diluírem-se harmoniosamente nas comunidades de que copiem progressivamente os comportamentos e valores segundo o preceito «Em Roma sê romano».
É que, por muito que os sentimentos religiosos devam ser respeitados, fazem sentido na esfera privada de cada um e não têm de ser ostensivamente exibidos o espaço público. Tanto mais que, por muito que alguns nos tentem convencer do contrário, a evolução do pensamento político das populações muçulmanas estão a orientá-las para uma lógica islamo-fascista que, como todo o tipo de ditaduras, deve ser erradicada. 

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