sexta-feira, 27 de maio de 2016

Seis meses depois!

Os seis meses de governo, que se comemoraram ontem, nem me souberam a pouco, nem me souberam a tanto, parafraseando uma canção do Sérgio Godinho. Fiquei assim a meio, satisfeito quanto baste, ou seja aliviado por nos termos libertado da tralha direitista, mas inquieto por ver o mar ainda mais alto do que a terra nas questões da conjuntura externa e do peso da dívida, sem que se vislumbrem condições favoráveis para as subalternizar.
Enfrentando uma pesadíssima herança - qual o Executivo, que recebeu logo, para as primeiras impressões, um Banif? - a equipa liderada por António Costa esteve a apagar sucessivos fogos e a cumprir, na medida do possível, as promessas eleitorais e os termos dos acordos firmados com as demais componentes desta esquerda plural.
Nesse sentido esteve bem, até na forma como rapidamente resolveu momentos mais delicados como o foram a substituição de João Soares ou das chefias militares solidarizadas com a homofobia no Colégio Militar. No entanto tem sido assaz prudente na substituição de responsáveis da Administração Pública ali deixados pelo governo anterior e cuja ação de travagem às mudanças não devem ter sido, até agora, de escamotear...
O maior problema é não ter ainda havido a capacidade de criar uma base social de apoio suficientemente militante para contrariar na rua a mobilização, que a direita, conjugada com a Igreja e os media, consegue através dos ictéricos.
Basta ler os textos de um Francisco Assis, de um lado,  ou da líder da moção ao Congresso do Bloco de Esquerda, que tentará contrariar a linha seguida por Catarina Martins, do outro lado, para perceber que o cimento aglutinador desta esquerda ainda é muito frágil. No seu seio permanecem vozes, que vão muito além da legítima discordância, e se colocam no terreno da explicita sabotagem.
Aquilo que se sente em muitos dos apoiantes do atual governo é essa perplexidade por manter-se a política exclusivamente vivida no parlamento, no governo e em conferências ou seminários para uma exígua minoria de participantes, quando se desejaria ver, por exemplo, o atual conflito com os colégios privados, traduzidos em fliers explicativos sobre a defesa da Escola Pública, a serem abundantemente distribuídos nos meios de transporte e nas avenidas e praças das grandes cidades. Ou as explicações sobre quanto a vida do comum dos mortais melhorará substantivamente com a implementação das duas centenas e meia de medidas do Simplex +.
É dos livros, que uma política de sucesso tem de ser acompanhada de marketing adequado, não bastando os sinais trazidos por sucessivas sondagens, que vão apontando para um apoio crescente no eleitorado. E se se deserta das ruas, o vazio nelas criado é ocupado por quem nelas deveria andar mais recatado: é por sentirem essa militância pífia em torno deste governo, que os contestatários - apenas 3% do universo, que dizem representar! - se atrevem a sentir-se com força para virem para a rua alegar as suas falaciosas teses.
António Costa tem razão, quando prioriza a ação e o cumprimento da palavra dada e estigmatiza as falsas promessas em que Passos Coelho era tão pródigo. Mas algo tem de ser feito para contrariar eficientemente a barragem de desinformação, que rodeia mediaticamente o seu governo. Porque se houve algo que precipitou a queda de Dilma Rousseff foi ela nunca ter conseguido anular o efeito perverso do que a Globo, a Veja, e Cª iam debitando sobre o que fazia...



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