segunda-feira, 30 de maio de 2016

Amarelices e assuncices

1. É no mínimo curiosa a argumentação de Inês Melo Sampaio no site «Geringonça», que alerta para a possibilidade dos colégios, objeto de apoios no âmbito dos contratos de associação, poderem estar a incorrer numa violação dos Tratados Europeus, mormente no que diz respeito às leis sobre a concorrência que, em última análise, os colocaria perante o risco de terem de devolver os muitos milhões de euros recebidos nos últimos anos.
A própria troika já identificara a situação e impusera no memorando de entendimento que tais apoios ilegítimos fossem reduzidos ao mínimo, algo que Nuno Crato ostensivamente ignorou.
O texto, nada inocente, intitula-se: «Alerta amarelo, quem tudo quer, tudo perde» e prefigura uma linha de contra-ataque muito viável, se a contestação não acabar por aqui, como anunciou a secretária de Estado ao concluir que, para o Governo, o assunto era caso encerrado.
Como a direita, e sobretudo a Igreja, andam totalmente atoleimadas atrás de fundamentações, que caem facilmente pela base, ainda não é certo, que ganhem juízo e assumam a regra de qualquer negócio: se tiverem clientes seguem em frente, se os não tiverem abrem falência.  Agora não podem é esperar que seja o Orçamento a continuar-lhes a pagar direitos que as leis nacionais e europeias não lhes reconhecem.
2. A intervenção da Igreja Católica, através da sua Conferência Episcopal, também anda a merecer uma reação contundente dos contribuintes. Afinal se todos os portugueses estão sujeitos ao pagamento do IMI, porque deverá o clero ser dele isento? Quantos milhões estão eles a custar ao erário público com essa benesse, que não se justifica de forma convincente?
Ainda se seguissem o avisado conselho do Papa Francisco e, em vez de se preocuparem com a educação dos betinhos, fossem abrir escolas gratuitas em bairros desfavorecidos onde as crianças pudessem apenas preocupar-se com a aprendizagem, ainda reconheceria o serviço público que prestariam.
Ora, qual é o benefício que as comunidades possuem de ter igrejas no seu seio? Poupanças no psiquiatra, porque a fé significa paliativo mais ou menos razoável para as depressões? É uma hipótese. Mas, mesmo esse serviço às populações deverá ser prioritariamente canalizado para o Serviço Nacional de Saúde. Ou não será?
3. Para quem pudesse ainda ter alguma ilusão quanto à possibilidade de Assunção Cristas representar algo de novo num partido a viver a orfandade do seu putativo inspirador, as declarações e o comportamento da líder do CDS têm suscitado adequado esclarecimento.
A mais recente estratégia assenta nesta lógica: se a realidade não se ajusta aos seus argumentos, faça-se como ela não existisse e prossiga-se em frente. Foi o que sucedeu com a imaginativa sugestão de fechar escolas públicas para garantir a viabilidade das que, privadas, estão mesmo ali ao lado.
É claro que a Constituição proíbe liminarmente essa hipótese, mas para quê nela atardar-se se a convicção com que se dizem as atoardas até a parecem cumular de razão?
Mas, não se ficou por ai, nestes últimos dois dias: cuidando de se pôr em bicos dos pés em frente à minúscula Merkel, para por ela conseguir ser vista, veio ufana desmentir o otimismo de Marcelo algumas horas antes e fazendo depender do comportamento do governo de António Costa a decisão de sanções, ou não, quando o assunto voltar à baila em julho.
Algo assim do género: retome ele a receita passista-portista, que pôs na gaveta e Merkel será magnânima. Caso contrário, lá virá mais uma versão atualizada da história de Pedro e do Lobo.


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