sexta-feira, 8 de abril de 2016

As virgens ofendidas

Embora seja assinante do «Público» há muito tempo que não perco um instante a olhar o que alguns atoleimados ali escrevem, invariavelmente insultuosos para com a esquerda e obsequiadores com quem defenda que o tempo volte para trás.
É gente mesquinha, que nunca fez nada de significativo na vida, mas apostada em zurzir em quem fez. Um deles é o tal Vasco, que nem é Pulido e muito menos Valente, como se viu agora no receio em levar umas bofetadas. Terá escrito coisas com mitigado interesse sobre a História portuguesa do século XIX, mas tudo quanto perora sobre o nosso século XXI português traz o cheiro a mofo dos alfarrábios por onde passeia o nariz.
Quanto a Augusto Seabra pouco mais me ocorre do que perguntar de quem se trata? Porque a pretérita atividade como crítico de cinema e de música erudita não suscita a mínima recordação de algo de memorável, que dele tenha conservado.
Temos pois gente sem obra feita, e de quem ninguém se lembrará, quando de cadáveres adiados o passem a ser em efetividade de funções. Quem são eles para da sua pequenez se atreverem a pôr-se em bicos de pés e apontarem espingardas a quem foi um estimável Presidente da Câmara de Lisboa e deputado da República em várias legislaturas?
Não é que seja um incondicional de João Soares. Bem pelo contrário! Não esqueço que esteve com António José Seguro e com Maria de Belém em recentes pugnas políticas, donde o vi em trincheira contrária. Mas o afã com que a imprensa esqueceu momentaneamente os Panama papers para focalizar nele a atenção diz bem dos interesses em torno do projeto de António Lamas postos judiciosamente na gaveta, quando pareciam incontornáveis. Há por aí muita gente a sentir os negócios prejudicados e desejosa de vingança.
Como se viu com José Sócrates, que tem andado a pagar os custos de ter espoliado os juízes de muitas das suas obscenas regalias, também João Soares se arrisca a ver-se crucificado por ter impedido Lamas de levar por diante o plano de entregar toda a área de Belém com o respetivo património nacional aos interesses vorazes dos empresários com ele mancomunados.
Quanto às bofetadas, qualquer conhecedor dos «Maias» sabe bem que o termo só pode ser visto como atualização das saborosas bengaladas prometidas ao Dâmaso por Carlos da Maia. Mais do que lidas no sentido estrito, tratou-se de oportuna metáfora de um Ministro culto relativamente a dois poltrões da igualha do Salcede.
Se quisesse ser ainda mais rebarbativo, Soares poderia ter completado a promessa das bofetadas com um sonoro «Pim!», porque os dois visados não desmereceriam de uma modernizada versão do Manifesto de Almada contra o Dantas.
Com a sua costumada verve, Rui Zink poetizou a indignação corporativa de uns quantos jornalistas armados em púdicas virgens:
Jornalistas que não se unem contra os despedimentos sumários, a censura, a prepotência das direções, a manipulação grosseira de informação etc. etc etc. etc.
indignam-se com
desabafo
queirosiano
no Facebook...
Pessoalmente temo que a reação de António Costa só dê ensejo aos que estão sempre prontos a verberar o governo para que mantenham fogo cerrado sobre tudo quanto digam os ministros. Que, como se viu ainda há pouco tempo, nem sequer podem sugerir algo de sensato sobre encher ou não o depósito do carro em Espanha…
Há alturas em que não convém curvar-se a quem não merece, porque dá um sinal de fraqueza com custos cobrados com juros logo a seguir... 

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