sexta-feira, 18 de março de 2016

Regresso à sabática (3ª parte)

Este é o fim-de-semana em que decorrerá a maioria dos congressos federativos do Partido Socialista. Oportunidade óbvia para publicar a 3ª parte do conjunto de textos pelos quais anunciei o meu regresso à sabática a nível da militância na minha área de residência e não a outros níveis de intervenção direta ou indireta, designadamente nas redes sociais como muitos amigos se alarmaram.
O texto de hoje versa o conjunto de propostas, que gostaria de levar ao Congresso da Federação de Setúbal sem ter garantido os apoios necessários para tornar isso possível.
Em primeiro lugar há a constatar o facto de o Partido Socialista estar a incorrer num erro, que pretéritas ocasiões já o deveriam ter convencido de não poder repetir: a paralisação das estruturas locais, muitas delas já sem sequer local fixo onde reunir, e a reduzir a sua atividade à espera de uma boa governação capaz de se traduzir em votações em linha com esse mérito, mas muito acima do revelado por quem a deveria secundar em cada freguesia e em cada concelho deste país.
Eu sei que António Costa encarregou Ana Catarina Mendes de garantir a operacionalidade do Partido, mas não conheço outras ações de mobilização, que não sejam algumas conferências e encontros esporádicos, mobilizadores apenas dos que já estão convencidos da bondade das propostas socialistas. Continuamos com um partido virado umbiguisticamente para si mesmo.
Como abordei nos textos anteriores, a aposta deve ser a contrária: abrir o Partido à sociedade até por ela ter dito presente, quer durante o processo das primárias, quer na própria campanha presidencial de Sampaio da Nóvoa. Em ambos os casos surgiram muitos simpatizantes, que nunca tinham colocado - e em muitos casos continuam a não colocar! - a decisão de uma militância formal, mas apostados em contribuir para o Tempo Novo aberto com tais momentos de exaltação da Cidadania.
Se se restringir aos seus militantes o Partido Socialista estará condenado ao crepúsculo de outros parceiros europeus, que viraram costas aos seus princípios fundamentais, aderiram à lógica suicidária da Terceira Via e viram os eleitores abandoná-los.
Há, igualmente, a questão dos jovens: se muitos enquadram-se no problema dos abstencionistas, que abordarei mais adiante, os que estão a revelar apetência pela participação política, preferem o Bloco de Esquerda e o CDS em detrimento do PS.
Não é que a Juventude Socialista não tenha estado ao seu melhor nível na última campanha para as legislativas, mas temos de convir na sua falta de atração para a grande maioria dos que nela deveriam pugnar pela defesa das suas aspirações.
Identificar e tomar medidas ativas de ganhar os jovens para a participação cidadã no seu seio, deverá ser uma das principais tarefas de quem dirige o Partido Socialista. É que eles são a melhor garantia para o futuro do Partido e da matriz ideológica em que ele assenta.
Em relação à grande mole de pessoas, que dizem-se desinteressadas ou desmotivadas da política, há um esforço significativo a investir. É verdade que a comunicação social, o futebol, os novos cultos religiosos e outros polos de interesse tendem-nos a tornar abúlicos. Sacudi-los de tal torpor tem de ser um imperativo só conseguido se usada a estratégia do «flete, flete, insiste, insiste» com assuntos que lhes digam respeito. No caso das populações dos concelhos do Seixal e adjacentes, quais as que podem ficar indiferentes a que haja ou não o novo hospital ou que a rede de transportes as sirvam mais eficientemente? Conseguir que os abstencionistas crónicos o deixem de ser e encontrem no PS a garantia de verem defendidos os seus interesses, eis a outra missão que incumbe aos Secretariados saídos dos Congressos deste fim-de-semana.
Tudo isto implicaria que não se perdesse a dinâmica de agitação e propaganda desenvolvida no último ano e meio com as sucessivas oportunidades em que milhares de entusiastas lutaram para que António Costa fosse o novo secretário-geral socialista, o PS fosse governo e contássemos com uma personalidade de exceção como Presidente da República.
Concluídos estes combates vi muitos amigos - grande parte deles conhecidos nestas lutas recentes - a questionarem-se: «E Agora?».
Era essa resposta que gostaria ter visto satisfeita onde moro. Porque já outra batalha decisiva se perspetiva no horizonte: ganhar as autárquicas do próximo ano.
Em setembro de 2017 a direita tudo fará para demonstrar que o Partido Socialista perdeu apoios e não merecerá continuar no Governo. Se à esquerda a gestão desse processo terá de ser feita com pinças para não alienar o apoio parlamentar, não nos iludamos qual será o inimigo principal: essa direita revanchista, que verá aí a oportunidade para proclamar-se legítima candidata a recuperar o pote. É por isso que colocar de imediato a vitória autárquica como imperiosa tem de ser algo de incontornável se se quiser perdurar a transformação  social e política em curso.
Qual era a proposta para a Secção onde vêm parar as minhas quotas?
Primeiro que tudo manter a sede utilizada na campanha SNAP dada a sua localização central e a área disponível para o trabalho político aí a cumprir.
Segundo, dividi-la com uma Associação Cívica formada de acordo com os Estatutos do Partido e destinada a congregar os esforços dos simpatizantes ainda não devidamente sensibilizados para a importância da sua adesão formal.
Uma vantagem adicional desta solução era a de reduzir a metade a verba necessária para manter o aluguer de tais instalações, porquanto havia na Associação quem manifestasse a intenção de «pagar para fazer política».
Terceiro, definir um conjunto regular de atividades destinadas aos grupos a alcançar com os colóquios e conferências sobre temáticas abrangentes a nível dos seus interesses quotidianos, mas também com a opção por vertentes relacionadas com o Conhecimento e com a Cultura capazes de cativar o interesse dos jovens (cineclube, música, etc.).
Quarto, apostar num candidato forte para apresentar daqui a um ano e com cujas ideias e projeto as populações começassem a identificar-se mediante a distribuição regular de fliers nos espaços de grande concentração de cidadãos.
Tratava-se, pois, de manter acesa uma chama, que andou a brilhar intensamente em muitas alturas do último ano e meio. Porque tempos novos exigem outras metodologias, mais imaginativas do que as comummente utilizadas há décadas.
Infelizmente não houve ainda massa crítica para a levar por diante nesta ocasião. Mas fica aqui a receita para quem a sinta com potencial para obter  os almejados resultados noutras freguesias e concelhos do país.

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