terça-feira, 22 de março de 2016

Quatro quadras soltas

1. Será que iremos saber esta terça-feira, quando haverá alguma resolução sobre o caso que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates? É que, depois de, em novembro de 2014, ter alegado existir “fortes indícios” de crimes de corrupção e vangloriar-se de contar com “prova consolidada” nove meses depois, o procurador Rosário Teixeira, não dá mostras de se ver com mais do que uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma para convencer o país em como a sua ação justicialista mais não visava do que impedir o PS de ganhar as legislativas de 2015 e de travar a eventualidade de um possível candidato às presidenciais. Se essa ação contou com mais do que o respaldo passivo de Joana Marques Vidal, cujo progenitor já fora um tenaz conspirador contra o Partido Socialista, é algo que só o futuro esclarecerá.
Por ora prossegue a “tortura lenta” que, segundo Pedro Delille tem sido imposta ao seu cliente em total violação dos direitos, liberdades e garantias constitucionais, que lhe deveriam estar reconhecidas. A começar pelo respeito à presunção da sua inocência.
Se no final de toda esta tragicomédia o processo for arquivado, quem pagará o custo de um inacreditável assassinato político através da torpe utilização da justiça e de pasquins de sarjeta?
2. Depois de tanto apostarem no rápido fracasso da solução governativa saída das mais recentes eleições legislativas, até os comentadores mais alinhados com o ex-PàF reconhecem a forte probabilidade deste ciclo político perdurar até pelo menos às eleições autárquicas de outubro de 2017. Nessa altura será interessante constatar como se revelará a inexcedível inteligência de António Costa em gerir uma situação em que deverá defender a primazia do PS à frente dos atuais 150 das 308 concelhos do país, perante uma direita que pretenderá ter alguma vitória capaz de desmentir o seu merecido ocaso e um PCP que ansiará por recuperar bastiões perdidos no passado mais remoto.
Não faço ideia como a liderança socialista fará a gestão deste processo mas, como militante, gostaria de ver operacionalizarem-se muitas coligações de esquerda constituídas pelos quatro partidos parlamentares comprometidos com o atual governo para conseguirem o resultado mais almejado: a redução drástica da influência da direita à frente dos municípios do país.
3. Carlos César está a consolidar-se como o grande Presidente do Partido Socialista de que este carecia no atual momento histórico. Sibilino nas intervenções, consegue apresentar argumentos definitivos contra uma direita incapaz de os desarticular. A respeito do comportamento do PSD na discussão sobre o Orçamento ele colocou as perguntas certas dificilmente respondíveis por qualquer dirigente laranja: como julgou Passos Coelho defender quem o elegeu optando por tal estratégia? Porque escusou-se a cumprir o mandato para que foi eleito?
Manifestamente César tem plena razão quando sinalizou o PSD à porta da Democracia.
4. Tenho por mim que perante uma Constituição bem explicita quanto ao direito dos cidadãos à Saúde Pública de forma universal, e tendencialmente gratuita, não se compreende a continuação da ADSE, tendo em conta a forma como transfere recursos do Estado para sistemas privados, que de outra forma nem sequer seriam sustentáveis. E, muito menos será de levar a sério a proposta do CDS, que queria disponibilizar esse sistema de saúde a todos os portugueses que para ele se pretendessem quotizar: é que caminharíamos inevitavelmente para uma situação em que a saúde pública de equívoca qualidade ficaria reservada para os mais desvalidos, enquanto os mais abonados contariam com serviços mais fiáveis graças aos recursos dos seguros de saúde em que se integrariam.
Reforçar qualitativamente o Serviço Nacional de Saúde é a única forma de a esquerda cumprir o seu programa político.

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