sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O Pós-Capitalismo e o desafio imposto à esquerda ocidental

A preguiça mental da direita, tema abordado em texto anterior, tem fundamento no que Paul Mason defende quanto a já estarmos na fase pós-capitalista da história humana. É que, segundo o título cuja tradução portuguesa estará em breve disponível nas livrarias - o neoliberalismo constituiu uma experiência falhada numa doutrina económica incapaz de se renovar.

O que distingue a fase atual do capitalismo das anteriores é a impossibilidade de contar com o fator de alavancagem para ressurgir das cinzas vaticinadas pelos ideólogos marxistas. Com a globalização o sistema já não consegue expandir-se e garantir um crescimento sem o qual está condenado a morrer. Ainda se a conquista espacial tivesse saído dos limites da ficção científica e ganho substância, a passagem da globalização para a universalização económica poderia dar novo fôlego a uma lógica assente no comércio livre e na angariação de mais-valias.
A financeirização da nossa organização económica só veio agudizar a inexistência de soluções para um neoliberalismo, que se negou a si mesmo, quando voltou a dar importância ao Estado, não enquanto regulador e corretor das desigualdades, mas como ferramenta indispensável para a defesa dos interesses plutocráticos de uma minoria desfasada das mais comezinhas realidades sociais.
Mason vem associar-se ao número crescente de pensadores para quem a situação se coloca nestes parâmetros: ou acabamos com o capitalismo para defender a Democracia ou aceitamos que ele transforme o planeta numa distopia marcada pela pobreza generalizada, pelo ambiente insalubre e pela explosão demográfica.
As soluções, que preconiza até vão mais longe do que as sugeridas por Thomas Piketty no seu «O Capital no século XXI»: preconiza a nacionalização de todos os setores fundamentais para a qualidade de vida das pessoas, desde o setor energético à banca, sem esquecer a saúde e a educação entendidos como obrigatoriamente gratuitos e universais.
Convenhamos que constatar a seriedade com que as publicações mais ortodoxas do capitalismo puro e duro encaram essas ideias demonstram como elas ganham pertinência e representatividade nos fenómenos políticos emergentes de que Corbyn em Inglaterra e Sanders nos EUA são os exemplos mais recentes.
É por tudo quanto está a suceder na esquerda ocidental, que se podem considerar anacrónicas as conceções de quantos, ainda dentro do Partido Socialista, teimam em pôr a cabeça na areia e continuam a julgar que as coisas continuarão a ser como são.
Não é verdade, e é por isso mesmo que António Costa inovou ao romper com hipóteses até então tidas como axiomas inquestionáveis, mas estilhaçados pela dinâmica política e social, que está a mudar o rosto ao país.
Quem se atreverá a voltar a invocar o «arco da governação» ou a ridícula ideia da superioridade da gestão privada sobre a nacionalizada?

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