segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O contexto de uma luta emergente

As revoluções mais determinantes na vida dos povos vão ocorrendo quase sem delas darmos conta por terem a ver com a lenta alteração do estado de alma coletivo.
É claro que as revoluções estudadas nos livros de História - desde a de 1789 em França até à de 1974 em Portugal - alteraram profundamente a realidade em que decorreram, muito embora os ganhos iniciais tenham-se perdido depois por força da reação de quem por elas fora prejudicado. Foi por isso que houve quem conjeturasse que se dão sempre dois passos em frente e outro à retaguarda.
Nesta altura a maior contestação ao capitalismo crepuscular em que vivemos vai fazendo o seu caminho nos que já chegaram à conclusão da urgência em pôr cobro à impunidade dos bancos nos últimos anos. É isso que explica o inesperado sucesso da campanha de Bernie Sanders nas eleições primárias norte-americanas ou o crescimento de forças políticas mais à esquerda dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus.
Perante a incapacidade das forças políticas presentes na governação dos respetivos países, em compreenderem e atacarem esse fenómeno, criam-se as condições para a alteração substancial dos mapas políticos atuais e a emergência de fenómenos com tendência para se implantarem duradouramente.
É certo que surgem, igualmente, condições favoráveis para a irrupção de populismos inconsequentes como o de Beppe Grillo em Itália e o dos eurocéticos ingleses ou até de forças fascistas como as que (des)governam a Hungria e a Polónia e prometem afirmar-se em França.
Mas, incapazes de cumprirem as expectativas de quem as apoia, e esgotado o discurso xenófobo, não tardarão a ser atiradas para o caixote do lixo e dão lugar a outras propostas mais democráticas.
Acredito, pois, que será o discurso anticapitalista a prevalecer, tanto mais que a plutocracia financeira tende a minguar em número, justificando uma indignação crescente de quem lhes paga a excessiva ganância.
Olhando para os números disponíveis, de há oito anos para cá a banca nacional custou ao país 12,1% do PIB. Na Holanda foram 12,8% e na Alemanha 11,8%. E, só em 2016, a zona euro vai pagar ao setor financeiro 252 mil milhões a título de juros.
Quer isto dizer que, para resgatar bancos falidos, os Estados estão a pagar aos que conseguiram sobreviver os meios necessários para prosseguirem com o mesmo tipo de comportamento especulativo.
As últimas décadas, com a desregulação dos sistemas bancários e a miscigenação entre a banca comercial e a de investimento, inverteu a regra fundamental do capitalismo em que eram os bancos a fazer funcionar a economia através dos créditos aos seus investimentos. Agora, pelo contrário, é a exaurida economia, afetada por juros insuportáveis, a financiar um sistema financeiro em roda livre.
Acresce que vão-se conhecendo os casos de quem ganhou fortunas obscenas com todas as perturbações ocorridas nos últimos anos e as acautelou em paraísos fiscais. Dinheiro que tanta falta faria para investir na economia real e devolver crescimento à economia mundial paralisada com os efeitos dessa financeirização.
É neste contexto que está a ocorrer o combate decisivo entre António Costa e Carlos Costa. É que, para dar cumprimento às expetativas da Agenda para a Década, o país precisa de crescer e o atual governador do Banco de Portugal é um dos maiores obstáculos a que o setor financeiro seja reorientado para a sua verdadeira função.
O comportamento negligente e incompetente, para não falar da aceitação do papel de testa-de-ferro à estratégia política de Passos Coelho tornam-no letal para o futuro dos portugueses. Daí que se deseje que saia pelo seu pé ou a pontapé se for necessário. Nem que para tal se force o conhecimento do relatório encomendado a uma empresa de consultoria e cujo conteúdo quer manter fechado a sete chaves no seu gabinete...


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