quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O caminho que se faz a andar

A discussão do Orçamento Geral do Estado constituiu um momento alto da Democracia portuguesa, por ter sido a primeira vez em quarenta anos, que toda a esquerda se uniu na aprovação do documento fundamental para tornar possível a governação de um Executivo da sua confiança. Assim se desmentiu, uma vez mais, essa direita ressabiada, que vai emitindo sucessivos palpites apocalíticos e todos eles esbarram numa realidade invariavelmente bonançosa para António Costa.
Passos Coelho & Cª lembram a história do Pedro e do Lobo: tantas vezes avisam vir aí a besta cruel, que poucos o acreditarão num futuro próximo. Depois da suposta inevitabilidade de uma rutura a curto prazo entre o PS e as demais forças da esquerda parlamentar, o “lobo” passou a ser a Comissão Europeia, que nunca deixaria passar o Orçamento. A rábula de idêntica probabilidade para a apreciação do Eurogrupo não durou um dia.
Agora a mesma estratégia de semear o medo transitou para abril, quando a agência de notação canadiana anunciar a revisão da classificação da dívida portuguesa. Mas, como os seus técnicos têm reiterado o conforto com a decisão de deixar tudo como está, as perspetivas apresentam-se pouco risonhas para a direita!
Sobra enfim a obrigatória apresentação do novo PEC, mas com todos os países a entrega-lo na mesma altura, o que justificaria uma atenção particular à situação portuguesa, quando existem outras bem mais inquietantes, como acontece com a Itália?
Para quem viu o debate do Orçamento o mais estranho foi a direita alternar entre a condenação da excessiva liberalidade despesista do governo e a sua imputação com o selo da austeridade. Como se fizesse algum sentido declarar no mesmo discurso uma coisa e o seu contrário.
Embora ainda agora a procissão vá no adro, crescem as expetativas de a ver, duradoura, a cumprir todo o seu percurso previsto. É que, além de contar com líderes mais pragmáticos do que alguma vez havia sucedido até agora, a esquerda parlamentar sabe bem quanto depende da satisfação das aspirações dos eleitores para assegurar a sua sobrevivência comum. Um equilíbrio de interesses, que tem tudo para dar certo...

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