segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Será a 4ª Revolução Industrial uma falácia?

Aproveitando o ensejo de estar iminente um novo Encontro de Davos, através do qual a elite financeira e política mundial promete refletir sobre a Quarta Revolução Industrial, o “The Economist” desta semana traz um excelente texto sobre um livro acabado de publicar nos EUA e que tende a desmentir o otimismo do organizador desse evento. É que Klaus Schwab não faz a coisa por menos: para ele essa Quarta Revolução alterará não só o que as pessoas fazem, mas também o que intrinsecamente são.
Robert Gordon, o autor de «The Rise and Fall of American Growth» (Princeton University Press), já era conhecido por três teses iconoclastas por ele assumidas na Northwest University, onde é professor:
1. a revolução suscitada pela Internet é um mero efeito de moda;
2. a melhor forma para analisar esse efeito de moda é compará-lo com a transformação ocorrida na América depois da Guerra Civil, quando o automóvel e a eletricidade entraram na vida da maioria das pessoas;
3. a Idade do Ouro do crescimento económico já era.
No seu livro ele explica essas teses, demonstrando as razões porque o crescimento económico foi tão significativo nas primeiras sete décadas do século XX e gripou a partir de então.
Gordon lembra que as transformações tecnológicas do final do século XIX transformaram o mundo: para a generalidade dos europeus e dos norte-americanos a velocidade era, então, definida pela do trote dos cavalos e os dias duravam enquanto o sol permanecia acima da linha do horizonte.
A invenção da eletricidade trouxe luz à noite e o telefone encurtou as distâncias. Os eletrodomésticos tenderam a libertar as mulheres da escravatura doméstica e as vias férreas cruzaram continentes.
Só entre 1870 e 1900 aplicaram-se 36 quilómetros diários de novas ligações ferroviárias.
Entre 1912 e 1930 o preço dos carros baixou 63%, fazendo com que os seus detentores aumentassem de 2 para 90% nos EUA nesse intervalo de tempo.
Quanto ao telefone os norte-americanos tinham 4 vezes mais aparelhos do que os britânicos em 1900, sendo ainda mais abissal a diferença para o alemães (seis vezes) ou para os franceses (vinte vezes). Só em 1948 é que estes últimos conseguiram atingir o patamar do nº de carros e da utilização da eletricidade atingido pelos EUA em 1912.
Pelo meio a Grande Depressão refreara o ritmo de crescimento, mas os anos 30 seriam os de uma enorme explosão de novas patentes e invenções.
A Segunda Guerra Mundial só acelerou a máquina produtiva americana que, com o fim do conflito, conseguiu impor a nova ordem económica global instituída com o Plano Marshall e os Acordos de Bretton Woods.
Até que, nos anos 70, esse crescimento começou a declinar, primeiro com a concorrência japonesa, e depois com a crise do petróleo.
Se entre 1920 e 1970 o crescimento da produtividade fora de 2,82% por ano, ele caiu para 1,62% entre 1970 e 2014.
Gordon não acredita que a revolução tecnológica atual resgate a América da presente estagnação, concordando com Peter Thiel na fórmula: nós queríamos carros voadores e só tivemos o direito aos 140 carateres do twitter.
Qualquer ganho decorrente da Revolução das Tecnologias de Informação já se esgotou e o que fica é a incapacidade do sistema capitalista para manter aquilo que é a condição sine qua non da sua sobrevivência: esse mirífico crescimento económico.

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