quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Comentadores, jornais e comissões bancárias

1. Enquanto o argumento rendeu algum sucesso junto da opinião pública, a maioria dos comentadores televisivos explorou até à exaustão a “falta de experiência política” de Sampaio da Nóvoa, que o tornaria inadequado para a função presidencial.
O problema colocou-se, quando começaram a surgir algumas perplexidades relativamente a esse argumento falacioso: de que nos valeu a enorme “experiência política” de Cavaco Silva, se foi o cúmplice ativo do austericídio dos últimos quatro anos? E Marcelo Rebelo de Sousa não apresenta como currículo político apenas um ano de secretário de estado e outro de ministro?
E ainda mais se complicou para tais comentadores, quando Sampaio da Nóvoa derrotou claramente Marcelo no debate visto por milhão e meio de portugueses e começou a encher salas com centenas de apoiantes por todos os sítios por onde tem passado.
Agora o argumento dos apoiantes do candidato de Passos Coelho, de Paulo Portas, de Durão Barroso ou de Alberto João Jardim, passou a ser outro: a campanha está a ser “aborrecida”, os candidatos “não dizem nada de interesse” e o que  importa é despachar a eleição logo à primeira volta.
2. A crise na imprensa escrita parece não ter fim, com notícias sucessivas de mais despedimentos no setor. O que leva Rui Bebiano a colocar a questão, de forma muito oportuna no seu blogue: “não se percebe que, num país com razoável nível de literacia básica, e no qual cerca de 60% dos cidadãos vota claramente à esquerda, não exista imprensa que, mantendo-se plural, reflita os interesses e as expetativas, a visão do mundo e o padrão de exigência nas questões sociais e culturais, que este segmento social de alguma forma partilha.”
Ora, de facto,  eu próprio me queixo do mesmo: as saudades, que sinto de um projeto jornalístico tão estimulante quanto o foi «O Jornal», feito da cooperação de alguns dos melhores profissionais de então!
Hoje, para conseguir ler alguma coisa de estimulante tenho de me deparar com a indigência mental dos vascos pulidos valentes, dos joões miguéis tavares ou dos henriques monteiros, que insultam a nossa inteligência com prosas merecedoras da nossa superior indiferença…
3. Os últimos dias têm sido férteis em debates parlamentares, que acentuaram a estratificação do hemiciclo entre a esquerda e a direita, dada a cegueira ideológica desta última em defender o que é verdadeiramente indefensável, a começar pela política (des)educativa de Nuno Crato.
O fim dos exames do 4º e do 6º ano coloca uma pedra definitiva sobre uma das experiências mais absurdas, que o país conheceu nos últimos anos ao querer impor uma cultura de seletividade  em idades precoces, secundarizando o papel fundamental da escola: o de ensinar em vez de examinar.
Mas a mesma falta de lógica da direita foi aplicada ao fim das comissões bancárias nas contas dos seus clientes.
Supostamente o negócio dos bancos é o de captarem dinheiros particulares e aplica-los com rentabilidade, nada cobrando a quem os está verdadeiramente a financiar. Mas, incapazes de promoverem o desenvolvimento económico mediante empréstimos em negócios viáveis, os bancos conseguem garantir parte substancial das suas receitas nas comissões impostas aos clientes só para lhes “guardarem” o dinheiro!
A isso chama-se saque e a esquerda no seu todo tratou de o ilegalizar! 

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