quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A luta entre o novo e o velho dentro do PS (cont.)

Retomando o tema da luta entre o novo e o velho nos partidos socialistas europeus é bom de ver o que resultou da preponderância deste último sobre os fenómenos políticos emergentes nas respetivas sociedades em dois países concretos: na Grécia, e perante a escalada eleitoral do Syriza, o PASOK não soube responder eficazmente e grupusculizou-se; na França, e com um fenómeno similar na extrema-direita - a Frente Nacional de Marine Le Pen -, a dupla Hollande-Valls optou por lhe copiar as políticas e os valores e o resultado deverá, infelizmente, ser similar ao do partido de Venizelos.
Para os socialistas europeus mais lúcidos a crise por que passam os seus partidos só pode ser superada se, em vez de alianças com a direita, como propõem Francisco Assis ou Felipe Gonzalez, eles retomarem os valores da sua matriz original, lendo o estado da luta de classes nas respetivas sociedades e optando pela defesa dos que estão suficientemente indignados e mobilizados para a transformação de uma realidade feita de desemprego, de estagnação económica e de falta de oportunidades para os mais jovens.
Foi com a consciência de novos contextos exigirem estratégias diferentes de todas quantas se tinham anteriormente ensaiado, que António Costa fez a campanha para as legislativas e, depois, constatados os resultados e as reações dos outros partidos de esquerda, avançou para a atual solução governativa. Iniciou-se, assim, o “tempo novo” de que Sampaio da Nóvoa foi entusiasmante arauto na eleição presidencial.
Infelizmente muitos socialistas não entenderam a importância de garantir o respaldo dessa nova política a partir do mais alto cargo da nação e, ora apoiaram a candidatura sediciosa de Maria de Belém cujo objetivo era manifestamente o de reverter a vitória de António Costa nas Primárias do ano anterior, ora alhearam-se do esforço necessário para tornar essa candidatura vitoriosa perante o rolo compressor do comunicador-mor da TVI.
O facto de não se ter conseguido vencer esta batalha não significa que baixemos os braços e deixemos o atual governo isolado perante a feroz campanha lançada externa, e internamente, com o objetivo de devolver o poder à direita austeritária.
Importa, pois, dar força ao PS, que está a ser reaferido  pelo seu Secretariado e pela grande maioria da sua Comissão Nacional, onde preponderam os que estão sintonizados com a liderança. É que o sucesso deste “tempo novo” depende não só da competência do governo em vencer os exigentes obstáculos colocados pela evolução da conjuntura, mas também da mobilização da sua base de apoio nas secções locais,  nas concelhias e nas distritais.  Essa mobilização significa criar formas inovadoras de atrair os independentes, que participaram nas primárias, mas não se sentiram estimulados para estreitar ainda mais a ligação ao Partido. E, sobretudo, saber cativar os mais jovens, que só o Bloco de Esquerda anda a conseguir seduzir para as suas propostas políticas.
Tenho ouvido gente conotada com a forma cristalizada de se ser PS (os tais velhos em ideologia, que não em idade, porquanto nesse aspeto, Mário Soares conseguiu ser muito mais arguto do que, por exemplo, um Sérgio Sousa Pinto!), acusar o Bloco de ser populista.
Na perspetiva deles sê-lo-á, mas obtém resultados. E a realidade mostra que a ala dos chamados jovens turcos têm muito mais afinidades com alguns dos principais dirigentes dessa esquerda parlamentar do que com alguns dos colegas de bancada. É que os conotados com o que designo como “novo” conseguiram sentar-se aos ombros dos gigantes - de que o referido Mário Soares é o melhor exemplo - e conseguem divisar mais ao longe. Enquanto os que apoiaram Seguro e Belém andam cada vez mais rasteirinhos a ver tão só o que está mais ao alcance da sua incurável miopia.

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