domingo, 31 de janeiro de 2016

O PS e as próximas eleições: quem previu a derrota como certa?

Passou uma semana sobre a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na eleição presidencial e não faltou quem nela visse uma grande derrota do Partido Socialista. As televisões foram inundadas de doutas opiniões, que sublinharam as sucessivas derrotas eleitorais socialistas, que adivinhariam um crepúsculo cada vez mais sombrio para um dos partidos estruturantes da nossa Democracia. E não faltou o inefável Álvaro Beleza a ajudar à festa, alertando para a urgência em arrepiar caminho - o que implicitamente só pode significar a mudança de alianças políticas, abandonando as firmadas com o Bloco, com o PCP e com os Verdes, para as formar com a direita - sob pena de tal destino se confirmar.
Daí a razão de ser da minha oposição como militante de base do PS, à lógica de unidade com quem não compreendeu ou compreendeu bem demais o que significava este “tempo novo” anunciado por Sampaio da Nóvoa.
Este último ano e meio, entre a disponibilização de António Costa para a liderança e a eleição de 24 de janeiro, permitiu um claro separar de águas entre quem quer um PS moderno, combativo e apostado nos valores matriciais da Igualdade, da Justiça e da Fraternidade, e os que se deixaram ficar num outro tempo e já não têm pedalada para acompanhar a dinâmica da nova geração de dirigentes, que acolitam António Costa na atual direção do partido.
Foram estes protagonistas do tempo “velho”  quem se coligaram na candidatura de Maria de Belém: os que compreendendo bem o que significa o “tempo novo” e o querem obstacularizar, e que tinham em António José Seguro o seu testa-de-ferro. Álvaro Beleza, porventura o seu mais arguto guru, tinha nesse líder o veículo ideal para cumprir o sonho de transformação do Partido Socialista, de acordo com as ideias que o fazem regularmente, e há muitos anos, pré-candidato a secretário-geral do PS.
Se por absurdo ele viesse a ser ungido nessa função, teríamos um cenário semelhante ao atual PS francês (mal) conduzido por Manuel Valls, que ambicionava mudar-lhe o nome por achar «Socialista» um termo fora de moda. A anunciada derrota clamorosa do Partido nas próximas eleições - se não houver quem ponha cobro à sua deriva direitista! - elucida bem a pasokização que atingiria o PS.
Mas a tal clarificação entre quem aposta no PS, que a grande maioria dos seus militantes e simpatizante, ambiciona ver, e os que teimam em amarrá-lo à lógica clientelar anterior, foi bem evidente no comportamento quanto à candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Os que vislumbraram os valores comuns do governo de António Costa e os que estavam bem sintetizados na Carta de Princípios do antigo reitor da Universidade de Lisboa, deram o litro para que ele fosse eleito. Fundaram Núcleos um pouco por todo o país e investiram muito do seu tempo e dinheiro para que a direita não tivesse novo inquilino em Belém. Porque compreenderam que, mesmo com pele de cordeiro, ali se acoitará em breve um astuto lobo com cujas intrigas há a contar proximamente a cada esquina da governação. Os outros, os que apostaram na humilhante proposta de Maria de Belém ou se mantiveram comodamente instalados nas suas pantufas, mostraram que dificilmente se poderá contar com eles.
É por isso mesmo que não me assustam as promessas de derrotas rotundas do PS no futuro próximo e a médio prazo. Da dinâmica criada em torno dos Núcleos SNAP surgiram vontades indómitas, que querem ver o «tempo novo» frutificar. E esse é um mau sinal para a direita, ela sim condenada a longa travessia no deserto, se António Costa tiver sucesso inquestionável na sua governação. 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Invariantemente limitados

Na mais recente edição do «Expresso da Meia-Noite» o deputado Paulo Trigo Pereira não conseguiu disfarçar o enfado perante a ignorância dos interlocutores, entre os quais estava o inefável José Gomes Ferreira. Mas o painel ainda contava com um dos secretários de estado de Marilú e com um dos diretores adjuntos do «Diário Económico».
Em causa estava o Orçamento em que Trigo Pereira via todos os oponentes a zurzirem no draft com a repetição até à náusea dos argumentos já conhecidos de Teodora Cardoso e da UTAO.
Explicava professoralmente Trigo Pereira que os demais estavam a incorrer numa lógica cristalizada, porque partia da realidade presente e vendo-a invariante durante toda a execução orçamental já condicionada pelas medidas nela previstas para o aumento do consumo interno, a limitação do endividamento com produtos importados (sobretudo os automóveis) e uma conjuntura internacional caracterizada pelo crescimento dos principais mercados para onde exportamos os nossos bens transacionáveis.
Já não sei que interlocutor questionou Trigo Pereira se quem integra a UTAO não lhe merece crédito e ele respondeu lapidarmente que existem cá fora economistas de tão ou maior valia dos que estão nessa unidade da Assembleia da República, capazes de lhe analisarem os erros de apreciação do Orçamento. Só não conseguem é competir com igual eficácia à capacidade da UTAO ver  divulgados os seus erros tão profusamente por toda a comunicação social.
Mas, já de manhã, António Costa pusera Passos Coelho entre a espada e a parede para confessar se tinha tido ou não o mesmo discurso em Portugal e em Bruxelas relativamente à duração - permanente ou temporária - de algumas das medidas agora revertidas pelo atual Governo. É que, sendo temporárias, não poderiam contar para o tal défice estrutural, que Bruxelas insiste em ser bastante mais exigente do que com o governo anterior.
Quer isto dizer que António Costa estará condenado a cumprir o mesmo calvário já conhecido por Tsipras? Claro que não! Por um lado a Comissão Europeia, com muitas das posições assumidas por Juncker, já deu trunfos bastantes a Centeno para sustentar uma sólida argumentação na resposta à carta a enviar neste fim-de-semana. Mas, é admissível que, para não perder a face, Bruxelas solicite algum recuo a Costa e para o qual ele, como bom negociador, já se precaveu.
O importante é contarmos hoje em Portugal com um governo para o qual a prioridade será sempre o cumprimento dos compromissos firmados com os seus cidadãos. 

A direita quer lá saber de modernização administrativa!?

A modernização e a descentralização administrativa do Estado integram aquela que deverá ser uma das grandes marcas do governo de António Costa, sobretudo se cumprir o objetivo de durar toda a legislatura. A lógica do «menos Estado, melhor Estado», que a direita tanto gosta de proclamar sem querer passar da primeira metade da expressão, até faz sentido se isso significar o aprofundamento do Simplex e a criação de centros de competências, através dos quais os diversos ministérios utilizarão os mesmos especialistas para as áreas a eles respeitantes sem que os tenham incluídos na sua estrutura.
Um bom exemplo é o que se passa com os muitos milhares de euros gastos anualmente pelo Estado com os grandes consultórios de advocacia ou as empresas de consultoria, cujos serviços poderiam ser prestados por quadros do funcionalismo público com as competências necessárias para os executarem com idêntica eficiência.
Era este o tema ontem proposto por António Costa para o debate quinzenal com os deputados da Assembleia da República, mas a oposição da direita nem quis saber de tão relevante matéria, porque era do Orçamento de Estado para 2016, que pretendia falar, julgando nele encontrar matéria para disparar tiros certeiros contra o governo. O que não imaginava era a capacidade do primeiro-ministro para usar um intransponível escudo, que devolveu a ameaça à procedência.
O CDS foi rapidamente arrumado à box, com a nova terminologia para ele encontrada: neste novo ciclo, depois de já ter pretendido representar feirantes, velhinhos, contribuintes e sabe-se lá quem mais, converteu-se no «partido do automobilista», já que tanto o pareceu inquietar o imposto sobre os combustíveis.
Para despachar o PSD Carlos César lembraria a antecipação das receitas e o adiamento das despesas para 2016, os 260 milhões em défice no Serviço Nacional da Saúde, os dois milhões de pobres ou o escândalo da devolução da sobretaxa. Mas a estocada definitiva já fora dada anteriormente por António Costa, que não teve resposta, quando quis saber de Passos Coelho se prometera internamente a excecionalidade dos cortes nas reformas e nos vencimentos dos funcionários  públicos, e os dera como definitivos lá fora?
Com o tom de quem dá um conselho de amigo o primeiro-ministro até seria sobranceiro ao aconselhar o antecessor a deixar de ser um prisioneiro do passado, porque é no presente que a discussão politica se justifica.
 A ajudar à festa, e como resposta à expetativa do outro lado do hemiciclo em ver desagregada a convergência das esquerdas, quer Catarina Martins, quer Jerónimo de Sousa desmentiram-na não deixando de zurzir na falta de patriotismo demonstrado pela direita nestes últimos dias, quando tudo tem feito para amplificar o ruído proveniente de Bruxelas, quando é tempo de negociação entre o governo e a Comissão Europeia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A luta entre o novo e o velho dentro do PS (cont.)

Retomando o tema da luta entre o novo e o velho nos partidos socialistas europeus é bom de ver o que resultou da preponderância deste último sobre os fenómenos políticos emergentes nas respetivas sociedades em dois países concretos: na Grécia, e perante a escalada eleitoral do Syriza, o PASOK não soube responder eficazmente e grupusculizou-se; na França, e com um fenómeno similar na extrema-direita - a Frente Nacional de Marine Le Pen -, a dupla Hollande-Valls optou por lhe copiar as políticas e os valores e o resultado deverá, infelizmente, ser similar ao do partido de Venizelos.
Para os socialistas europeus mais lúcidos a crise por que passam os seus partidos só pode ser superada se, em vez de alianças com a direita, como propõem Francisco Assis ou Felipe Gonzalez, eles retomarem os valores da sua matriz original, lendo o estado da luta de classes nas respetivas sociedades e optando pela defesa dos que estão suficientemente indignados e mobilizados para a transformação de uma realidade feita de desemprego, de estagnação económica e de falta de oportunidades para os mais jovens.
Foi com a consciência de novos contextos exigirem estratégias diferentes de todas quantas se tinham anteriormente ensaiado, que António Costa fez a campanha para as legislativas e, depois, constatados os resultados e as reações dos outros partidos de esquerda, avançou para a atual solução governativa. Iniciou-se, assim, o “tempo novo” de que Sampaio da Nóvoa foi entusiasmante arauto na eleição presidencial.
Infelizmente muitos socialistas não entenderam a importância de garantir o respaldo dessa nova política a partir do mais alto cargo da nação e, ora apoiaram a candidatura sediciosa de Maria de Belém cujo objetivo era manifestamente o de reverter a vitória de António Costa nas Primárias do ano anterior, ora alhearam-se do esforço necessário para tornar essa candidatura vitoriosa perante o rolo compressor do comunicador-mor da TVI.
O facto de não se ter conseguido vencer esta batalha não significa que baixemos os braços e deixemos o atual governo isolado perante a feroz campanha lançada externa, e internamente, com o objetivo de devolver o poder à direita austeritária.
Importa, pois, dar força ao PS, que está a ser reaferido  pelo seu Secretariado e pela grande maioria da sua Comissão Nacional, onde preponderam os que estão sintonizados com a liderança. É que o sucesso deste “tempo novo” depende não só da competência do governo em vencer os exigentes obstáculos colocados pela evolução da conjuntura, mas também da mobilização da sua base de apoio nas secções locais,  nas concelhias e nas distritais.  Essa mobilização significa criar formas inovadoras de atrair os independentes, que participaram nas primárias, mas não se sentiram estimulados para estreitar ainda mais a ligação ao Partido. E, sobretudo, saber cativar os mais jovens, que só o Bloco de Esquerda anda a conseguir seduzir para as suas propostas políticas.
Tenho ouvido gente conotada com a forma cristalizada de se ser PS (os tais velhos em ideologia, que não em idade, porquanto nesse aspeto, Mário Soares conseguiu ser muito mais arguto do que, por exemplo, um Sérgio Sousa Pinto!), acusar o Bloco de ser populista.
Na perspetiva deles sê-lo-á, mas obtém resultados. E a realidade mostra que a ala dos chamados jovens turcos têm muito mais afinidades com alguns dos principais dirigentes dessa esquerda parlamentar do que com alguns dos colegas de bancada. É que os conotados com o que designo como “novo” conseguiram sentar-se aos ombros dos gigantes - de que o referido Mário Soares é o melhor exemplo - e conseguem divisar mais ao longe. Enquanto os que apoiaram Seguro e Belém andam cada vez mais rasteirinhos a ver tão só o que está mais ao alcance da sua incurável miopia.

A queda de Portugal nos rankings internacionais sobre políticas da saúde



Um dos ministros mais questionado quanto às políticas por si tuteladas tem sido Adalberto Campos Fernandes, sobretudo porque os cortes cegos no setor da Saúde têm causado dramas humanos, que devem ser denunciados e acrescentados à avultada conta social de Passos Coelho. Mas, se ainda faltassem indicadores sobre o descalabro verificado durante o período da gestão de Paulo Macedo (de quem ouvimos tantos elogios por gente tida como insuspeita!) aí está o relatório da organização Internacional Health Consumer Powerhouse, que mostra como apenas de 2014 para 2015, Portugal caiu sete posições no seu Índice de Assistência Médica Europeu: se as políticas desenvolvidas durante os governos de José Sócrates tinham permitido uma progressão sustentada em tal classificação, as de Passos Coelho  Cª foram responsáveis pela queda abrupta para a 20ª posição.
E, no entanto, ainda anda por aí a tecer loas a quem traz na consciência tantos danos diretos e colaterais da sua ação.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Quando é a comunicação social a ser notícia!

A comunicação social continua a ser notícia por ela mesma, o que é péssimo sinal: deveriam ser as notícias a focalizarem a nossa atenção e não a forma como elas são deturpadas.
Comecemos pela chegada dos técnicos da troika a Portugal. Desde a semana passada, que eles eram anunciados como arautos da desgraça, que iriam encostar o governo às cordas e fazê-lo arrenegar tudo quanto decidiu nestes dois meses, ou ver-se-expulso do poder por «indecente e má figura» relativamente aos omnipotentes mercados.
Afinal vieram uns técnicos de quinta categoria, que conferenciarão com outros de idêntica importância do ministério das Finanças.
Que diferença em relação a visitas anteriores em que as televisões seguiam-nos passo a passo e lhes davam a palavra perante as câmaras.  Agora, para manterem alguma continuidade na campanha de intimidação sobre o governo, as várias televisões viram-se obrigadas a repetir até à náusea as imagens do passado, quando os elementos da troika quase pareciam os astronautas da missão Apolo no filme «Os Eleitos», quando se preparavam para ser apresentados à imprensa da época.
A montanha pariu manifestamente um minúsculo rato!
Já de hoje foi a notícia de que a Comissão Europeia teria recusado o draft do orçamento enviado por Mário Centeno com as linhas macroeconómicas em que assenta o documento a ser-lhe em breve endereçado.
Foi ver Montenegro comprazer-se com o seu risinho tolo a convidar o Governo a recuar, mostrando como o povo tem razão, quando diz que o bom julgador por si se julga. É que Passos Coelho ajoelhava-se e cumpria tudo quanto lhe mandavam, enquanto António Costa é de uma outra fibra: exige que sejam cumpridas as regras de uma negociação digna desse nome. E o episódio de hoje mais não é do que um dos momentos desse terçar de armas entre um governo orgulhoso e determinado e uma Comissão dominada pela direita, mas fragilizada pelo rotundo fracasso das suas estratégias austeritárias.

A luta entre o velho e o novo no PCP e no PS

1. Nas suas «Máximas e Reflexões» Goethe constatava a inevitabilidade da luta incessante entre o velho e o novo. E Hegel entenderia esta realidade como uma Dialética em que de duas contradições sairia vencedora só uma delas, que, mais tarde ou mais cedo, suscitaria novas contradições. Assentaria nesse processo dinâmico a raiz da evolução das sociedades.
Ontem escrevi erradamente que a CGTP preparava a desconvocação da greve da Função Pública  no que indiciava a prevalência da sensatez comunista revelada na assinatura do acordo com o PS para a viabilização do governo de António Costa.
Afinal enganei-me, quando vi nessa leitura a vitória do pragmatismo sobre a cristalizada ortodoxia e o entendimento  relativamente às causas da fraca votação em Edgar Silva. É que a leitura feita pelo Comité Central pode ser correta - muitos dos seus eleitores preferiram Sampaio da Nóvoa (embora muitos outros tenham dado o salto para o outro lado e escolhido Marcelo!) - mas esquece o principal: os que, durante a campanha para as legislativas, incentivaram Jerónimo de Sousa a concretizar a coligação com a esquerda socialista, foram agora indiferentes à orientação do Partido  quanto ao candidato em quem deveriam votar. Constata-se uma redução do núcleo dos indefetíveis, aqueles que tapam as orelhas para ouvir alternativas e continuam a seguir religiosamente a cartilha do seu líder.
É por isso mesmo que prevejo um resultado muito comprometedor para Ana Avoila e Arménio Santos na forma de luta escolhida para esta semana: aposto em como muitos dos associados dos respetivos sindicatos darão o benefício da dúvida ao novo governo e ignorarão a convocatória da greve. Porque a recuperação dos rendimentos e as 35 horas estão-lhes garantidas, mesmo que com algum atraso em relação aos desejos dos seus dirigentes sindicais.
A incapacidade quanto à incompreensão do tempo novo em que vivemos levará a cúpula sindical do PCP a cometer erros crassos e contraproducentes para os seus objetivos futuros.
2. Mas a luta do novo contra o velho acontece também nos socialistas, e não só nos portugueses. É sabido que os barões do PSOE andam a pressionar Pedro Sanchez a não avançar para um governo semelhante do do seu vizinho ibérico. Como sucedeu com os barões do PS nos dias seguintes às eleições legislativas de 4 de outubro quando, pela voz de Francisco Assis, aconselhavam António Costa a estender o tapete vermelho à recondução de Passos Coelho.
Foi, pois, com a maior das naturalidades que, mesmo tendo apoiado Costa nas primárias contra Seguro, eles tenham revelado a incompreensão deste tempo novo apoiando Maria de Belém na sua sabotagem à estratégia delineada pela Direção Nacional do PS para contarmos com um Presidente de excelência em Belém.
Jorge Coelho tem razão quando considera injusta a colagem de segurismo à candidatura de Maria de Belém. Porque quem verdadeiramente a apoiava era o lado «velho» do PS de que o segurismo era apenas uma das componentes. Para os Veras Jardins, os Belezas, os Albertos Martins e  seus compinchas, este PS do tempo novo, assusta porque constitui a expressão de uma forma nova de fazer política sem clientelismos e com abertura aos que, de fora, são capazes de contribuír para a sua renovação.
Só é pena que Manuel Alegre, que foi um dos primeiros a saudar a crescente importância dos «jovens turcos» (Pedro Nuno Santos, João Galamba, Fernando Medina e outros excelentes políticos dessa geração), seja agora um dos mais amedrontados com a sua afirmação.

"Obrigado" significa mantermos viva a chamado tempo novo!

Eu sei bem que, anteontem, o Prof. Sampaio da Nóvoa deu por concluído o seu projeto de candidatura a Belém decidindo retomar a sua atividade académica.
Não está em causa questionarmos a legitimidade dessa intenção ou a de aceitarmos Marcelo Rebelo de Sousa como nosso Presidente nos próximos cinco anos.
Mas ficam muitos «no entantos», que justificam atitude diferente dos muitos milhares de apoiantes, que se associaram aos Núcleos de todo o país para concretizar a visão estratégica do «tempo novo» tão presente nos discursos do seu candidato.
Por um lado esse tempo novo não foi posto em causa com a votação do domingo transato. Ele consubstanciava-se no acordo das esquerdas para a governação da equipa ministerial de António Costa, que persiste sólido apesar da falta de respaldo do seu mais genuíno intérprete no topo das funções do Estado.
Por outro lado há a considerar a vontade de prosseguir esta dinâmica, por muitos que retomaram a militância ativa nesta causa, porque ela a merecia, e não se sentem ainda enquadráveis numa estrutura partidária, justificando-se assim uma alternativa de intervenção cívica mais aberta capaz de os mobilizar para os desafios vindouros.
Há ainda a considerar que, desde a eleição de António Costa como secretário-geral do PS em primárias - onde foi relevante a participação de muitos simpatizantes, que não se sentiram dispostos a passar para a condição de aderentes -, ficou demonstrada a necessidade de interligar o partido com associações onde tenham relevância os que se definem como independentes, mesmo que assumidos «compagnons de route».
Acresce, enfim, a necessidade de criar formas imaginativas de trazer novamente para a política os que dela descreem ou se definem como indiferentes.
É tudo isso que justifica o lançamento de movimentos cívicos  descentralizados e inspirados na Carta de Princípios da Candidatura de Sampaio da Nóvoa. Eles podem organizar tertúlias, debates, conferências, colóquios, e outros modelos de participação pública capaz de atrair um número crescente de portugueses para os desafios da cidadania responsável.
Trata-se de incentivar os abúlicos a abandonarem a pulsão abstencionista para participarem nos destinos de país como eleitores. E, almejando ir mais longe, conseguir que de eleitores passivos, apenas estimulados para manifestarem as suas opções de quatro em quatro anos nas legislativas e nas autárquicas, e  de cinco em cinco anos nas presidenciais, sejam convencidos a sair das suas tamanquinhas e, em partidos, associações e outras organizações sociais e políticas, darem o contributo do seu esforço e da sua mundividência para ela se revelar mais arguta e solidária.
É nesse sentido que o melhor Obrigado, que podemos dar ao Prof. Sampaio da Nóvoa pelas vivências exaltantes destes últimos meses, é não deixar esmorecer a chama e realimentá-la com a determinação de sermos parte ativa na transformação do mundo no sentido de uma maior justiça e igualdade entre os cidadãos.
No fundo é aceitarmos que a História tem a sua própria dinâmica, mas cabe a nós reaferi-la na direção mais aproximada dos valores que defendemos.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Quase inofensivas, as melgas ainda são muito chatas!

Não será propriamente um acaso que a interpretação dos resultados eleitorais pela direita e pelos sobreviventes do segurismo tenham coincidido: na prática eles navegam nas mesmas águas e terão interesse óbvio em fazer passar a ideia de uma grande derrota socialista.
Ouvem-se até coisas extraordinárias: ora lamentam a marginalização a que terão sido sujeitos por quem liderava a campanha de Maria de Belém, como se a sua colaboração tivesse-a conduzido a uma grande vitória sobre Marcelo e sobre Sampaio da Nóvoa, ora suportam os argumentos na soma aritmética da percentagem da antiga presidente segurista e do ex-reitor da Universidade de Lisboa.
Passado quase ano e meio sobre a grande derrota nas primárias, Álvaro Beleza ainda se atreve a pôr em bicos dos pés sempre que julga chegado o momento de ofender a inteligência da enorme maioria dos socialistas. Numa altura em que Henrique Neto parece, enfim, disposto a desvincular-se de um partido com que não tinha qualquer afinidade, podemo-nos perguntar o que ainda nele faz o último moicano de uma guerra definitivamente perdida.
Na mais recente «Quadratura do Círculo», Jorge Coelho pedia que se fizesse justiça a António José Seguro por nunca mais ter opinado na vida pública desde a noite da sua derrota.  Podemos, e até devemos tê-lo em conta, mas a verdade é subsistir um segurismo sem Seguro, que é cada vez menos nocivo, mas ainda incomoda.
Mas estes dias têm-se revelado assaz interessantes para os criadores de enredos na comunicação social. Outro bom exemplo tem  a ver com a previsão de muitos comentadores quanto a uma iminente reação da CGTP contra o governo, para dar ao PCP prova de vida depois do seu resultado eleitoral. Afinal nem a greve prevista para sexta-feira se verificará, com os sindicatos da função pública a desconvoca-la. É que o atestado de estupidez, que pretendiam passar aos comunistas revelou-se inconsequente, já que a leitura por estes feita do resultado de Edgar Silva não coincide em nada com essa vontade inconfessada de muitos em ver abreviada a vida do governo de António Costa.
Como Nicolau Santos escreveu no «Expresso» o primeiro-ministro “deve estar muito preocupado, deve”, com os resultados de domingo. Afinal os que mais se identificaram com o rumo por si traçado (Sampaio da Nóvoa e Marcelo) foram os mais votados, logo seguidos pela candidata (Marisa), que com ele se revelou cúmplice, quanto mais não seja por omissão. Quanto aos que mais o causticaram  diretamente (Henrique Neto) ou por essa mesma omissão (Maria de Belém) tiveram os resultados, que se viram.
A “derrota” lida por muitos acabou por ser uma enorme vitória de António Costa, mesmo que, no íntimo, desejasse ter por parceiro em Belém um Presidente muito mais identificado com a sua visão estratégica para o país...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

António Costa e a liderança do PS

Houve quem visse na intervenção de Ana Catarina Mendes a propósito do resultado das eleições presidenciais, um inquietante alheamento de António Costa relativamente ao Partido, sendo esse o caminho certo para o deixar resvalar para a irrelevância.
Pacheco Pereira foi um dos que alinhou nessa tese, quando tudo aponta para o contrário: foi, precisamente, para evitar essa subalternização do Partido em relação ao governo, que António Costa criou o cargo de secretário-geral adjunto com a missão óbvia de o manter motivado e ativo na sua intervenção.
E ninguém melhor do que Ana Catarina Mendes para desempenhar essa exigente tarefa: além da proximidade conhecida com o primeiro-ministro, de quem tem sido colaboradora imprescindível no último ano e meio, ela tem adquirido uma importância política cada vez maior ou não tivesse conseguido retirar aos seguristas uma das distritais por eles tidas como solidamente alinhadas consigo.
Ademais, numa altura em que a sociedade portuguesa tende a valorizar o papel da mulher na política - e não é por acaso que Marisa Matias conseguiu a votação de ontem ou que o CDS se prepare para entronizar Assunção Cristas - é fundamental que o PS apresente como seu líder atual a deputada de Setúbal.
A opção de António Costa em dar a Ana Catarina Mendes o merecido protagonismo, enquanto porta-voz da posição do Partido, reagindo depois aos resultados como primeiro-ministro, teve, igualmente, o condão de, muito inteligentemente, se colocar num patamar acima de Passos Coelho que, pouco antes, discursara ao nível do mesmo estatuto que a líder do PS.

Os comunistas e a eleição presidencial

Existe uma vontade enorme da maioria dos comentadores televisivos em verem frustrados os acordos entre o PS de António Costa e os outros partidos da esquerda parlamentar.
Acaso isso sucedesse, não só eles ficariam confortados na tese do «viram o que eu tinha dito!», mas, sobretudo, julgariam premiada pela realidade o suplemento de conforto entretanto facultado a quem lhes paga as lentilhas.
Por isso mesmo, na noite de ontem repetiram-se as milhentas previsões sobre um PCP a lamber as feridas da derrota de Edgar Silva, e a pôr na rua a CGTP em campanha de afirmação e de hostilização contra as políticas do governo. Nessa perspetiva António Costa estaria em breve a contas com sérias dificuldades negociais com um dos partidos, que o apoia na Assembleia da República.
No entanto, o Nuno Saraiva, do «Diário de Notícias» veio constatar o óbvio: enquanto Marisa Matias fez uma campanha excelente em que nunca emitiu críticas ao governo, Edgar Silva primou pelo contrário, verbalizando uma inexistente semelhança entre António Costa e os seus antecessores.
Fica, pois, a questão: o PCP, que aprendera a lição das legislativas em que tanta gente na rua instou Jerónimo de Sousa a fazer uma aliança de esquerda, teve no seu candidato o exemplo lapidar dessa negação.
Ademais o próprio Marcelo só terá sido eleito por ter-se proclamado mais costista do que o próprio António Costa durante a campanha. Tivesse ele prometido cumprir os desejos de dissolução do parlamento como gostariam de ouvir Passos ou Portas e, a esta hora, estaria em vias de repetir o fracasso de Freitas do Amaral há trinta anos atrás.
Tudo indica, pois, que os eleitores sentem-se tranquilos quanto à solução governativa atual e o que menos desejam é a instabilidade secretamente almejada pelos tais comentadores. E Marcelo é sagaz, quando sabe que terá de aferir o seu mandato de acordo com esse desejo coletivo pelo tempo novo recentemente iniciado...

Uma das últimas patifarias

Quando julgaríamos que a venalidade congénita de cavaco silva seria travada pela iminência da sua definitiva passagem para o anonimato, ele ainda decidiu apostar na forçada entrada na História pelos piores motivos. Ciente da impossibilidade de ser lembrado como um presidente capaz, ele aparece apostado em esgotar os últimos cartuchos na possibilidade de contornar o olvido através da sua marca de infâmia até ao fim. Se não pode ser lembrado por ser bom, que o seja por ser extremamente mau até porque, no fundo, mal ou bem, importar-lhe-á sobretudo que de si falem.
É o que resulta de se ter escolhido um recalcado filho de gasolineiro de província para comandar os nossos destinos durante tantos anos! A psicologia tem muito a revelar sobre um certo tipo de indivíduos, que vindos da pequena-burguesia da província nunca conseguem libertar-se dos seus complexos de inferioridade e os catalisam nas piores patifarias.
Ele sabe que o veto na legislação já aprovada pela esquerda parlamentar  relativamente à adoção de crianças por casais do mesmo sexo ou quanto à Interrupção Voluntária de Gravidez será facilmente superado por uma nova votação parlamentar e pela assinatura prometida do seu sucessor. Mas existirá nele o comprazimento do velhaco que sabe estulta a sacanagem, mas com ela delira enquanto as vítimas dela se torcem de indignação.
Perdurará ainda muitos anos no imaginário coletivo português o nefasto legado do cavaquismo ou não tenha sido ele permitiu a Marcelo Rebelo de Sousa ganhar a quem possuía as qualidades superlativas para se tornar no Presidente de todos os portugueses. Apesar de Marcelo tudo ter feito - até no seu discurso de vitória! - para se distanciar da herança que cavaco lhe lega no cargo.

Obrigado Professor!

Em julho do ano passado tomámos a decisão de avançar para a militância ativa na campanha presidencial anunciada algumas semanas antes e que tinha por protagonista o Prof. Sampaio da Nóvoa.
Conhecêramo-lo numa comemoração do 10 de junho em que o seu discurso saíra dos cânones do  cavaquismo, supostamente seu anfitrião. Tínhamos, igualmente, presente o que disse na Aula Magna durante o Congresso das Alternativas e, sobretudo, no Congresso do PS em que António Costa iniciava a construção do tempo novo só agora em curso.
As alternativas que se nos afiguravam como viáveis não correspondiam àquilo por que ansiávamos: muito embora ainda haja uma grande maioria a não compreendê-lo, está a acontecer uma revolução de mentalidades capaz de tornar obsoletas as formas como as forças sociais-democratas e socialistas europeias entenderam ser possível fazer política nos últimos anos.
Dir-se-á que falhou na Grécia, o que é no mínimo extemporâneo, e não conseguiu impor-se no norte da Europa, mas a Inglaterra dos trabalhistas e a Irlanda do Sinn Fein tendem a desmenti-lo. E, depois, há o Bloco de Esquerda aqui em Portugal, o Podemos na Espanha vizinha, e sabe-se lá que outros movimentos semelhantes a nascer e a crescer um pouco por todo o lado.
Porque aumenta dia-a-dia a influência dos que constatam a predominância de um capitalismo de receita única: ou austeriza ou morre. E essa “solução” inferniza a vida da grande maioria dos cidadãos.
É por isso que vivemos uma época em algo semelhante ao Maio de 68 em França, ou ao que por essa altura ocorreu na Checoslováquia e nos campus universitários norte-americanos: mesmo aparentemente derrotados no imediato, as transformações que implicaram nos anos subsequentes foram bastantes para atirar para o lixo muitos dos modelos ideológicos anteriores, não só a nível dos usos e costumes, mas da própria política em geral.
Quando decidimos aderir ao Núcleo de Apoio à Candidatura do Prof. Sampaio da Nóvoa no Seixal, criado no Restaurante O Bispo pelo Vitor Sarmento, pelo Carlos Alberto Moniz, pelo Francisco Navarro, pelo João Filipe, pela Paula Gil, pela Custódia Pereira, pela Helena Farias, pelo Manuel Ramos, pelo João Portugal e pela Lena Pedro, encontrámos um conjunto de amigos empenhados no mesmo objetivo: fazer quanto fosse tangível para transformar os nossos sonhos em realidade, já que ainda vivíamos no auge da campanha publicitária com que Passos Coelho pretendia eternizar-se no poder.
Éramos poucos, mas muito esforçados, e por isso mesmo foi possível organizar no Seixal um dos Encontros na Praça em que o Prof. Sampaio da Nóvoa pode explanar toda a sua Visão sobre o futuro exequível para todos os portugueses.
Apesar de estarmos no pico do verão, a meteorologia não ajudou nada, mas, mesmo com a ameaça constante da chuva, foi possível concretizar uma sessão, que ainda contou com a colaboração dos Tocá Rufar e do Carlos Alberto Moniz. À noite, o Restaurante do Vítor Sarmento rebentou pelas costuras, porque não chegaram as mesas e as cadeiras para todos quantos se quiseram associar ao primeiro evento público em prol deste projeto no nosso concelho.
Seguiram-se meses entusiasmantes em que outros se vieram associar ao Núcleo inicial e onde se solidificaram conhecimentos, que se transformaram em amizades para o resto da vida. Estou a falar do Costa Velho, que sempre revelou a ponderação e a capacidade de coordenar as vontades disponíveis. Do Alfredo, sempre incansável na determinação em tornar possível no terreno aquilo, que combinávamos nas reuniões. Da Anabela, que nos incitava para mais ações de rua, quando elas pareciam escassear. Do Miguel Fortes enquanto elo de ligação com as influentes comunidades lusófonas por todo o distrito. E tantos outros, que foram surgindo: o Cláudio como representante da juventude, a veterania do Fernando Gomes, do Germano ou da Otília, a competência do Fernando Alves, da Isabel Antas, do Pedro Cortegaça, da Júlia Farinha para que todas as mesas de voto tivessem representantes da candidatura. E decerto que me esqueço de muitos outros, mormente dos que tornaram possível o grande Jantar na Quinta da Valenciana, injustamente omitido na comunicação social onde teria merecido surgir como demonstração da atratividade do candidato ao encher salas com centenas de apoiantes, quando mais ninguém o fazia.
É claro que, do Núcleo inicial, sobraram o João e a Paula, com os respetivos filhos, que só não superaram o Alfredo em empenhamento, porque a atividade de professores não lhes permitia dar nem mais um minuto da escassa disponibilidade. E, fica a expectativa de vermos o Alexandre, hoje ainda nos nove argutos anos de idade, converter-se num grande militante de causas no futuro, de tal forma o víamos a convencer as pessoas a quem entregava flyers sobre as vantagens da proposta do nosso candidato. E, last but not the least, o Manuel Ramos, que foi com plena justiça, e para nossa honra, o mandatário do Núcleo.
Alguns dos que se entusiasmaram de início foram dar o seu contributo a outros Núcleos ou decidiram mandatar os que ficaram para prosseguir com o testemunho por eles iniciado.
Julgo, porém, falar por todos, quando expresso um grande OBRIGADO ao Professor Sampaio da Nóvoa pelos seis meses extraordinários, que nos permitiu viver. Através dele e de tudo quanto prometia vir a ser como Presidente de todos os portugueses, acreditámos na viabilidade de sermos realistas pedindo o impossível: a súbita transformação do país, ainda muito marcado pelo que existe de diminutivo na arte de ser português - na mesquinhez, no egoísmo, no preconceito! - em algo de decente. Porque o povo tem muita razão, quando diz: «junta-te aos bons e serás bom! Junta-te aos maus e serás pior!”.
Éramos, porventura, demasiado otimistas ao pensar que, subitamente, um povo inquinado pelo que significaram dez anos de cavaquismo e quatro de passismo-portismo, iria abrir os olhos e apostar na estrada de tijolos amarelos, que conduzisse ao outro lado do arco-íris! Mas valia a pena tentar!
Continuando a falar por todos quantos citei, voltasse-nos Sampaio da Nóvoa a desafiar para o mesmo projeto, mesmo sabendo-o provavelmente derrotado, e nenhum de nós enjeitaria o desafio.
Todos nós dissemos, e diríamos presente, porque acreditamos no tempo novo, que continuará a impor-se, apesar de haver, em Belém, quem com ele nada tem de coincidente. Porque, como escrevi lá muito para trás, esse tempo é um imperativo das relações de forças atualmente existentes na Europa de hoje.
A luta continua já a seguir, porque uma batalha perdida nada altera no resultado final da guerra social e política, que se perfila nos próximos anos.
Agradecemos ao Prof. Sampaio da Nóvoa ter sido o nosso general neste momento, que jamais esqueceremos, e com ele continuaremos a contar para o que o futuro ditar...


sábado, 23 de janeiro de 2016

Quanto lhes custa ver negociações a sério

Qualquer estudante universitário de Gestão sabe o significado de Negociação, que mais não é do que o ponto de encontro entre as posições à partida divergentes entre as partes envolvidas.
Com o governo de Passos Coelho já sabíamos o que se poderia esperar: genuflexão perante os ditames europeus e os portugueses, que pagassem a fatura de terem os seus destinos comandados por supostos «bons alunos».
No entanto, no fim de cada ano, compreendia-se que eles tinham sido uns cábulas e, nem com sucessivas tentativas em acertarem, mediante outros tantos orçamentos retificativos, conseguiam os resultados a que se propunham.
A comunicação social, quase toda ela afeta à direita, olhou para o Orçamento para 2016 do governo de António Costa e escolheu como parangonas: «cedeu a Bruxelas»!
Será assim ou ele mais não representa do que o resultado prático de uma negociação, que contempla vários parceiros chegando-se a um equilíbrio justo entre as aspirações das partes?
Não sobram dúvidas quanto à acertada resposta: ao contrário de Gaspar, Mário Centeno não se põe de cócoras a justificar-se ao ouvido de Schäuble, nem imita Marilú perante o assédio dos seus homólogos europeus, assumindo-se antes na sua verticalidade como um entre iguais e com eles disposto efetivamente a negociar.
É isso que faz comichões incómodas aos comentadores da nossa praça e, nomeadamente ao conselho dito independente de Teodora Cardoso, de quem se esperaria prioritariamente a autocrítica pelos seus rotundos falhanços passados em vez de atrever-se a mais bitaites sobre matérias inalcançáveis à sua incurável miopia...

As jovens de Ispahan já não vão em histórias da carochinha

Porque continuamos em «reflexão» quanto à nossa opção de voto para amanhã, prossigamos com a abordagem de mudanças em curso noutras latitudes. Escolhamos por exemplo o Irão, que já sabemos pelos filmes de Panahi, Farhadi ou Kiarostami, é muito diferente da imagem estereotipada facultada pelos telejornais.
É que, apesar de aí se manter a ditadura teocrática dos ayatollahs, a realidade tende a converter-se em algo muito diferente do que é dado como certo à partida.
Situemo-nos em Ispahan, que é tida como uma das cidades mais conservadoras do país, uma espécie de cavaquistão à escala iraniana e onde as raparigas casadoiras sempre foram convencidas a aceitar os noivos escolhidos pelas mães respetivas.
Mas isso foi até há pouco tempo, porque as coisas estão em profunda mudança. Agora bem podem os noivos dizerem e fazerem milhentas coisas para se tornarem aceitáveis ao julgamento da pretendida, que é ela a ter a última palavra. Até porque, fazendo fé nas muitas amigas, que entretanto passaram pela experiência e, depois, se divorciaram, os noivos costumam ser uma coisa antes do casamento, e tão-só este consumado logo voltam a ser aquilo que lhes ia na natureza.
Pode alguém que não é de esquerda fingir-se que o é, e logo depois de eleito? Manifestamente as raparigas de Ispahan descobriram à sua custa que as promessas de aceitação das suas carreiras académicas ou profissionais cessavam quando, já casadas, se viam a contas com os ciúmes injustificados dos conjugues.
Nos encontros , que diariamente enchem os salões principais dos dois grandes hotéis da cidade entre as cinco e as sete da tarde, as eleitoras dos candidatos ao casamento tornaram-se muito mais prudentes.
Que lhes interessa a suposta popularidade do pretendente na cidade, se é credível a ideia dele ora ter uma opinião sobre algo e logo outra contrária, quando isso se torna conveniente? Que lhes interessa as qualidades por ele reveladas a servir cafés atrás de um balcão ou a interessar-se por anciãs nos lares da terceira idade, se ele nunca lhes foi capaz de dizer verdadeiramente que futuro ambiciona para a família e o país?
As jovens de Ispahan têm bastantes razões para desconfiarem daquele que as mães antiquadas, lhes pretendiam impor. É que têm na mira outro candidato, menos popular nas ruas, mas com palavras bem mais inspiradoras para um futuro que desejam melhor.
É por isso que andam a acertar muito mais frequentemente na receita para a sua felicidade: quando deixaram de crer na inevitabilidade de aceitarem a escolha de quem lhe queria impingir o candidato dado como inevitavelmente eleito, elas olharam para o lado e viram outro bem mais capaz de corresponder ao seu desejo de acertarem em quem se mostra muito mais capaz de corresponder às suas aspirações.
Obviamente só mentes maliciosas podem pensar que tudo isto teve a ver com as eleições de amanhã!