quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

A rejeição de quem foi merecidamente rejeitado

1. Na capa do «Público» os números são elucidativos: nos últimos sete anos emigraram 12 500 enfermeiros, sobretudo para França, Inglaterra e Reino Unido. 
E quantos terão sido os engenheiros, os arquitetos, os médicos e tantos outros licenciados, mestrandos e doutorados de outras especialidades?
Quantos milhões de euros de investimento na sua educação perdeu o país para os entregar sem contrapartidas financeiras aos países para onde foram aplicar as competências aqui obtidas?
Eis um dano irreparável, que as políticas de direita causaram às finanças públicas!
2. No debate sobre o Programa de Governo a direita estava tão insegura quanto à decisão de apresentar uma moção de rejeição, que logo se apressou a desafiar António Costa a sujeitar-se a uma moção de confiança.
A resposta foi loquaz e definitiva: “Só precisa de confiança quem não tem confiança. E este — lamento desiludi-lo — é um Governo que se apresenta com confiança, com um suporte maioritário no Parlamento.”
Esta afirmação provém de um político, que é exatamente o oposto daquele a quem sucedeu no cargo: António Costa sempre se revelou precocemente brilhante desde que se inscreveu no Partido Socialista com 14 anos. Nos cargos que desempenhou revelou uma competência e uma capacidade para transformar a realidade para melhor, que a autoconfiança é precisamente uma das suas principais características pessoais.
Ao invés todos conhecemos o percurso de passos coelho: o curso obtido tardiamente, os empregos sempre conseguidos graças às cunhas providenciais e a convicção de se julgar com capacidades muito para além do que aconselhariam as suas competências. Por isso mesmo, falho de ideias próprias, só poderia “comprar” uma receita alheia - a de schäuble e Cª - para agradar àqueles de quem aspira vir a recolher prebendas mais significativas. É que alguém acredita ver passos contentar-se com cargos de administração em empresas do tipo Tecnoforma?
A forma apressada como quis concluir diversas privatizações, nomeadamente a da TAP, poderá ter subjacentes expectativas já negociadas ou a que se julga com direito para quando se cansar de ser líder de uma oposição condenada aos sucessivos «inconseguimentos».
3. Outra das clarificações ontem deixadas por António Costa foi a do relacionamento do Governo com o Conselho de Concertação social.
Recorde-se que essa fora uma das “dúvidas” levantadas por cavaco silva para demorar a tomada de posse do novo Governo. O que se compreendia: esse Conselho foi um dos mais determinantes alibis para que o anterior executivo impusesse medidas gravosas aos trabalhadores, já que a enorme maioria das organizações patronais ali representadas acolitavam as propostas vindas de passos & Cª dentro da lógica do “esfola” depois do “mata”.
Foi por isso muito importante que Costa tenha declarado: “O Governo não decidirá sem o contributo indispensável da concertação em todos os domínios em que ela é relevante, mas também quero deixar claro que nunca se escudará na concertação para deixar de decidir ou protelar as decisões que se imponham para cumprir o nosso programa.”
É que o desequilíbrio na relação de forças entre o capital e o trabalho tem sido tal, que urge restabelecer alguma equidade. Por muito que ela desagrade aos senhores da CAP ou da CIP. 

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