terça-feira, 17 de novembro de 2015

Tudo em aberto nas Presidenciais

Ontem um vizinho, que me sabe apoiante do Prof. Sampaio da Nóvoa veio questionar-me a propósito da sondagem acabada de anunciar e que dava marcelo como vitorioso á primeira volta.
É claro que passei rapidamente do provérbio sobre o milho e os pardais para a evocação de um momento histórico demonstrativo de tudo ainda permanecer em aberto:  quando Mário Soares partiu de um apoio inicial de 8% e, face a Salgado Zenha, Maria de Lurdes Pintasilgo e Freitas do Amaral, acabou por sair vencedor.
A História não é fértil em repetições, nem as circunstâncias são as mesmas: os meios ao dispor dos candidatos não se comparam com os então disponíveis,  nem o dramatismo associado a essa eleição se está a repetir. Freitas do Amaral personificava uma direita semelhante à hoje representada por passos coelho, em que era evidente a avidez em alcançar o poder para reverter o que sobrava das conquistas da Revolução.
Nesse sentido, marcelo, mesmo adivinhando-se-lhe a intenção de prosseguir a imposição de condições bastantes para a direita se perpetuar no poder, surge como o lobo disfarçado de carneiro, disposto a ir para o pé do rebanho e só então se libertar da sua capa simpática, manifestando-se na sua verdadeira face. E é também verdade que o seu principal opositor, Sampaio da Nóvoa, está longe de ter associada a carga negativa então colada a Mário Soares.
Em 1986 o fundador do PS era o representante da sua ala mais à direita ao fazer que prevalecesse um tipo de política mais de acordo com os padrões da Europa de então. O receio do comunismo era tal que não quisera arriscar alguns dos caminhos abertos  doze anos atrás, mormente na revolução agrária assente nas cooperativas ou na forte orientação estatal no domínio da economia.
Os mercados, já então eles, tinham ditado uma política de sucessivas privatizações, com a facilitação de enormes falácias como as de uma mais competente gestão dos privados do que dos gestores públicos ou da excessiva burocratização da administração pública.
Nessa época eu próprio descri das possibilidades de Mário Soares em sair vencedor, porquanto apoiava convictamente Salgado Zenha. Mas enganei-me: Maria Lurdes Pintasilgo conseguiu dividir suficientemente o mesmo eleitorado de esquerda e foi Soares, quem passou à segunda volta ao contar com o núcleo duro dos simpatizantes e militantes socialistas
É isso, que irá agora acontecer: contando com a maioria dos militantes e simpatizantes socialistas a seu lado, aos quais se somarão os comunistas e os bloquistas, que sabem qual o verdadeiro significado das candidaturas dos respetivos partidos, o Prof. Sampaio da Nóvoa tem todas as condições para prevalecer sobre Maria de Belém. É que a descredibilização desta é inevitável pela  condição de representante um tempo que não volta para trás: o dos que perderam as primárias socialistas de há um ano atrás.
Falta pois passar à segunda volta e vencer a forte candidatura de marcelo. Mas, também há trinta anos Freitas do Amaral, com mais de 46% na primeira volta, parecia imparável. Nessa altura, sob os auspícios de Álvaro Cunhal, toda a esquerda uniu-se em torno de Mário Soares e ele venceu com mais 140 mil votos do que o candidato da direita.
Agora, numa altura em que essa esquerda plural está a trilhar o caminho de uma maior conjunção de esforços, devemos confiar que se repita hoje o que a História nos legou enquanto exemplo a ser replicado... 

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