domingo, 18 de outubro de 2015

Os mitos com que nos querem iludir

Andam por aí uns mitos, que pretendem inculcar umas quantas falsidades nas cabeças dos portugueses. Fabricados pelos marketeers da direita, que não devem perder o emprego tão cedo, ou produto da preguiça mental dos opinadores remunerados das várias televisões, eles contribuem para dar um retrato disforme da realidade presente. Por isso devem ser desmistificados...


Duas semanas passadas sobre as eleições de 4 de outubro continuam a perdurar diversos mitos nas opiniões remuneradas das várias televisões. Porque são constatações factualmente falsas, mesmo que repetidas até à exaustão, convirá operar a sua urgente clarificação.
Primeiro mito: a direita ganhou as eleições.
É uma afirmação tão glosada, que até os socialistas a repetem sem verificarem como, com esse facto, estão a dar trunfos aos seus adversários. Ora, se essa vitória tivesse acontecido, alguma dificuldade tolheria passos coelho de formar um governo viável, capaz de ser aprovado na Assembleia?
Podemos condescender com a tese de o PS não ter ganho esse escrutínio. Mas, se visto na perspetiva de componente de uma esquerda com mais de 50% de deputados, é óbvio que a grande vencedora de 4 de outubro foi essa potencial coligação pós-eleitoral.
Ilegítima, dirão muitos. Mas não foi o que fizeram o PSD e o CDS em 2011, já que concorreram, cada um por si, e só se coligaram depois do ato eleitoral.
O segundo mito muito comum nos tais opinadores tem a ver com a tese de “ser ao centro que se ganham as eleições”.
Verdade? Conseguem mesmo asseverar essa hipótese sem se engasgarem? É que vivemos tempos diferentes dos que eram habituais e não é só em Portugal, que as sociedades se andam a extremar em polos diferentes: a importância cada vez maior de radicalismos à esquerda e à direita, são o sinal de uma evolução, que tem a ver com a corroboração marxista da agudização das lutas de classes.
Cada vez mais extremista na defesa do neoliberalismo no que ele representa do lado mais selvagem do capitalismo, o PàF congregou a seu favor o pleno de uma direita, que pretende acentuar as desigualdades gritantes já agravadas nestes quatro anos, e iludiu um setor da população cuja ingenuidade e ignorância a leva a favorecer quem mais a prejudica.
O PS conseguiu segurar uma boa parte desse tal eleitorado do centro, que foi minguando na exata proporção em que a classe média foi empobrecendo com o desemprego e os impostos, caindo desesperadamente no campo dos mais desvalidos. O terço do eleitorado, que nele votou, acreditou na promessa de António Costa em conseguir pôr  termo às políticas seguidas nestes quatro anos. Porém, uma parte desse eleitorado - pelo menos os 5% que aumentaram a votação do Bloco em relação às sondagens -, quis ir mais longe e deixou-se cativar pelo discurso assertivo de Catarina Martins.
Constata-se, pois que os socialistas perderam à esquerda a eleição de 4 de outubro. Tivessem assumido um discurso mais contemporizador com o austericídio e ainda perderiam mais votos. Por isso António Costa conseguiu o melhor dos resultados possíveis, porquanto se viu encurralado pelo massacre da comunicação social e pelos ferozes ataques das forças políticas à sua esquerda e à sua direita. E, nesse sentido, os 32,3% do PS até foram muito meritórios, sobretudo por darem a António Costa o ensejo de formar Governo. E essa será uma vitória, que ninguém - nem mesmo cavaco - lhe poderá negar.

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