quarta-feira, 15 de abril de 2015

Os crimes cometidos à nossa volta

Não estarei em Portugal no dia 25 de abril, quando cavaco silva voltar à ladainha  do acordo entre o PSD e o PS  após as próximas legislativas.
Embora não contasse perder o meu tempo com tal figurão, só pela net ficarei a conhecer as reações de quem o  ouvir, muito embora não seja difícil adivinhá-las. António Costa e passos coelho rejeitá-las-ão e, à esquerda e à direita, também não se ouvirá uma única palavra de apoio a tão descabelada proposta. Mas não é difícil imaginar que o ainda inquilino de Belém aposte numa única possibilidade para tentar resgatar do opróbrio os seus dois mandatos, que se concluem com a máxima impopularidade alguma vez atingida por um Presidente da República em democracia.
Já na vivenda da coelha  desejará que António Costa falhe rapidamente no seu projeto para levar por diante a imprescindível mudança nas políticas do país e se veja obrigado a um «bloco central», que justifique mais um prefácio nos «roteiros» a dizer que bem nos «avisara».
É claro que esta aposta de cavaco está destinada a falhar rotundamente. Em primeiro lugar, porque será provável que a maioria dos comentadores televisivos se engane quanto à impossibilidade de o PS chegar à maioria absoluta. Ou, pelo menos, que ela seja possível com algum partido representado na Assembleia e menos sectário do que o PCP ou o BE se têm revelado até aqui.
Depois, porque há hoje um abismo entre as ideologias defendidas pela direita e pelos socialistas. Com a recuperação da sinistra TSU, com a privatização ou concessão de empresas públicas à pressa antes das eleições ou com a nomeação de boys  e girls para todos os cargos disponíveis na Administração, a direita demonstra dia-a-dia o objetivo de retirar rendimentos e direitos à maioria dos portugueses em benefício dos mais ricos. Pelo contrário  o programa socialista, a ser apresentado em 6 de junho, será explícito na forma como infletirá o rumo da economia  no sentido do crescimento e retomará a redistribuição de rendimentos num sentido mais igualitário.
Até lá não serão golpadas de última hora - a devolução da sobretaxa do IRS, como se denunciava no «Expresso» de sábado transato - que garantirão a passos coelho e a paulo portas a mudança no que os portugueses pensam a seu respeito. Pelo contrário: muito embora as notícias não revelem a dimensão dos muitos suicídios, que essa dupla já suscitou nestes quatro anos, os fenómenos de violência doméstica (contra mulheres, contra crianças, etc), que todos os dias abrem os telejornais dão bem conta de um país onde a esperança não tem tido lugar e com as frustrações a exacerbarem os instintos dos mais rudes.
Nesse sentido, quantos mortos e feridos resultarão do saldo antissocial das políticas desta direita? Quantos se tornaram sem-abrigo por perderem a casa e o emprego? Quantas famílias se estilhaçaram por muitos dos seus membros se perderem na emigração forçada? Decerto que, na próxima semana, ao cirandar junto ao Tribunal Penal Internacional, onde, em Haia, se julgam os crimes contra a humanidade, considerarei não serem apenas os karadzics a merecerem aí julgamento. É que os crimes contra a humanidade não acontecem apenas na antiga Jugoslávia, no Ruanda, na Síria ou no Iraque. Eles estão mesmo aqui ao nosso lado. E nós não os vemos na dimensão de infelicidade, que causam...

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