sexta-feira, 17 de abril de 2015

A falta que Mariano Gago nos irá fazer

Acaba de se conhecer a morte de Mariano Gago, o mais competente dos ministros que em democracia geriram as pastas relativas ao Ensino Superior e à Investigação Científica.
Se uma das principais marcas dos governos de António Guterres e de José Sócrates foi a da aposta numa economia avançada, feita de produtos e serviços de ponta, criados pelos jovens em cuja formação superior especializada se investia, muito se deve a esse ministro.
É por isso mesmo que a notícia nos apanha de surpresa, porquanto o novo ciclo político aberto pelas legislativas do outono  promete o reatar desse projeto, que a direita quis entretanto matar. E Mariano Gago, independentemente do maior ou menor protagonismo, que lhe fosse conferido nessa renovada aposta na qualificação e investimento na Ciência e Tecnologia, teria decerto um importante papel a desempenhar. Até porque o governo de passos coelho está a encarregar-se de minar toda a administração pública de forma a dificultar ao novo governo socialista a correção de todos os danos, que produziu.
Um bom exemplo disso, e para ainda nos quedarmos na área da Ciência e Tecnologia, foi a forma como o titular da Fundação respetiva - esse miguel seabra de má memória, que avalizou e cumpriu os cortes decididos por maria luís albuquerque nos Institutos dedicados à Investigação Científica -  se demitiu oito meses antes de concluir o mandato de três anos de forma a permitir a passos coelho a nomeação de uma nova responsável, que tratará de criar obstáculos às orientações do novo governo nesse setor estruturante da nossa economia.
Outro exemplo eloquente da tentativa da direita em sabotar as políticas, que se irão definir a partir de outubro tem a ver com a área da Proteção de Crianças e Jovens, atualmente muito em destaque pelo assassinato de algumas crianças.
Em vez de corrigir o erro de ter mandado para a “requalificação” muitas dezenas de técnicos, que acompanhavam as “famílias em risco”, mota soares anunciou um subsídio anual de 116 mil euros para  que sejam as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) a tratar de tais situações.
Essa teimosia em reduzir ao máximo o papel do Estado, subsidiando organizações caritativas e de cunho ideológico maioritariamente direitista para que sejam elas a tomar as responsabilidades, que lhe cabem, é uma herança que muito custará corrigir.
Essa tentativa de subsidiar muitas organizações dependentes da Igreja Católica para que elas cumpram fins caritativos tem três objetivos claros: o primeiro, o de considerar que a pobreza não deve ser menorizada com políticas sociais ativas, que a eliminem, mas com ações, que levem os visados a receberem alimento, roupa e o pagamento de algumas contas, não como um direito por viverem numa sociedade civilizada, mas por serem uns «pobrezinhos» a quem se dá esmola.
Num segundo objetivo cria-se à conta dessas IPSS’s um conjunto de funcionários facilmente mobilizáveis pelos seus responsáveis para votarem tendencialmente a quem lhes possa prometer estabilidade de emprego por via dos subsídios atribuíveis quando estiverem no governo. Será nos muitos milhares de funcionários destas organizações, que a direita conta compensar a perda de votos da classe média, que se encarregou de proletarizar.
E, num terceiro objetivo, uma maior dimensão reivindicativa das IPSS’s no apoio às posições da Igreja Católica permitirá infletir o tipo de legislação que contra ela foi aprovada. Veja-se como o patriarca de Lisboa já se atreve a querer a revisão da lei do aborto... 

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