sexta-feira, 27 de março de 2015

Um crime esquecido da (des)governação de passos coelho

Gosto muito de teatro e por isso neste Dia Mundial só posso lamentar o estado a que ele foi condenado pelos cortes decididos por este governo na Cultura. É dos crimes, que tendemos a esquecer, mas de que passos coelho é inequivocamente culpado: o de tudo fazer para  acabar com quem  pretende fazer do palco o seu espaço de expressão e de criatividade.
À exceção dessa experiência mágica que foi a concretizada no ano passado pelo Bando com «Quarentena», tenho assistido nos últimos anos a ótimas interpretações de atores e atrizes, muitos dos quais até nem sequer conhecia, mas condenados a projetos onde o guarda-roupa e os cenários são reduzidos ao mínimo admissível.
Quanta diferença em relação à época em que comecei a interessar-me por este tipo de espetáculos. O 25 de abril estava  quase a surgir e grupos como a Cornucópia, os Bonecreiros ou o Teatro de Campolide já anunciavam novos tempos com peças memoráveis. Sem esquecer o Grupo 4 ou os esforços de Luzia Maria Martins no teatro da Feira Popular.
No pós-25 de abril a Barraca deu-nos vivências inesquecíveis, quando ali se conjugava a arte de Helder Costa com os desempenhos de Céu Guerra, Mário Viegas, Santos Manuel, Manuel Marcelino, Paula Guedes, Orlando Costa ou José Lello. E havia a Comuna ou o Teatro do Mundo dela cindido, e onde Zé Mário Branco e Manuela de Freitas eram capazes de nos fazer sentir um terramoto no Chile na Estufa Fria.
E íamo-nos questionando sobre o curso dos acontecimentos com textos que remetiam diretamente para quanto vivíamos nas ruas.  Mesmo escritos por autores tão diferentes como o podiam ser Brecht, Tchekov ou Ibsen...
Conheci também o já referido Bando por essa altura, quando um personagem passava o tempo a dizer o quanto gostaria de ir à China e não sabia como lá chegar. Era nos «Cágados» e percebíamos quão fútil poderia ser a vontade de chegar a lugares distantes, quando outros, não menos aliciantes, nos estavam muito mais próximos.
Após mais de quarenta anos de gratos momentos oferecidos por atores e atrizes em cena, só posso desejar que se facilite a vida a quem tanto mérito tem em projetar-nos para emoções, que nos impressionam, nos encantam, e até nos possam incomodar o bastante para sairmos das nossas rotinas e lugares comuns.
Neste Dia Mundial do Teatro importa defender militantemente esta arte para que não permitamos, que os nossos dias se empobreçam...

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