sábado, 21 de fevereiro de 2015

Uma questão de não ter espinha

Durante muitos anos ser de esquerda significou olhar para o mundo como um todo em que exploradores e explorados não tinham propriamente pátria.
Fazia - e continua a fazer! - sentido afirmarmo-nos internacionalistas, porque, num mundo globalizado, a libertação das amarras da distribuição desigual dos rendimentos e da justiça social só ganham se implementados numa dimensão crítica  significativa.
Por tudo isso não foram poucas as vezes em que detestei desfraldares da bandeira nacional ou o canto do seu hino, por constituírem atos ilustrativos do que Samuel Johnson dizia no século XVIII: “O patriotismo é o último refúgio de um canalha .”
Ora canalha tinha sido o regime salazarista que usara e abusara do conceito de «Pátria» para levar por diante o seu objetivo totalitário. A exemplo de outros regimes fascistas, igualmente assentes na representação de uma forma muito restrita desse conceito de «Pátria».
Já em democracia a direita continuou a apossar-se dele e se hoje ainda temos um hino vetusto, que diz coisas tão absurdas como «contra os canhões, marchar, marchar!», é porque a esquerda nunca quis beliscar uma área onde a demagogia populista do campo adversário a poderia pôr em dificuldades. É que, sem sentido crítico, muitos portugueses ainda se reconhecem nesses símbolos criados com a implantação da República, mas contaminados pela utilização abusiva deles feita pela ditadura do Estado Novo.
A novidade dos últimos anos tem sido a dissociação progressiva dessa direita pelos valores da Pátria.
Nestes três anos e maio passos coelho e paulo portas têm assumido uma política de total submissão ao que ditam os alemães, mesmo que para tal tenham decidido entregar as grandes empresas nacionais ao capital estrangeiro e tratado os próprios cidadãos como servos de um Senhor a quem eles juraram obediência.
O aspeto mais degradante do abandono de um sentido patriótico de comportamento foi o de maria luís albuquerque a prestar-se à vergonhosa vassalagem a schäuble..
Se na Roma Imperial o cônsul fazia desfilar os chefes inimigos, na Europa de hoje os todo poderosos alemães limitam-se a apresentar os capatazes, que incumbiram de submeter os seus compatriotas.
Não deixa de ser curioso que o episódio quase tenha ocorrido em simultâneo com a confissão de Juncker a propósito da  forma indigna como foram tratados os portugueses, os gregos e os irlandeses.
Como poderia passos coelho enfiar de bom grado a carapuça se acabara de enviar maria luís prestar-se a tão confrangedora demonstração de vende-pátrias? Mas, no blogue «O Jumento», perguntava-se: “Terem morrido portugueses abandonados nas urgências por falta de recursos nos hospitais não ofendeu a dignidade dos portugueses? Ver filas para a sopa dos pobres em tudo quanto é bairro não ofende a dignidade dos portugueses? Voltar a ver as cenas de despedidas familiares que parte  a seguir ao Natal não ofende a dignidade dos portugueses?
Qual será o conceito de dignidade destes governantes miseráveis?”

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