domingo, 15 de fevereiro de 2015

A Europa e a dialética entre contrários

No «Expresso» deste fim-de-semana João Garcia constata o silêncio dos que eram tão convictos a defender a não existência de alternativa às imposições da Alemanha e da Comissão Europeia. “Que é feito dos que afirmavam que nada sucederia se a periferia se agitasse? Onde estarão os que diziam que ninguém ouve os PIB pequeninos e que a mosca não incomoda o elefante?”
A resposta do jornalista é lacónica: “Devem estar a aprender grego.”
Mas, Miguel Sousa Tavares também aborda o tema sem utilizar outro tom, que não seja o da indignação.
Primeiro contra passos coelho, portas e cavaco, que só por mesquinhez - a de verem desmascarado o “tremendo erro económico, resultante de uma irresponsável arrogância ideológica” - tudo farão para dificultar qualquer benefício atribuído ao governo grego. Porque equivalerá ao “efeito de uma bofetada” em tudo quanto têm dito nestes três anos e meio. E adivinha-se o temor por eles sentido por, de repente, já não serem apenas os “suspeitos” do costume a dizerem que “o rei vai nu”.
A meses das eleições o surgimento de um consenso internacional em torno das sensatas propostas do Syriza, equivalerá a uma derrota bem mais expressiva do que a já anunciada em múltiplas sondagens.
Mas, numa daquelas crónicas com que concordo a 100%, Miguel Sousa Tavares também contesta a estratégia da Nato na Ucrânia.
Lembrando que a intervenção no Kosovo ou a segunda guerra no Iraque coincidiu com a necessidade do complexo militar-industrial americano em livrar-se de armas em vias de se tornarem obsoletas e poderem vender nova geração de equipamentos ao Pentágono, ele questiona se a Europa se deverá deixar arrastar para uma “nova guerra fria com todos os custos associados”.
É que a boa notícia só “acontecerá quando a Rússia for tratada como grande potência e não como o vencido da guerra fria. As coisas são o que são, não aquilo que os profetas do mundo perfeito pregam.”
Vivemos, pois, tempos interessantes na Europa, no conceito definido por Eric Hobsbawm. Ou seja, depois de anos a fio em que parecia não haver espaço para contradições com as posições dominantes definidas pela Alemanha de merkel e seus  lacaios, a situação grega e a guerra ucraniana, coloca a Europa perante o desafio de se voltar a questionar sobre as suas estratégias económicas e geopolíticas.
Paradoxalmente estes estímulos tiveram sinal contrário: os provenientes de Kiev resultavam de uma Europa germanificada, os de Atenas têm a ver com uma União feita da convergência de interesses entre os vários países que a constituem sem que os mais fortes ditem as suas regras sobre os mais fracos.
Do que resultar desta dialética de contrários ficará definido o futuro que virá...

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