sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Indignados fomos! Por quanto tempo aguentaremos esta abulia?

Uma das mais lamentáveis consequências de três anos de governação do PSD/CDS tem sido a perda da capacidade de indignação dos portugueses.
É certo que outros importantes movimentos de Indignados também perderam o fôlego desde que encheram as ruas de Atenas, Madrid ou Nova Iorque, mas há uma diferença abissal entre a reação quase espontânea, que encheu as ruas e avenidas de Lisboa e do Porto em 15 de setembro de 2012 e a tristeza cansada dos que desde então se multiplicaram em dezenas de outras manifestações. Porventura culpa da CGTP, que banalizou de tal forma a convocatória para esse tipo de iniciativas, que mais se passaram a assemelhar a passeios de fim-de-semana, ou do final da tarde para desentorpecer as pernas, ou até mesmo às obrigações dos crentes em comparecerem à missa de todos os domingos.
Os comunistas ter-se-ão assustado com a perda da primazia para porem multidões nas ruas a protestarem na rua, que logo arranjaram a forma expedita de isso praticamente de nada servir.
E, no entanto, se naquela tarde ensolarada, que fez recuar as intenções de impor a TSU (depois habilmente conseguidas nos meses seguintes sem grandes percalços) uma multidão tivesse investido o Palácio de Belém ou o de São Bento, teríamos provavelmente dado o mesmo sinal de transformação política, que a Revolução de Abril de 1974 suscitou nos meses seguintes noutros países a contas com as mesmas indignidades.
Agora damo-nos conta de situações, que outrora,  sobressaltariam multidões e elas mantém-se impávidas à espera que novas circunstâncias lhes deem o ensejo de assistirem a mudanças para as quais se limitarão a apoiar com o seu voto.
Olhemos só para algumas, que ficámos a conhecer nos últimos dias cientes de que poderíamos arranjar outras tantas para confirmar o que fica dito:
(1) a intenção reiterada de passos coelho em afrontar o Tribunal Constitucional com a anunciada desobediência à indicação de repor os salários da Função Pública a partir de 1 de janeiro de 2016 se acaso ainda nessa altura estivesse no cargo de primeiro-ministro. Temos, pois, um governo em guerra constante com a Constituição do País!
(2) A transferência de dois altos quadros do Banco de Portugal ligados à supervisão do setor bancário para a consultora (PwC) com que estavam a trabalhar depois dela ter sido contratada sem concurso pela instituição, sem verem nisso qualquer escrúpulo respeitante ao mais que evidente conflito de interesses. Temos, pois, quadros das instituições de supervisão em promiscuidade evidente com quem deveriam ter a relação distanciada do cliente com quem lhe presta serviço!
(3) A perda de 2,6 mil milhões de euros no BES Angola, para onde o Banco da família Espírito Santo canalizara vultuosos empréstimos e agora praticamente dados como perdidos, depois de até ter sido vedada a entrada da representante do Novo Banco para a reunião de acionistas em que deveria ter assento como sócia maioritária. E, no entanto, os nossos comentadores andam muito calados perante um autêntico roubo, que as elites dominantes de Luanda cometeram sobre verbas que acabarão por ser pagas, em todo ou em parte, pelos contribuintes portugueses. Temos, pois, um governo incapaz de defender os interesses nacionais perante oligarquias estrangeiras!
(4) a mentira que pires de lima anunciou e todos quantos dele quiseram servir de altifalante disseminaram, segundo a qual o Banco Mundial reconhecera uma melhoria de seis lugares a Portugal enquanto país mais propício à atividade das empresas, quando se veio depois a saber que pela metodologia anteriormente utilizada a realidade seria a contrária, pois corresponderia a uma queda de dois lugares. Temos, pois, um governo que mente sem pudor, manipulando números para esconder as provas da sua incompetência.
(5) num inacreditável exemplo de censura, o diretor do Instituto das Ciências Sociais, José Luís Cardoso, proibiu a distribuição da revista «Análise Social» e a sua publicação online por causa de um artigo ilustrado por alguns graffitis das ruas de Lisboa destinados a corroborar a ideia transmitida pelo texto segundo o qual novas formas de comunicação estão a ser utilizadas para contestar o poder político. Uma atitude, que lembra inevitavelmente os comportamentos das instituições académicas antes do 25 de abril e que se julgariam improváveis em Democracia. Temos, pois, instituições públicas apostadas em coartar a liberdade de expressão e pensamento dos investigadores com que trabalham!
Não deveriam todos estes exemplos motivar-nos veemente repúdio e exigência de correção?


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