Nunca me entusiasmaram as teorias de Gilles Lipovetsky, que andaram na moda há já alguns anos, quando publicou «A Era do Vazio».
O que andou para aí de entusiasmo entre alguns dos nossos intelectuais perante umas quantas banalidades sobre as pressões e angústias a que somos sujeitos por uma sociedade focalizada na competitividade e no empreendedorismo?
Compreende-se, pois, que a Fundação do dono do Pingo Doce tenha convidado Lipovetsky para um encontro sobre a Liberdade. Afinal, mecenas e mecenado merecem-se entre si. E o que é que ele veio dizer, segundo o relato da Lusa?
“Toda a gente tem medo, somos sociedades de medo. A Europa em particular. Somos obrigados à mobilidade, enfrentamos a perda de competitividade e é necessário favorecer a iniciativa, o que é difícil no atual contexto. A civilização do indivíduo é a civilização da liberdade, mas também da pressão e da angústia”, explicou.
Em suma Lipovetsky repete sempre a mesma fórmula sem dela se desviar um milímetro: “O individualismo é hoje em dia obrigatório. Temos liberdade, mas querem que sejamos eficazes, criativos e, se não formos, vamos fora”, e “não é positivo opor os indivíduos às grandes empresas”, porque o emprego, a proteção social, a saúde e a educação dependem de uma economia competitiva”.
Nas demais banalidades, que veio debitar, deu para confirmar a sua concordância com o discurso denunciador do “despesismo” e com a lógica capitalista causadora de todos os principais desajustamentos das nossas sociedades.
Daria jeito aos soares dos santos e aos seus filósofos de estimação, que este momentâneo vazio ideológico prosseguisse. Seria ele o seguro de vida para quantos precisam, que tudo continue como está.
O azar deles é existir esta dinâmica que com tudo está a mexer. E a pôr em causa as certezas dos que julgavam possíveis os impérios para mil anos!
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