domingo, 10 de agosto de 2014

Ter ou não ter estratégia, eis a questão!

Tendo outras prioridades a que dar atenção só neste domingo pude ler a excelente entrevista de António Costa publicada na «Visão» desta semana.
Que diferença em relação à de Seguro na semana anterior! Aonde este último se multiplicara em queixumes e queixinhas, tendo sempre o empolado umbigo como centro da conversa, temos em contraponto Costa a demonstrar o que deve ser um líder: com estratégia e ideias claras quanto à forma de a implementar e sem deixar-se arrastar para a baixeza própria do discurso do adversário.
Foi esclarecedor sobre o primeiro dos pilares em que deve assentar a alternativa do PS à atual política e distribuídos por quatro eixos fundamentais:
· a valorização dos nossos recursos, ou seja das pessoas, do território e da língua;
·  a modernização do tecido empresarial e da administração pública;
· o investimento no futuro, na cultura, na ciência e na educação;
· a coesão social, a valorização do trabalho, a melhoria da igualdade de oportunidades e a redução das desigualdades.
Só através da ação concertada em torno desses quatro eixos, no âmbito da agenda para a década, é que se conseguirão corrigir os problemas de desadaptação aos três choques competitivos a que o país não conseguiu dar resposta nos últimos anos:
· ao do euro;
· ao do alargamento da União Europeia aos países do leste;
· à da era da globalização;
Ao contrário do que entendeu a direita, e implicitamente a atual direção do PS tão lesta a deixar-se enlear nessa mesma argumentação, o problema evidenciado pela assinatura do memorando com a troika nada teve a ver com as finanças públicas, nem com os pecadilhos consumistas dos portugueses, mas com os problemas estruturais da economia portuguesa e da respetiva competitividade, que tardam em ser solucionados.
O segundo pilar da alternativa do PS deverá, pois, ser o de mudar de política e bater-se a nível das instituições europeias para que a moeda única deixe de suscitar as assimetrias entretanto aprofundadas entre os vários países da União.

Para os que já se sentem derrotados à partida, apostando no insucesso desse compromisso, Costa é taxativo. Na União Europeia, Portugal “deve fazer o que os outros fazem: defender o interesse nacional. E, neste caso concreto, o nosso interesse nacional coincide com o de muitos outros parceiros.”
Se a entrevista contem críticas a António José Seguro elas não surgem na forma dos insultos ou dos assassínios de carácter, que têm caracterizado as intervenções do ainda secretário-geral ou dos seus mais conhecidos apoiantes. Pelo contrário o que António Costa diz é inegável: “Vi o PS despejar 80 medidas a oito dias de umas eleições mas não o vi a apresentar uma visão estratégica. Nem sobre a correção dos efeitos assimétricos do euro. Nem sobre um programa de recuperação que suceda ao programa de ajustamento. Não vi.”
E, de facto, o que vimos foi Seguro proferir uma mentira estafada - a de que Costa repete o que ele diz! - quando em nenhum momento das suas intervenções vai sendo possível perceber outra lógica senão a do arrivista chegado ao topo e, desmascarado na sua incompetência, a multiplicar-se em esforços desesperados para não voltar para o patamar de irrelevância donde jamais deveria ter saído...


Sem comentários:

Enviar um comentário