sábado, 12 de julho de 2014

Rumar ao largo ou não perder terra de vista?

No «Baseado Numa História Verídica» do Canal Q, o jornalista Daniel Oliveira classificou-se como «pessimista pela razão, otimista pela vontade», subscrevendo uma das mais consagradas fórmulas de Gramsci.
Perante a realidade atual é difícil não lhe dar razão: se nos ativermos ao universo dos militantes socialistas, que se viram expurgados de um dos seus direitos fundamentais pela decisão individual de António José Seguro em promover as primárias abertas a não militantes, é natural que se fique entre o pessimismo de quem vê a ainda Direção tudo fazer (mesmo que ilegítimo) para não se deixar apear e o otimismo de quem assiste á catadupa de salas cheias de norte a sul do país para ouvir António Costa ou confirma a mesma tendência nas sondagens, que vão sendo publicadas.
O pessimismo da razão tem a ver com a consciência das vantagens de quem decidiu quando e como se definirá a questão da liderança, bem como conseguirá concretizar jogadas pouco escrupulosas de que a já conhecida junto dos associados da ANF é exemplo eloquente.
O otimismo da vontade tem a ver com a da mudança ansiada por toda a sociedade portuguesa. Bem pode Seguro prosseguir com o que se autoconvenceu ser um discurso de proximidade com as pessoas, que as evidências demonstram não passar de uma espécie de reverso da medalha de passos coelho, com o mesmo suporte ideológico e idêntica (in)capacidade de concretizar o urgente processo de redistribuição da riqueza entre os portugueses.  Por isso, enquanto Seguro vai tendo dificuldade em arregimentar militantes, que se veem incumbidos da defesa a sua cercada fortaleza - e por isso são um público triste e com aspeto de acossado - todos quantos participam nas sessões de apoio a António Costa comprovam o entusiasmo de quem está decidido a tomar novamente em mãos o esforço da mudança e o quer estender ao Portugal escalavrado pela direita.
Relativamente a esse mesmo país, as palavras de Gramsci também fazem todo o sentido: estes três últimos anos foram tão maus, que é difícil acreditar poderem vir a ser piores.
Tendo em conta a geração de jovens extremamente qualificada, que os anos de governos de José Sócrates suscitou, é crível que a aposta nas novas tecnologias deem ensejo a novas áreas de negócio de bens transacionáveis, que mudem o paradigma do país. Onde passos coelho pretende criar exportações de produtos de escasso valor acrescentado, vendáveis pela reduzida qualidade, a enorme quantidade e o baixo preço, a aposta do novo governo socialista só pode ser o de bens de grande qualidade e de custos correspondentes à do conhecimento neles investido.
O otimista rejeita que o destino de Portugal possa ser o de um Bangladesh ou o de um Camboja europeu, exigindo a sua transformação num país moderno e desenvolvido  tal qual Sócrates tanto pugnou.
A razão tenderá a dar ouvidos ao conformismo dos pessimistas: que esse papel de exportadores de bens tecnologicamente avançados ficará reservado para os países do norte da Europa, para onde terão emigrado os tais jovens altamente qualificados, definitivamente perdidos para a produção de riqueza nacional.
E é no comportamento perante tais dificuldades, que tudo se joga quanto à liderança do PS e do país: quando existiam Índias por descobrir os navegadores portugueses melhor sucedidos discerniram que as melhores rotas não ficavam junto a terra onde os ventos eram mais fracos e as armadilhas dos recifes mais prováveis. Por isso iam para o largo e era por  ele que dobravam os cabos Bojador ou da Boa Esperança. É essa a via escolhida por António Costa que, ciente de pretender chegar a tal India, também já definiu qual o rumo a tomar. Pelo contrário, o timorato Seguro quer avançar de cabo em cabo, de praia em praia, sem nunca perder de vista aquilo que julga ser a sua maior (in)segurança. Por isso nunca lá chegará e até nos arrastaria para um cenário digno da História Trágico-Marítima se lho permitissem continuar a concretizar.
Há pois razões para confiar que a nossa vontade conseguirá sobrepor-se aos receios, que persistem racionalmente. E que um novo ciclo histórico se abrirá com António Costa como primeiro-ministro!


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