sexta-feira, 25 de julho de 2014

Banqueiros involuntariamente anarquistas?

Num dos dias desta semana o escritor Pedro Mexia sugeria que, depois de tudo quanto se conheceu a propósito do BPN, do BPP, do BCP ou do Banif, os acontecimentos tenderiam a comprovar a possibilidade de contarmos com banqueiros anarquistas como Fernando Pessoa os imaginara.
Em vez de gente ávida de dinheiro e capaz de não hesitar perante as maiores irregularidades para satisfazer essa ganância, teríamos revolucionários apostados em dinamitar o capitalismo a partir de dentro.
É claro que ver em Oliveira e Costa, em João Rendeiro ou em Ricardo Salgado uns guerrilheiros anarquistas decididos a sacrificarem-se em prol do estilhaçamento do sistema político e económico, peca por absurdo. Paladinos da destruição de qualquer regulação, qualquer deles defenderia sem pejo a tese da “mão invisível”. Só que, involuntariamente, eles estão a pôr em causa a credibilidade dos bancos e dos negócios privados.
Há mais de trinta anos, quando se tratou de reprivatizar a banca nacionalizada em 1975, difundiram-se algumas teses mistificatórias a fim de executar esse plano de inversão das “conquistas de Abril” sem que surgissem grandes contestações.
Era o tempo em que muitos crédulos acreditavam na bondade da senhora Thatcher, quando ela pretendia fazer de cada cidadão o dono de algumas das ações da empresa onde diariamente se fazia explorar. E também havia muito entusiasmo em torno das ideias de Milton Friedman, nomeadamente quanto à “necessidade” de reduzir o Estado (Social) à expressão mínima.
Dizia-se igualmente que os gestores privados eram mais competentes do que os do setor público e que, quase sempre deficitárias, as empresas nacionalizadas, depressa se tornariam milagrosamente lucrativas nas mãos daqueles.
Hoje a mistificação já caiu, muito embora quem a engoliu, e se deixou enganar, persista na mesma abulia, que só agrada aos defensores do “statu quo”. Mas perante banqueiros, que vão sendo detidos e acusados de vigarices sem conta, já haverão muitos que se interrogarão se afinal, após tantas fraudes, terá valido mesmo a pena reprivatizar os bancos.
Embora não pareça, alguns paradigmas estão a mudar abrindo esperanças a quem quer ver uma sociedade mais justa e fraterna...


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