sábado, 17 de maio de 2014

POLÍTICA: A urgente necessidade de recuperar o discurso a esperança

Hoje estava com aquela rara disposição de quem aceita ver coisas tenebrosas nas notícias televisivas sem tratar de rapidamente as fazer desaparecer com recurso ao oportuno zapping. Foi assim que dei com essa criatura, que há quem designe como primeira-dama, a massacrar alguns estudantes chineses com uma suposta aula de português.
Se precisasse de imagem exemplar para explicar o significado da indigência em todo o seu esplendor, esse minuto ou dois de telejornal serviria na perfeição. Porque cavaco encontrou parceira à altura da sua ignorância cultural e da sua miopia ideológica, ambos oferecendo uma imagem confrangedora do país, quando o representam fora de portas. Apropriadamente o doutor Pina sugeria no canal Q, que os chineses terão pensado na forte probabilidade de os portugueses terem comprado tais figuras numa das toscas lojas dos seus conterrâneos cá no burgo, tal a (falta de) qualidade de que davam mostras.
Mas já anteontem essa mesma maria cavaca dera razão ao sábio conselho de Lincoln que mandava o idiota esconder-se no silêncio pois, ao falar, denunciaria facilmente a sua condição. Foi quando quis desvalorizar a dimensão da emigração de quase duzentas mil pessoas nestes três anos de intervenção da troika e de (des)governo de direita sob o argumento de já se tratar de uma tradição nacional.
Ora o artigo ontem inserido no «Público» e assinado por Natália Faria («Emigração foi a válvula de escape que aliviou as tensões sociais»), mostra como estamos confrontados com um enorme desastre social, que levará muitos anos a recuperar. Ouvido pela jornalista o historiador Manuel Loff reconhece que “a total falta de esperança é o legado mais pesado da política da troika” porque “esta sensação coletiva de que aqui não vale a pena não encontra paralelo em nenhuma fase da história contemporânea portuguesa”.
Hoje Portugal “volta a perder população em termos líquidos, como só aconteceu nos anos 10 e nos anos 60. Se nos lembrarmos que esses dois momentos correspondem a duas guerras, a entrada de Portugal na I Guerra Mundial e a Guerra Colonial, e que esses anos são também marcados por mudanças de regime, ficamos com uma ideia da violência enorme a que estamos sujeitos”.
E, ao contrário do que sucedeu na década de 60 em que a carência de mão-de-obra obrigou o patronato a aumentar os salários, mesmo sem a pressão sindical que a ditadura então impedia de se exprimir, o que está reservado para os que não emigram é o discurso segundo o qual  as pessoas têm que se habituar a viver com muito menos e que vai ser assim por muitos anos. Temos, assim, a tentativa de convencer os portugueses da necessidade de se resignarem com o “regresso à fatalidade da pobreza”.
Nesse aspeto já não são apenas estarolas da dimensão de um césar das neves ou de camilo lourenço a proferi-lo: esse apelo a tal fatalismo já é emitido sem escrúpulos por jornalistas, que outrora mereciam ser ouvidos e lidos com alguma atenção como era o caso de filipe luís a quem as más companhias (desse outro estarola chamado medina carreira) andam manifestamente a faze mal.
Reduzem-se os salários, aumentam-se os horários de trabalho, eliminam-se feriados ou deixa de se pagar o trabalho extraordinário, ou remunera-se-o ao preço normal, e aponta-se a porta da rua a quem não estiver disposto a aceitar.
A exemplo do indicador do PIB, cuja descida neste trimestre desmascarou a falácia do «milagre económico» ou da cavaquista «nova esperança», este caminho irá traduzir-se muito rapidamente numa divergência dos vários índices sobre o desenvolvimento do país com a média europeia.
Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia da Universidade de Lisboa constata que um país que perde população sistematicamente, e por períodos muito longos, põe em causa toda a sua dinâmica de desenvolvimento.”
É por isso mesmo que, apesar das troikas e dos cavacos, dos passos coelhos ou dos paulos portas, dos belmiros ou dos soares dos santos, dos ulriches ou dos salgados - todos eles e mais alguns outros figurões do mesmo quilate! - ainda parecerem ter muita força, a ampulheta em que assentava essa aparente primazia já está quase com a areia esgotada do seu lado. Trata-se agora de virar a ampulheta do avesso e começar a reconstruir tudo quanto eles andaram a destruir. A começar pela esperança numa vida melhor, que quase conseguiram transformar numa  total impossibilidade...


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