terça-feira, 27 de maio de 2014

POLÍTICA: A Solução

Num dos seus poemas menos conhecidos (“A Solução”), por constituir um irónico libelo contra o estalinismo, Bertolt Brecht escreveu: Após a insurreição de 17 de Junho / O secretário da União dos Escritores / Fez distribuir panfletos na Alameda Estaline / Em que se lia que, por culpa sua, / O povo perdeu a confiança do governo / E só à custa de esforços redobrados / Poderá recuperá-la. Mas não seria / Mais simples para o governo / Dissolver o povo / E eleger outro?
Ontem à noite, no rescaldo das eleições, houve muitas reações nas redes sociais sobre o comportamento do povo, que terá preferido as esplanadas e os centros comerciais em vez de cumprir o dever cívico de penalizar o governo pelas malfeitorias que contra ele cometeu nestes três anos.
Se passos e portas bem gostariam de eleger outro povo, que não lhes votasse tanto asco, também não faltou quem, à esquerda, se lamentasse com o alheamento do eleitorado e - sobretudo nas redes sociais! - se excedesse em críticas azedas pela perda de uma oportunidade única de apressar a mudança de ciclo político.
É verdade que a depressão coletiva tende a suscitar a abulia traduzida nessa forma de se marimbar para a desconsiderada política. Mas, em vez de olharem para as culpas alheias, todos quantos na esquerda porfiam em querer ver Seguro ser quem não é (um líder com Visão e com capacidade para mostrá-la como a verdadeira luz ao fundo do túnel!), se satisfazem com a comparência infalível dos seus fiéis de sempre (PCP), mantém a aposta num tipo de bicefalia falhada (BE) ou procuram oportunisticamente reivindicar capacidades de convergência que não têm para procurar manter o emprego em Bruxelas (Livre), deveriam exigir um mínimo comum: o diálogo imediato entre o PS, o PCP e o BE para um programa mínimo de convergência destinado a afastar de vez esta direita do poder.
Talvez assim perdessem a vontade de demitir este povo e aceitar olhá-lo como algo mais do que um fator excêntrico às suas estratégias políticas. Porque, se continuarem incapazes de captar a atenção dos abstencionistas, dos que votaram branco, nulo ou em Marinho Pinto arriscam-se a que outros aparecem a preencher o seu vazio. E podem estar ligados a gente tão ou mais sinistra do que já portas e passos estão!


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