quinta-feira, 29 de maio de 2014

FILME: «Terra Prometida» de Gus von Sant (2013)

O debate ainda não chegou a Portugal, mas já está acalorado dos dois lados do Atlântico: a exploração das reservas de gás de xisto é defendida por uns como a alternativa a combustíveis mais poluentes, como o carvão ou o petróleo, tanto mais que oriundos de produtores muito exigentes nas condições do seu fornecimento. Mas também se ouvem os detratores, ou seja aqueles que alertam para os riscos de uma indústria com efeitos avassaladores nos ecossistemas circundantes, muito particularmente sobre os veios freáticos, que são esgotados ou poluídos tornando inviável qualquer exploração agrícola.
«Terra Prometida» mostra essas duas posições extremadas, que durante grande parte da história, situa de um lado dois funcionários de uma grande empresa e do outro um ecologista, com todos eles dispostos a influenciarem o sentido de voto de uma pequena comunidade rural para que se avance ou não na prospeção dos seus  terrenos.
De início Steve está a cavalgar uma onda de grande sucesso: é distinguido pelos patrões devido aos excelentes negócios conseguidos recentemente e incomparavelmente melhores do que o de outras equipas da empresa. Para quem veio de um nível muito baixo da escala social esse sucesso facilmente se transforma em atitudes de grande arrogância para com quem lhe põe obstáculos.
O primeiro cético, que terá de desviar do seu caminho - o presidente da câmara - é fácil de neutralizar através de um modesto suborno. Já outro osso bem mais duro de roer será Frank Yates, um cientista reformado, que consegue reunir muitos apoiantes para o adiamento de uma decisão enquanto não forem clarificadas algumas das mais complexas questões, que a chegada dessa indústria à região suscita.
Mas o pior opositor será Dustin, o aguerrido ecologista, que consegue insinuar-se nos locais mais influentes da cidade - no bar, na escola - para alertar para os perigos de se renderem a cantos de sereia.
Quando da sede lhe enviam as provas das falsidades com que Dustin tem recheado o seu discurso populista, Steve fica eufórico porque sabe já ter ganho. Mas as surpresas ainda estão para chegar e abalarem-lhe as convicções: ele que acreditava piamente no seu papel de salvador de uma comunidade falida e sem esperanças de sobrevivência económica, descobre que o ecologista estava afinal a soldo da Global, a sua empresa, e que a sua missão era puxar a população para uma posição avessa à exploração do gás e depois desacreditando-se na véspera da importante votação municipal, possibilitar uma fácil rendição à cínica estratégia empresarial.
Sentindo-se traído, Steve denuncia o sucedido sem que o realizador nos direcione para o happy end.  Apenas se ficará ciente de que perdeu definitivamente o bem remunerado emprego, muito embora lhe reste a convicção de ter procedido de acordo com a sua consciência.



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