segunda-feira, 28 de abril de 2014

POLÍTICA:E ainda há quem acredite que as coisas continuarão a ser como são!

As comemorações dos quarenta anos da Revolução de Abril cumpriram-se sem que ocorresse o tal grão de asa capaz de nos devolver à recuperação dos nossos melhores sonhos. Mas, convenhamos que sobraram sinais de existirem portugueses em maior número a prescindirem do seu conforto caseiro para acorrerem às ruas e avenidas das cidades e aí proclamarem a vontade de mudança. O medo de perder o emprego ou nem sequer o voltar a encontrar, a incerteza do futuro, que não deixa fazer planos para o curto prazo, quanto mais para o longo prazo inerente a conceber e criar filhos, e a progressiva consciência da imprescindibilidade do contributo de todos os humilhados e ofendidos na resolução dos impasses do presente, estiveram patentes a quem atentou numa dinâmica de fundo a afirmar-se.
No seu discurso na Assembleia, António José Seguro lembrou as sábias palavras de Miguel Torga: “Há a liberdade de falar e há a liberdade de viver, mas esta só existe quando se dá às pessoas a sua irreversível dignidade social”. A tal dignidade ameaçada pela “mão invisível” e pelo “pensamento único”, que “empobreceu os portugueses, aumentou as desigualdades e está a destruir a classe média”.
Hoje, para essa mesma classe média, cujo balanceamento ora à esquerda, ora à direita, tem propiciado as vitórias eleitorais do Partido Socialista ou das coligações PS/CDS respetivamente, está clara uma evidência: temos um Governo que destruiu muita coisa e que agora não sabe como reconstruir.
Por isso mesmo, na sua crónica semanal no «Público», Pacheco Pereira lança implicitamente um desafio, cujo resultado adivinha logo à partida: “o PSD e o CDS nascidos com o 25 de Abril estão hoje acossados em todos os lados menos nos salões. Perderam a rua, não porque o desejassem - tenho a certeza de que se pudessem fazer uma grande manifestação, ou mesmo uma pequena manifestação de apoio ao Governo, certamente que a fariam. Mas não podem. Hoje, os partidos do poder não conseguiam mobilizar para uma rua qualquer nem quinhentas pessoas, puxando por todos os cordelinhos e os fundos largos à sua disposição.”
Oportuno, o mesmo jornal escolhia uma antiga citação de Simone Weil para encimar a última página da sua edição de sábado: “Nada no mundo pode impedir o homem de se sentir nascido para a liberdade. Jamais, aconteça o que acontecer, ele pode aceitar a servidão: pois ele pensa
E, hoje, de facto, a classe média e todas as que a ela se coligarão no afastamento deste governo, pensam com lucidez. Têm bem a noção das promessas, que lhes fizeram e logo esquecidas com a entusiástica adesão ao que a troika vinha impor. Por isso mesmo, as eleições europeias de maio poderão significar mais um passo em frente na mudança desejada. Há quem tema seriamente os avanços da extrema-direita, mas é bem possível que a notícia da noite das eleições venha a ser a vitória da esquerda grega. O que, na perspetiva do seu líder, Alexis Tsipras, poderá significar o princípio do fim destas políticas austeritárias: “Sabemos que na Grécia é possível termos uma grande vitória das forças de esquerda, pela primeira vez na nossa história, e teremos desenvolvimentos vindos daí. Claro que o nosso objetivo é ganhar depois as legislativas na Grécia e formar um governo de esquerda. (...) Isso terá um ‘efeito dominó’, que levará a mudanças em toda a periferia sul da Europa”.
Quem acredita que as coisas possam continuar a estar tal qual estão, arrisca-se a conhecer grandes surpresas nas semanas que aí vêm!


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