terça-feira, 22 de abril de 2014

IDEIAS: quando o cérebro vê fundidos os seus fusíveis! (III)

Já vimos que o «burn-out» constitui a patologia da civilização, que nos obriga à desmesura, ao excesso, à atenção contínua às novas tecnologias.
O indivíduo tem de se preparar para responder a tudo quanto possa afetar o seu trabalho e, frequentemente, abusa das próprias capacidades até tombar.
Estamos numa sociedade onde a aceleração do tempo parece não conhecer limites.
Subitamente perdido nos seus pensamentos sem encontrar um farol, que os oriente, ou chorando sem razão aparente enquanto conduz num engarrafamento do final da tarde, o indivíduo sente-se mergulhado num espesso nevoeiro mental em que não consegue discernir as causas, que o levaram até ali.
E, no entanto, essa melancolia de que é feito o esgotamento individual tem óbvias causas coletivas. Porque o excesso é a verdadeira natureza da civilização ocidental. E hoje não há um discurso, que apele à contenção, à adequação da sociedade às capacidades dos que nela vivem.
O «burn out» inscreve-se num universo infinito bem diferente da cosmologia medieval, que tinha a Terra no seu centro e todo o restrito Universo então conhecido à sua volta.
O conceito de harmonia inerente a essa cosmologia, há muito ultrapassada, foi substituída pelo de desempenho (ou «performance»). O «burn out» seria, assim, uma invenção da tecnologia, se não mesmo da democracia.
Hoje sentimos que já não vivemos num mundo marcado por ciclos, que se repitam. Mas torna-se urgente redirecionar esse mesmo mundo para que ele continue a ser gerido para pessoas concretas em vez de se orientar para indicadores económicos ou produtivos, dos quais elas se tornem meros escravos.
É que, por ora, temos o ser humano a ser um servo de um mundo que se esforçou por domesticar. E a manifestar frequentemente os três sintomas principais do «burn out»: o esgotamento, a despersonalização e a ineficiência.
Julgando-se capaz de ser o centro do mundo, o indivíduo vê-se arredado do centro do seu mundo. De súbito torna-se mais apetecível receber ordens do que dá-las, porque as regras vigentes tendem a ser cada vez mais abstratas, mais difíceis de percecionar dentro de um tempo condicionado a essas ordens.


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