quinta-feira, 10 de abril de 2014

DOCUMENTÁRIO: «Ivan o Terrível» de Peter Moers (2013)

Conhecemo-lo do filme sublime de Sergei Eisenstein, que o dava como o fundador do Império Russo graças à repressão sobre a alta aristocracia moscovita, que preferia um poder central fraco para melhor defender os seus interesses feudais.
Sobretudo, na sua primeira parte, houve quem visse em Ivan uma representação do próprio Estaline. A começar pelo próprio, que tudo fez para financiar e divulgar o mais possível aquele que ficaria como um dos mais fascinantes filmes de todos os tempos.
Mas, para nós, portugueses, terá maior interesse constatar como essa afirmação de Ivan sobre os boiardos acontece ao mesmo tempo que o nosso D. João II também adota a mesma estratégia para firmar o seu poder central, tratando de julgar e executar os Braganças, que tinham estado na origem da intriga, contra o avô, D. Pedro, morto na batalha de Alfarrobeira.
Estranha singularidade essa a de, nos dois extremos da Europa do século XVI, o feudalismo ver-se derrotado pela ambição autoritária dos respetivos reis e avançar assim para uma nova fase histórica em que a burguesia comercial poderia ganhar influência.
Mas alguns historiadores tendem a considerar Ivan um monstro cruel e despótico, com algo de demencial no seu sadismo, como o atestam os casos em que mandava executar as mulheres dos traidores, as exibia por cima da porta das respetivas casas, sem que os maridos estivessem autorizados a mostrar qualquer sinal de protesto.
Ivan nasceu em 1530, filho do Grande Príncipe de Moscovo,  e teve uma infância difícil: perdeu o pai quando tinha 3 anos e a mãe, regente do trono, foi envenenada quando ele tinha 8.
O órfão torna-se um peão nas lutas de poder entre os boiardos da corte, que não hesitam em maltratá-lo e humilha-lo. Mas, ainda criança, o jovem Ivan consegue atiçar a sua matilha de cães contra o chefe desses boiardos, que acaba feito em pedaços. Logo então, quer a corte, quer a igreja fica impressionada com a crueldade de que ele já dá mostras.
Aos dezassete anos acede à plenitude do poder, coroando-se a si mesmo e proclamando-se czar, título utilizado pela primeira vez por um soberano russo.
Aproveita então para se vingar dos seus carrascos do passado e assegurar o poder da Rússia  ganhando novos territórios. Anexa Kazan e Astrakhan  e derrota os Tártaros. O império ganha acesso ao Volga e ao mar Cáspio. Paralelamente  o czar esforça-se por modernizar as estruturas do Estado e por reduzir o poder dos boiardos aos quais nunca perdoou o sofrimento e as humilhações a que o tinham sujeito em criança. Mas também conhece dissabores dolorosos: Anastasia, a esposa em quem tinha uma confidente e uma apoiante incondicional, morre envenenado, o que o leva a, mesmo sem provas, a lançar uma repressão sangrenta contra os seus piores inimigos. Mas, já no século XX, quando os ossos da czarina são analisados o teor de mercúrio e de arsénico confirmam as suspeitas de Ivan.
Heidi Kastner, psiquiatra, e Axel Petermann, criminólogo de Bremen, estudaram aprofundadamente a biografia do czar. Ambos defendem que os traumas sofridos na infância explicam muitos dos seus comportamentos ulteriores. E reconhecem duas características principais da sua personalidade: a inteligência e talento literário com que conduziu os assuntos do Estado e a sua fragilidade psiquiátrica, violenta e depressiva.



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