sábado, 2 de novembro de 2013

POLÍTICA: Oficialmente paulo portas pediu que o atirem pela janela!

O debate sobre o Orçamento do Estado para 2014 quase não primou pela novidade ao longo do dia e meio em que os deputados de direita se esforçaram por defender o indefensável e os de esquerda esbracejaram de indignação perante as iminentes patifarias a serem endossadas para as costas dos pensionistas, dos funcionários públicos e da generalidade dos portugueses, que vivem ou gostariam de viver do seu trabalho.
Mas o grande e inesperado momento culminante aconteceu durante o discurso final de paulo portas.
Não! Não foi quando das galerias cresceu o protesto de quem chamou assassinos aos fiéis soldados da troika! Embora momento sempre exaltante de revolta justificada de quem não suporta mais este colete de forças imposto pela austeridade, ele não chegou para se equiparar à apresentação da tese segundo a qual Portugal iniciou em 2011 um período de ocupação semelhante ao exercido pela dinastia filipina durante sessenta anos, e se prepara, para, dentro em breve, viver a sua Restauração ao estilo de 1640.
Sabendo-se o que aconteceu a miguel de vasconcelos nesse 1º de dezembro pode-se desde já considerar que paulo portas está a sugerir que se lhe faça a ele e a pedro passos coelho, enquanto fiéis sicários da detestada troika, o sucedido ao traidor em causa: defenestrado e atirado da janela para a rua!
Comecem-se, pois, a preparar as vontades para dar a paulo portas aquilo que ele tão sagazmente sugere!
Mas, deixando passar este episódio irónico, temos o «Expresso» quase a chegar às bancas dos jornais, com um título em que se anuncia a vontade desse mesmo paulo portas em prosseguir a pressão sobre o Partido Socialista para que ceda ao convite para negociar a Reforma do Estado fora do contexto do plenário da Assembleia da República.
Eis, pois, a estratégia da direita no seu fulgor para os próximos meses: acolitados por muitos dos comentadores dos meios de informação - a começar pelo próprio diretor do jornal em causa, que não é por acaso que escolhe esse título para a primeira página de hoje! - os ministros, os deputados e o próprio cavaco silva irão repetir a ladainha da necessidade de render o principal partido da oposição às suas teses neoliberais e de completa destruição, não só do que reata da economia portuguesa, mas também do contrato social subjacente à nossa organização constitucional.
Convenhamos que o previsível chumbo do Tribunal Constitucional a muitas das medidas, que constam do Orçamento, irá jogar a favor dessa estratégia e eles bem no-lo sabem. Porque será fácil multiplicarem os argumentos de quão próximo de chegarem à praia estariam se não fossem essas forças de bloqueio. Os amanhãs que cantam viriam, melodiosos, alegrar o regresso dos portugueses à fartura de empregos e de aumentos salariais, mas a coligação da esquerda com os juízes do Palácio Ratton tê-los-ão inviabilizado e sujeitado os portugueses a novos protetorados.
É essa a forma manipuladora como pretenderão evitar o desastre eleitoral para que se encaminham e que, a todo o custo, se querem furtar. Nesse sentido até faria algum sentido que cavaco silva solicitasse a aferição preventiva do orçamento para apressar os chumbos do Tribunal Constitucional. Porque, criadas as condições para promover eleições antecipadas, esse guião de culpabilização da oposição e dos juízes poderia ser suficiente para aproveitar a desunião da esquerda e eternizarem-se no poder durante mais uma legislatura.
O pior é que a Petroquímica de Sines já atingiu o seu pico de refinação e o setor do turismo entra na sua quebra sazonal, deixando de aproveitar os fluxos de nórdicos que deixaram de se sentir atraídos pelas paisagens do Magreb, da Turquia ou, mesmo, da buliçosa Grécia. No último trimestre do ano, as exportações tenderão a decrescer, mesmo contando com um maior volume de mercadorias transacionadas para os mercados europeus em fase de expansão. E a procura interna continuará a definhar depois da momentânea inflexão propiciada pelos mais recentes chumbos do mesmo Tribunal.
A direita procura, pois, defender-se com uma estratégia arriscada: se tudo lhe correr bem, ou seja, se os indicadores publicados pelo INE, pelo Banco de Portugal ou pelo Eurostat continuarem a iludir o desastre social em que vivemos, poderá ter garantido o joker para prosseguir na sua sanha destruidora. Se algo falhar pelo meio, a queda nas sondagens, o crescimento da contestação social e as suas próprias convulsões internas porão fim a este «novo ciclo», que só confirmou os piores efeitos do anterior.


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