sexta-feira, 22 de novembro de 2013

POLÍTICA: A ambivalente apreciação da fronda dos polícias!

Tanto quanto me lembro passei e detestar polícias desde que, em miúdo, passavam filmes do Charlot no salão paroquial da minha aldeia e aí vi pela primeira vez o relacionamento conflituoso entre o protagonista e os homens fardados.
Os anos não diluíram a opinião criada em criança: continuei a ver os inimigos fidalgais do  personagem inventado por Chaplin como gente indigna, disposta a satisfazer a autoestima à conta da prepotência das suas decisões. Até aos meus dezoito anos eles eram aqueles que o fascismo utilizava para reprimir quem exigia um mundo novo a sério. Depois, com a Revolução de Abril, nunca os deixei de ver como os que aceitavam ser pagos para usar o cassetete sempre que os poderes assim mandavam. Por isso mesmo, quando ocorreu, em pleno cavaquismo, a caricata cena dos secos e dos molhados, sempre pensei só se terem perdido as bastonadas desacertadas do alvo. Já mais recentemente não podemos esquecer as cenas com infiltrados em manifestações  contra passos & Cª, depois concluídas com cargas policiais particularmente violentas junto à Assembleia ou a caminho do Cais do Sodré ou com a orientação de gente incauta para uma inacreditável armadilha junto ás Amoreiras.
É por isso que olho com muita reserva para a manifestação, que hoje levou dezenas de polícias a romperem os cordões de segurança junto à Assembleia e a darem o sinal de serem capazes de irem mais além. Até porque um dos seus dirigentes sindicais foi lesto a confirmar o que já se sabia: dêem-lhes o tal “regime especial”, que os dissocie do demais funcionalismo público, e paguem-lhes bem, que ali os terão determinados a partir cabeças aos opositores do poder estabelecido.
Mas, por outro lado, não posso ignorar o simbolismo daquelas dezenas de manifestantes a passarem as barreiras  e a subirem as escadas da Assembleia da República: trata-se de uma imagem, que lembra inevitavelmente as de Eisenstein, quando filmou a Revolução de Outubro. No imaginário coletivo fica a noção de ser possível essa tomada da Bastilha, tão só se perca o medo, se tenha a sensação de já nada haver a perder e se adivinhe o potencial de uma violência dos que nada têm contra a violência dos que julgam tudo poder ter…
É por pressentir a possibilidade disso mesmo ocorrer, que Mário Soares voltou a alertar cavaco silva e passos coelho para as vantagens de ponderarem na demissão como forma de arrefecerem uma panela de pressão, que tem a válvula de segurança encravada e está quase a rebentar…
A História ensina-nos que, em fases particularmente conflituais do nosso passado, o mito dos brandos costumes revelou-se isso mesmo: uma tese sem a devida substância. Neste momento em que está completamente acossada na barricada das suas cegas certezas, a direita arrisca-se a ser confrontada com algo de inesperado. Sem contar com quem a defenda … pelo menos enquanto não cuidar de atrair a si a simpatia destes polícias subitamente irritados com o facto de sentirem nos bolsos aquilo que já há muito é constatado por quem costumavam agredir...


Sem comentários:

Enviar um comentário