domingo, 10 de novembro de 2013

FILME: «Love» de Vladan Nikolic

Há uns bons anos Wim Wenders confessava a dificuldade em voltar a filmar porquanto todas as histórias passíveis de serem contadas já o tinham sido até então. O que significava a impossibilidade de se fazer algo de verdadeiramente novo, porquanto qualquer história estaria condenada a ser a «remake» de outras entretanto formuladas.
«Love» corrobora esse juízo do realizador alemão, já que alia os triângulos amorosos do costume com uma intriga policial, aonde se misturam assassinos contratados, traições e desejos de redenção.
Nada de particularmente novo, exceto pela forma como Nikolic traduz esses temas convencionais em filme. Em princípio pela escassez de orçamento disponível para produzir tal projeto: a necessidade aguça mesmo o engenho!
Mas também existe a escolha dos cenários nas ruas mais periféricas de uma Nova Iorque bastante diferente da que costumamos conhecer nos filmes de grande orçamento, a opção por um argumento visto pela perspetiva de vários personagens interligando as sequências numa lógica caleidoscópica e, ademais, com alguns planos de câmara ao ombro, que podem não ser muito bem conseguidos, mas têm o condão de surpreender.
Temos então a história de um ex-jugoslavo, Vanya, que se sente órfão de um país entretanto desaparecido, e usando as competências de sniper adquiridas na guerra balcânica para executar pessoas por contrato. Decidido a abandonar essa atividade e a mudar de vida, aceita um último trabalho, sem saber propriamente se contará com a namorada, Faye, para o acompanhar no que vier a fazer a seguir.
Uma confusão num hotel, onde deveria executar a sua última vítima, fá-lo reencontrar a sua antiga namorada Anna, que conhecera ainda na Jugoslávia e de quem se separara já ali em Nova Iorque. Trata-se de um encontro meramente casual, já que ela estava ali noutro piso a cuidar, enquanto médica, de uma das suas pacientes regulares.
É com ela que sai do corredor pejado de cadáveres, onde encontra o seu alvo já morto de ataque cardíaco, e conclui ter-se ele próprio tornado no novo foco de atenção de outros assassinos contratados pelo seu patrão, Malloy.
Nikolic dá suficiente atenção a esses personagens secundários para os não reduzir a meros estereótipos. Um desses assassinos a soldo é o italo-americano Manny, que procura ganhar o dinheiro suficiente para que a mulher possa ser operada, hospitalizada devido ao cancro em fase terminal. Ou o emigrante clandestino Ali, que só quer ganhar quanto baste para encetar uma nova vida com uma antiga stripper.
Temos, assim, quase todas as personagens a julgarem-se em fase de transição para existências bem mais bonançosas. Cientes de que não as conseguirão alcançar, porque muitos deles deixarão a pele pelo caminho.
Só uma dessas personagens, o polícia Dirk, que namora Anna, é que acaba a fazer aquilo que desde início pretendia alcançar: converter-se em escritor de romances policiais.
Indagando sobre a continuidade do percurso de Vladan Nikolic desde a realização deste filme em 2005, constatamos que quase nada assinou, remetendo-se ao papel de professor de cinema numa modesta universidade norte-americana. Mas, sem ser particularmente brilhante, «Love» até deixava expectativas fundamentadas quanto à possibilidade dele poder continuar a surpreender-nos com a forma como conseguiria reformular narrativas conhecidas em projetos capazes de nos surpreenderem pela sua relativa originalidade.



Sem comentários:

Enviar um comentário