terça-feira, 8 de outubro de 2013

POLÍTICA: e se a coligação se limitar a implodir?

Quando o Dicionário Portas clarificou o conceito de “irrevogável” e de Belém se ouviram hossanas pela ressurreição do senhor (dos) passos ao quarto dia, a direita inchou o peito e convenceu-se de que agora é que era a sério. Havia a espinha marilu, que se tinha de engolir com as devidas cautelas, mas com o papa do Independente como vice-primeiro-ministro, o machete nos Negócios Estrangeiros, o moreira da silva na Energia & Ambiente, era canja! Tanto mais que, também se contava com o lomba a acolitar o maduro na criação de fórmulas bombásticas para enriquecer os discursos de todo o governo.
Durante umas semanas, quer no Largo do Caldas, quer na Rua de S. Caetano, fizeram-se juras de amor eterno pelo menos até 2015, e brindes antecipados à meia-derrota do PS nas autárquicas, que estariam a chegar.
É certo que o PCP estava a caminho de uma grande vitória, mas não têm sido eles os mais fiéis aliados, sempre que as hostes laranjas querem derrotar os socialistas? Não só na história do PEC IV, mas também em diversos momentos da luta autárquica quando, dos lados da Soeiro Pereira Gomes, sempre se decide mais facilmente por uma coligação formal ou informal com o PSD do que com o PS?
Meneses parecia imparável! Braga estava no papo! Em Matosinhos ganharia quem Seguro ajudara a escorraçar! E em muitos outros sítios, as divisões suscitadas pelos independentes iriam mascarar os resultados menos bons, que se viessem a contabilizar!
Haveria é certo a vitória de Costa em Lisboa, mas esse seria um mal menor, ou não contribuísse para pôr o Rato a ferro e fogo, dando maior espaço para passar a ideia de uma coligação responsável perante um PS em guerra civil.
Até à semana anterior às eleições tudo parecia correr de feição para essa estratégia, como se concluía pelas sondagens. Só que…
Nuno Crato começou logo a dar um ar da sua graça com o cheque-ensino (que ainda passou menos mal na distraída opinião pública), mas espalhou-se ao comprido com a questão das aulas de inglês no primeiro ciclo. Ainda houve a tentativa de emendar a mão, mas o mal estava feito.
Depois, passos começou a agitar o papão do segundo resgate e a dar razão àqueles que já para ele olhavam como a “má moeda” capaz de recorrer a essa “solução” por duas vezes seguidas. Porque, mesmo invocando à saciedade a tese da “pesada herança”, o primeiro-ministro já não consegue ser eficaz no sacudir da água do capote quanto a ter trazido a troika para Portugal, ao derrubar o Governo Sócrates, e de a voltar a convocar quando já não conseguir iludir nos indicadores económicos a sua impreparação, incapacidade e preconceito ideológico.
Veio o dia 29 e foi a hecatombe: ainda que muitos comentadores se voluntariassem para enfatizar a dimensão da abstenção e dos votos brancos e nulos, a vitória do PS foi impossível de disfarçar. E as já abalados pilares, que sustinham o periclitante jogo de equilíbrios entre PSD e CDS, e entre o seu poder executivo e o reivindicado pelas instâncias judiciais (com o Tribunal Constitucional no seu topo!), começaram a abrir brechas cada vez mais fundas.
É então que machete nos brinda com o seu inesperado amor à oligarquia angolana e as máscaras começam a cair com fragor sucessivo. Numa conferência portas julga que ainda consegue fazer prestidigitação com as palavras e soma o ridículo do discurso do penta à incontornável demonstração de falta de qualquer escrúpulo, quando se sabe do violento ataque aos pensionistas de sobrevivência.
E se estes episódios chegam para devastar as expectativas dos crédulos arautos da direita quanto à solidez da coligação, só podem tremer de medo com os próximos episódios a que a história dos swaps os sujeitará.
Bem podem contar com as pressões de durão barroso e da troika contra os juízes do Palácio Ratton!
Quando todos esperam que os obstáculos maiores provenham de mais declarações de inconstitucionalidade, não surpreenderia, que o fim desta tragicomédia provenha de uma implosão interna! É que, quando demasiado apodrecido, um poder estilhaça-se à conta dos que dentro dele esbracejam à cata de salvar a própria pele, quando o tsunami político se revela incontornável!


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