sexta-feira, 16 de agosto de 2013

POLÍTICA: por muito que os amigos errem...

Numa entrevista já antiga a Aurélio Gomes, no Canal Q, a escritora Alice Vieira recorda o que Mário Dionísio lhe disse um dia, e nunca mais esqueceu: não deixemos que os erros dos meus amigos, me ponham ao lado dos meus inimigos!.
Eis uma frase, que poderia igualmente subscrever com a maior das convicções. Porque, embora pague quotas para o Largo do Rato há mais de vinte e oito anos, existe uma grande diferença na consideração que tenho por comunistas e bloquistas da que assumo por quem é de direita. Daí que, em muitas reuniões partidárias, tenha incomodado muita gente - de um anticomunismo primário, que me exaspera! - ao qualificar os demais partidos de esquerda de adversários, enquanto aos de direita entendo-os como inimigos. Transigindo com os primeiros, mas sendo implacavelmente hostil a qualquer concertação com os segundos.
Porque voltemos à essência do que é o socialismo. Desde os que vieram a ser designados por utópicos, até Marx e Engels, o socialismo pressupõe uma sociedade sem classes. Aonde a fraternidade, a igualdade e a liberdade já entendidas como valores maiores pelos iluministas tenham plena expressão.
É verdade que o século XX veio a demonstrar que todas as experiências comunistas acabaram mal, sobretudo porque na busca da igualdade puseram de lado quase sempre a fraternidade e a liberdade. Mas importa, igualmente, considerar que muitos desses fracassos se deveram ao boicote e à contínua conspiração dos capitalistas para lhes apressarem o fim.
Porque, como Álvaro Cunhal disse um dia, o comunismo pode ser uma teoria perfeita, mas não consegue a devida aplicação por quem não o é: as pessoas concretas eivadas de ambições e egoísmos.
Será que esses fracassos justificam que desqualifiquemos os comunistas, e colateralmente os bloquistas, enquanto parceiros para as estratégias vocacionadas para atingirmos sociedades mais justas?
Em meu entendimento não! e só lamento que, quer no episódio do PEC IV, quer nas múltiplas possibilidades de a esquerda conseguir retumbantes vitórias nas autárquicas de setembro (vide em Caminha, no Porto) tenham sido os partidos às esquerda dos socialistas a fazerem o jogo da direita.
Mas não duvidemos que a esquerda distingue-se bem da direita quanto aos objetivos sociais a alcançar num Estado orientado para corresponder às aspirações mais prementes dos seus cidadãos (trabalho, saúde, educação, habitação), em vez de promover as desigualdades, condenando uns à quase indigência para outros possuírem prebendas, que nem os seus méritos, nem o esforço, justificariam.
E, numa altura em que essa direita já nem consegue disfarçar as suas verdadeiras intenções, trucidando gerações (de jovens e de reformados), classes profissionais (funcionários públicos) e exaltando a bondade da sua corrupção (BPN, swaps, etc.) e compadrio como se fossem fenómenos normais em democracia, não podemos enganarmo-nos quanto à identificação dos nossos verdadeiros inimigos.
Por isso lamento que alguns amigos continuem a acusar Sócrates de tanta ignomínia contra ele lançada pelos mesmos a quem objetivamente andam a servir, quando muito do seu esforço ao longo dos seis anos de governo procuraram aproximar os portugueses dessa sociedade desenvolvida e mais justa, a que todos deveríamos aspirar.
Porque, uma outra pedra de toque separa hoje a esquerda no seu todo da direita que nos (des)governa: enquanto socialistas, comunistas e bloquistas queremos mais investimento para garantir o crescimento da economia e o volume dos empregos disponíveis, ao passo que os apoiantes do CDS e do PPD teimam em como não há dinheiro para o que classificam de utopia, apostados em reduzir a maioria dos portugueses a condições de trabalho terceiro-mundistas. Hoje os medinas e os gomesferreiras não vêem outra saída que não seja a de competir com os asiáticos e os africanos nos salários baixos e ambientes tóxicos, mesmo que isso signifique a condenação dos portugueses à privação do mais básico dos direitos: o da própria vida.
De facto, por muito que os nossos amigos errem, nunca nos levarão a pensar na legitimidade de um qualquer alinhamento com os nossos inimigos!


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