terça-feira, 18 de junho de 2013

POLÍTICA: o que o meu partido não fez!

Enquanto socialista o que mais me custa reconhecer é a manifesta falta de valores consistentes patenteada por quem dirige o meu partido de há quase trinta anos. Nesta direção atual sobram muitos rostos que adivinhamos terem chegado à política não propriamente pela genuinidade de convicções firmes alinhadas à esquerda, mas enquanto forma expedita de arranjarem emprego em época pouco propícia para tal.
Parece que estou a alinhar no discurso da estigmatização das jotas, que muito desejaria verberar, mas com o qual sou obrigado a concordar, quando se sucedem intervenções do mais confrangedor conteúdo.
Infelizmente até mesmo em alguém como Francisco Assis se verifica essa dissonância com o que devem ser os princípios de quem se coloca à esquerda. E digo-o com o lamento de quem apostou nele quando enfrentou António José Seguro para evitar a deriva do PS para a cinzentude de que parece não conseguir recuperar (e que, infelizmente, se confirmará nas autárquicas!).
É certo que os professores se portaram de forma ignóbil com o governo de José Sócrates quando estava em causa a criação de um ensino público de maior exigência e de uma geração com conhecimentos e competências bastante superiores ás que as haviam precedido.
E que Mário Nogueira terá sido, então, o líder de uma campanha que, em conluio com o PSD, como tem sido timbre do PCP ao longo destes quase quarenta anos, de destruição sistemática das políticas infelizmente entretanto abandonadas em prol dessa concretização de um ensino público de maior qualidade.
Mas o facto de existir um contencioso histórico do Partido Socialista com a classe dos professores, e com a Fenprof em particular, não justifica a posição odiosa defendida por Francisco Assis a propósito da greve de ontem.
Como dizia José Sócrates na RTP, quando um trabalhador faz greve em defesa do seu emprego tem toda a legitimidade para o fazer. E ponto final! Sobretudo, quando se depara pela frente com um (des)governo sem quaisquer escrúpulos e capaz, através do seu crato de serviço, utilizar as estratégias mais indignas para sabotar tal luta. Desde o recurso á mentira até à da procura da divisão entre sindicatos.
Certa esquerda (ou que ainda dela se reclama, como julgo acontecer com Assis!) não parece ter aprendido nada com a História, nomeadamente quando do braço de ferro entre margaret thatcher e os mineiros ingleses, foi a primeira quem ganhou. Juntamente com a queda do Muro de Berlim, esse terá sido um dos acontecimentos históricos, que proporcionou esta acelerada desproporção de poder e de distribuição de rendimentos entre as oligarquias e a restante população europeia.
Como socialista teria esperado que os dirigentes do meu partido apelassem aos professores para fazerem a greve a que tinham direito e às famílias para que imputassem responsabilidades a quem elas, de facto, deveriam, ter sido atribuídas: aos que querem acrescentar mais uns milhares de funcionários públicos aos muitos desempregados que não têm hoje qualquer apoio do Estado para garantirem sequer um rendimento mínimo de sobrevivência.
Ter-se-ia assim evitado que muitos dos adolescentes entrevistados às portas das escolas fizessem aquela triste figura de culparem os professores pelo facto de não terem ido aos exames.
Será que os pais ou outros familiares desses adolescentes não estão desempregados? Será que os seus avós conseguem viver com as suas cada vez mais exíguas reformas? Será que, também eles daqui a pouco tempo, não serão obrigados a emigrar por não encontrarem aqui o emprego a que deveriam ter direito?
Quando eu era adolescente nos últimos anos da ditadura poucos eram os que não tinham consciência da injustiça das guerras de agressão aos povos africanos ou da inaceitabilidade de um poder fascista. Aos treze anos já se sabia muito bem o que não se queria. Os jovens ontem dispostos a fazerem o frete a crato e a passos coelho precisam de quem os confronte com a realidade dos factos. E a luta dos professores também deveria ser a sua luta por um melhor ensino e por propinas menos inacessíveis nas universidades.
Eu teria gostado que o meu partido tivesse contribuído para essa imprescindível consciencialização!


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