quinta-feira, 6 de junho de 2013

LIVRO: «On Writing» de Stephen King (1)

Confesso o meu pecadilho: adoro ler os romances de Stephen King.
Há quem goste de se entreter com a literatura light das margaridas e dos miguéis, das svevas ou das gabis, das danielles ou dos danbrowns. Pela minha parte, quando me quero entreter com algo que não exija muito dos neurónios opto pelo autor de «Carrie» ou de «Shining».
Recordo até uma noite memorável em que adquiri em Buenos Aires a versão em livro de bolso de «Cujo» - um dos seus romances menos conhecidos -  e passei a noite seguinte a devorar as seiscentas páginas para saber como é que a mãe adúltera conseguia tornear o problema de se ver acossada dentro do carro com o filho ainda bébé a uma temperatura insuportável e com um são bernardo raivoso a querer estraçalhá-los à dentada. Não cedendo à facilidade do happy end, King transformava o final na expiação do pecado da protagonista!
Agora, neste livro de memórias e de conselhos ao leitor apostado em, também ele, se converter num aprendiz de feiticeiro das letras, o escritor desenvolve três vias de abordagem: a primeira é dedicada à sua experiência pessoal desde criança até à consagração como vendedor de best sellers e à deriva pelo álcool e pelas drogas. A segunda subordina-se aos conselhos para melhorar a eficiência do romance junto dos leitores. E a terceira decorre do seu quase fatal acidente e de como ele mudou as suas perspetivas de vida.
Nesta altura já li rapidamente as primeiras cem páginas e ri-me com algumas das histórias pessoais por ele contadas, nomeadamente como ficou com o trauma da sufocação por causa de uma gorda baby sitter que se divertia a dar-lhe fétidos e sonoros traques para a cara, ou quando lhe deu vontade para defecar enquanto passeava no campo com o irmão e este o convenceu de que até o célebre cowboy Hopalong Cassidy resolvia o assunto debaixo de uma árvore e limpando-se às ervas por ali disponíveis. O problema foi que o jovem Stephen escolheu como ervas destinadas a esse serviço umas venenosas urtigas, que o haveriam de manter dias a fio com dores e carnes inchadas.
Mas a autobiografia também serve para desfazer um mito urbano: o de que ele seria escritor de textos para a gaveta e terá sido a mulher Tabitha a enviar-lhe o manuscrito do primeiro romance, «Carrie», para um editor.
Afinal ele andou anos a fio a enviar contos para revistas de maior ou menor circulação, com resultados pouco auspiciosos, pelo que tinha de ganhar (mal) a vida como professor ou empregado de uma lavandaria. Até ao dia em que a história da adolescente tímida e sujeita a bullying pelas colegas de escola, se lhe impôs, e mesmo detestando as personagens, decidiu avançar história adentro, sempre apoiado pelo incentivo de Tabitha até ascender á condição de autor consagrado capaz de viver apenas do resultado da sua imaginação.
E, ao contrário do que se passa com muitos autores, que escondem os seus vícios privados, Stephen King é bastante honesto na abordagem do seu alcoolismo e toxicodependência, que poderão explicar a razão de ser de alguns dos seus mais emblemáticos personagens, transformados em seus alter egos.
Um livro, que me está, pois, a dar enorme prazer na sua descoberta...


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