sábado, 15 de junho de 2013

DOCUMENTÁRIO: «Le fil de la vie» de Dominique Gros

Cyril começou a sentir a doença ainda em criança. Começaram por se lhe paralisar os pés, evoluindo esse processo imparável para todo o resto do corpo. Embora consciente, nada mexe em si senão as piscadelas dos olhos com que comunica com a mãe, essa mulher determinada, que tudo deixou para trás para dele cuidar. Até aos 40 anos, idade em que os médicos estimam a sua esperança de vida…
Na Suíça, casos como este fundamentam a possibilidade de recurso ao suicídio assistido . Na Exit, uma das duas associações, que o possibilitam, esta estratégia não é considerada uma liberdade, mas um direito para quem o leva por diante. Como foi o caso dessa antiga combatente da Guerra Civil de Espanha que, aos 96 anos, sentiu iminente a perda das capacidades para viver autonomamente. Carlos Bauverd, o filho, narra como todo o processo entre a decisão e o cumprimento do suicídio dessa velha senhora pôde ser vivido com a maior das dignidades e serenidade.
Gabriela Renaud, a jovem voluntária que acompanhou a srª Bauverd, elucida que, em sete anos de experiência, nunca viu ninguém recuar no derradeiro momento.
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Quais são as consequências dos progressos da medicina na nossa relação com a morte? Existirá morte natural nas nossas sociedades? Como deverá ser enquadrado o direito dos indivíduos quanto á sua decisão em decidirem a respeito da sua própria morte?
Este documentário de Dominique Gros constitui uma investigação em três países europeus a respeito das respetivas abordagens legislativas do fim da vida. Temos, assim, a Bélgica, que legalizou a eutanásia médica desde 2002, a Suíça, que autoriza o suicídio assistido desde 1996 e a França mais orientada para cuidados paliativos desde 2005.
Para além da polémica entre os que se opõem e os que defendem cada uma dessas leis, o filme atualiza a evolução cultural dos últimos trinta anos relativamente à morte.
Dominique Gros recorre ao seu passado de enfermeira para levar por diante esta abordagem humanista, que mistura as dimensões sociais, políticas e éticas. Pode filmar Cyril J, um jovem sujeito a cuidados paliativos, a mãe e a equipa médica que o acompanha. Ouviu outros médicos, enfermeiras, juristas, políticos e um filósofo.
E circunscreveu cada uma das definições - cuidados paliativos, eutanásia e suicídio assistido - dentro das respetivas fronteiras.
Os cuidados paliativos são os aplicados a pessoas afetadas por doenças incuráveis e incapacitantes, compreendendo a vertente psicológica e médica e dando prioridade ao alívio das dores. O que, numa fase terminal, implica a administração de analgésicos muito fortes passíveis de, acaso injetados em excesso, podem causar a morte do paciente.
A Eutanásia só é autorizada em dois países europeus (Países Baixos e Bélgica) e consiste em abreviar a vida de um doente para colocar um fim ao seu sofrimento. A administração de substâncias letais, capazes de provocarem rapidamente a morte, é feita a pedido do doente ou, caso isso se revele impraticável, por solicitação de um familiar ou do corpo médico.
Finalmente, o suicídio assistido é um ato executado pelo próprio paciente com a ajuda de um terceiro, que lhe terá propiciado todas as informações e os meios necessário para lhe possibilitar a própria morte. A Suiça autoriza-o.



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