segunda-feira, 6 de maio de 2013

POLÍTICA: a lição semanal de política com P grande


Os vinte e oito minutos utilizados por José Sócrates no seu programa semanal na RTP1 voltaram a ser dos mais interessantes de quantos transmitidos pelas diversas televisões ao longo da semana para promoverem a compreensão da atual situação política do país. E, ao contrário do que muitos desejariam, não se vislumbra qualquer contradição - nem sequer dissonância! - com o discurso da direção do Partido Socialista.
A quebra nas audiências deverá explicar-se pela deceção de quantos desejariam ver a crónica do antigo-primeiro-ministro a ser tão rebarbativa contra António José Seguro, quanto as de marcelo, manuela ferreira leite, bagão Félix ou mesmo de marques mendes, já andam a ser para com os partidos da coligação no (des)governo.
Desiludidos também terão ficado os que se apressariam a reduzir a crónica a um ajuste de contas semanal com cavaco silva. Esta semana o inquilino de Belém nem sequer veio a talho de foice, tão irrelevante continua a revelar-se!
Mas detenhamo-nos no que foi dito por José Sócrates de mais pertinente:
· se considera que se bateu no muro há dois anos, quando os partidos da então oposição se coligaram para chumbar o PEC IV, ele lembra que todos os indicadores denunciam estarmos hoje bem pior do que então, bastando pensar no montante da dívida, na dimensão da recessão e nos números do desemprego.
· Numa altura em que toda a Europa já abandonou a austeridade (esta é a semana em que a Espanha, a França e a Holanda ficaram com mais tempo para equilibrar a sua situação financeira), o governo português lança um pacote de austeridade, que será terrível para o país e para a sua economia.
· Neste momento o bom aluno português está sozinho na sala de aula com o professor, esse ministro das finanças alemão, que tanto elogia vítor gaspar. Ora, é lamentável que o ministro das finanças português esteja muito mais preocupado com os elogios, que possa receber do seu homólogo alemão, do que agradar aos portugueses.
· A declaração ao país de passos coelho foi propositadamente enevoada, porque não explicou como conseguirá dispensar os 30 mil funcionários públicos que pretende despedir. A mobilidade espacial não tem qualquer suporte legal, que permita mandar as pessoas para casa, reduzindo-lhes remuneração e, quiçá, deixando mesmo de lhes pagar ao fim de dezoito meses. Com esta ameaça o governo está a lançar a incerteza na vida de muitos milhares de famílias portuguesas.
· É redondamente falso o argumento de existirem funcionários públicos a mais: os indicadores confirmam estarmos na média europeia (10,6%) não havendo qualquer justificação para a sua redução.
· Mais do que na declaração ao país, passos coelho foi muito mais explicito na carta enviada para Bruxelas, quanto à dimensão dos cortes, que pretende aplicar a funcionários públicos e a reformados. E, no caso destes últimos, não só pretende tornar definitivo o imposto aplicado este ano a título de contribuição extraordinária, como aumentar-lhe a dimensão do corte, seja através de maior taxação, seja de alargamento de quem abrange.
· Na convergência da Caixa Geral de Aposentações com o regime da Segurança Social, passos coelho propõe-se cortar em 25% as pensões já atribuídas e atualmente auferidas pelos seus usufrutuários, violando uma linha vermelha de confiança no Estado Social.
· Com este pacote, o governo está a estilhaçar o modelo de solidariedade europeu criado por socialistas e democratas-cristãos europeus ao longo das últimas décadas, tentando virar novos contra velhos, ricos contra pobres, numa irresponsável quebra de um pacto constitucional entre os cidadãos.
· Lamentável terá sido o oportunismo de paulo portas ao vir regozijar-se pelo aumento da idade da reforma para os 66 anos, quando o conselho de ministros pretendia impor os 67 anos. O oportunismo do líder do CDS, próprio de quem quer manter um pé dentro e outro fora do poder, sem se pronunciar em definitivo se é a favor ou contra ele, é outra prova da decomposição de um governo aonde avulta a total ausência de liderança.  É confrangedor ver um primeiro-ministro vir anunciar ao país um conjunto de medidas à sexta-feira e o seu parceiro de coligação vir pô-las em causa dois dias depois.
· Lamentável, igualmente, o espetáculo dado esta semana pelo ministro das finanças na comissão parlamentar aonde foi discutir dois documentos - o DEO e o dos swaps - sem dar deles conhecimento aos deputados. Como pode haver uma discussão séria nessas condições? O desnorte do titular dessa pasta ficou bem expressa na frase da semana - “eu não fui eleito coisíssima nenhuma!” - que revela ainda um completo desprezo pelos cidadãos donde emana o seu governo, que deve responder pelas ações perante os deputados eleitos pelo povo e, em última análise, perante esse mesmo povo!
· A concluir, esteve em causa a declaração de grande rasteirice política de vítor gaspar sobre a responsabilidade dos swaps, que José Sócrates liminarmente qualificou com uma frase definitiva: “Estive seis anos no governo e nem eu nem nenhum ministro assinou nenhum swap”. O que este governo não poderá dizer, Pelo contrário, torna-se  esclarecedor que, para a criação do relatório sobre esses produtos, o governo tenha contratado como consultor externo uma boutique financeira aonde pontificam alguns dos que andaram a promover precisamente esses swaps junto das empresas, que os firmaram.

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