quarta-feira, 17 de abril de 2013

TEATRO: «A Estalajadeira» de Carlo Goldoni, pelos Artistas Unidos


A comédia de enganos de Goldoni, cuja encenação foi sugerida a Jorge Silva Melo por Catarina Wallenstein, anda em digressão pelo país chegando ao CCB no último fim de semana deste mês.
Para quem ainda não assistiu a esta excelente peça vai o alerta, porque vendo-a em Almada, no Teatro Joaquim Benite, o melhor elogio a ela atribuível é o de ter feito esquecer as malfeitorias de passos coelho e de vítor gaspar durante um par de horas. E, numa altura, em que sobram razões para andarmos de expressões crispadas, inquietas pelos desaforos cometidos contra os nossos interesses, um par de horas de divertimento inteligente constitui um merecido bálsamo.
Temos então uma jovem estalajadeira a suscitar o interesse dos vários homens que a rodeiam: um marquês completamente falido, mas ainda muito dado a presunções; um conde com muito dinheiro, mas de escassa elegância no linguajar e no comportar-se; sem esquecer um criado ansioso por merecer a mão da bela patroa em quem deposita, há muito, todas as suas esperanças.
Mas há alguém completamente avesso a esses encantos: o Cavaleiro para quem todas as mulheres são assim uma espécie de feiticeiras, apostadas em enlearem os homens com as suas artes de sedução para os levarem à total perdição.
Ora aí está um desafio que a jovem estalajadeira leva a sério: conseguir que esse hóspede hostil se lhe renda totalmente até se esquecer de todas as teorias de que vinha imbuído.
Sucedem-se então os equívocos a que se associam duas atrizes também hospedadas na estalagem e depressa desmascaradas do papel de damas aristocratas de passagem pela região por quem se pretendiam fazer passar.
É claro que, no final, tudo ganha novo equilíbrio e (quase) todos saem satisfeitos.
A Catarina e o Elmano são excelentes nos respetivos desempenhos, mas os demais atores secundam-nos bem. Digna de elogio é também o trabalho de encenação, que dá ao texto uma ligeireza, que desfaz aquela ideia de chatice tão comummente associável aos clássicos. E podemos sempre perspetivar quão arguto era Goldoni para, em pleno século XVIII, abordar de forma tão eficaz a dinâmica das classes desse tempo de revoluções determinantes para o futuro dos povos...



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