sábado, 20 de abril de 2013

POLÍTICA: As mudanças nas bases sociais de apoio


Nos quarenta anos da criação do Partido Socialista, o «Público» foi ouvir alguns comentadores e políticos, que debitaram algumas opiniões de circunstância. Há, porém, o testemunho de João Cravinho, que se destaca pela pertinência do que sugere, ao dar pistas para a desejável evolução dos partidos socialistas a nível europeu, de forma a evitar o declínio conhecido pelo PASOK na Grécia ou a estagnação do eleitorado como ocorreu recentemente na Itália ou parece vir a suceder na Alemanha. Para o antigo ministro socialista o principal obstáculo à progressão das políticas sociais está na relação de forças do poder financeiro com a maioria dos cidadãos sujeitos à ganância dos seus propósitos:  neste momento o sistema económico  e político é dominado pelas elites alargadas do sistema financeiro. Por isso afasta para as franjas da decisão política quem, anteriormente, era tido como o “pivot” da clarificação de quem assumiria o poder. Assim, reduzida na sua influência, a classe média está a substituir o conceito clássico de trabalhadores e de massas. (…) Mais do que isso: assistimos à proletarização da classe média e ainda não se percebeu o que será a reclassificação e a reorganização da oposição à elite financeira.
Cravinho acedeu às funções públicas ainda no tempo de Marcelo Caetano, pelo que é observador privilegiado da dinâmica social para concluir: em Portugal a classe média como sustentação política começou com Marcelo Caetano, através da Ala Liberal e da Sedes. E o PSD foi o partido que nasceu e cresceu dessa classe média!.
Ao liderar o projeto político de pauperização dessa mesma classe média, que era a sua base, o seu sustentáculo, o PSD está a cavar a sua própria cova como partido, está a matar as suas bases.
Para João Cravinho será perfeitamente legítimo que esse descontentamento se traduza numa radicalização política. E, sob pena de deixá-la ver expressada por outras forças políticas, reconhece que o problema do PS é que ainda não se radicalizou na assunção de que, perante uma política radical do neoliberalismo, é preciso uma mudança radical que responda aos interesses das suas bases. Que também integram essa classe média.
Daí que veja com bons olhos um projeto alternativo capaz de mobilizar esses estratos a par dos excluídos, que já vêm sendo o motivo das suas preocupações.
Curiosamente esta interpretação de João Cravinho vem também a par da que Francisco Louçã elaborou a propósito do CDS e transmitiu na sua intervenção semanal na SIC Notícias. Também aqui existe bastante pertinência na análise efetuada: o partido de paulo portas terá perdido a base populista em que assentara o seu relativo sucesso eleitoral ao ver-se obrigado a associar-se a políticas fortemente agressivas para com os contribuintes e os idosos, anteriormente tão na ponta da língua dos dirigentes centristas.
A necessidade de angariar uma nova base social de apoio, que evite a redução da sua representação parlamentar à do tempo do «partido do táxi» leva o ministro dos negócios estrangeiros a organizar sucessivas missões ao estrangeiro com empresários portugueses, cujo apoio espera vir a conquistar no futuro próximo. Mas, como esta atual estratégia será insuficiente se não for traduzida em algo de concreto, portas sonha em abocanhar o ministério da economia, promovendo-o à condição de motor da inflexão no investimento público (através das verbas do QREN agora atribuídas por passos coelho a poiares maduro!). Daí que tenha feito birra e primado pela ausência na cerimónia de tomada de posse dos novos ministros e dado ordem aos seus deputados para se calarem nos apoios aos ministros contestados pela oposição parlamentar.
Segundo o «Expresso» de hoje, portas continua a não se dar por vencido. O que não admira: o tempo esgota-se para evitar a erosão expectável no seu dececionado eleitorado…
Ganha, por isso particular sentido o editorial do «Público» de ontem, que constatava: ainda que Passos e Portas dissimulem, ainda que façam de conta que em causa estão apenas arrufos normais numa coligação, o dissídio e a forma como foi exposto mostram que entre os dois partidos há hoje mais barricadas do que pontes. Procurar o consenso com o PS, quando estas fragilidades são assim tão evidentes só serve para reforçar a tese de que a carta de passos a Seguro não passou de uma manobra de diversão.


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