sábado, 16 de março de 2013

FILME: «True North» de Steve Hudson

Que argumentos se poderão utilizar para tornar credível o pedido de asilo político na Europa? Antes do genérico é essa a cena inicial do filme do escocês Steve Hudson. E temos assim um traficante a ensinar a uns quantos chineses de Fujian a forma de chegarem ao Reino Unido e não serem expulsos. O que os obrigará a recorrer a estórias sobre lutas contra as expropriações das suas terras e as consequentes prisões.
Fica o retrato de uma Europa com ideias muito estereotipadas sobre a China, aceitando no seu anticomunismo primário, que aí ainda vigore um regime suficientemente autocrático para dar guarida a todos quantos dali cheguem a invocar perseguições.
Passamos então para Ostende, na Bélgica, aonde está atracado o «Providence», uma traineira em vias de voltar à safra, quando o seu mestre e proprietário está ameaçado pelos bancos a quem pedira o empréstimo para o comprar e a quem não conseguira pagar as prestações mais recentes. Razão para que o filho, Sean, procure em terra, e à sua revelia, uma solução arriscada: contrabandear para a Escócia tabaco livre de impostos.
Mas Pol não tem tal mercadoria, oferecendo-lhe outra em troca: os tais chineses, entretanto chegados de Fujian. Embora temeroso de um tal negócio, o dinheiro envolvido é tão atraente, que Sean aceita, contando com a ajuda de Riley, o marinheiro igualmente seduzido pelos lucros prometidos.
Quando regressam ao mar, Sean e Riley já conseguiram enfiar os emigrantes ilegais no porão à proa, sem que o cozinheiro e o mestre se tenham apercebido. O que desconhecem é terem deixado esquecida à popa uma adolescente, Su Li, que se esconde junto a um gerador e logo começa a roubar comida na cozinha para estranheza do respetivo tripulante.
Embora Riley preferisse rumar a casa imediatamente, reduzindo ao mínimo o tempo de estadia dos chineses a bordo, Sean sabe ser essa a forma mais certa de serem descobertos pela polícia de fronteiras. Risco que se reduzirá significativamente com os porões carregados de peixe. Por isso, durante dias sucessivos, vão tentando lances de pesca sem grande sucesso, já que, invariavelmente, as redes vêm vazias ao puxarem-nas para o convés.
À proa o ambiente torna-se cada vez mais irrespirável e um dos emigrantes acaba por morrer. É, nessa altura, que Riley decide dessolidarizar-se com Sean e ir à ponte contar o sucedido ao patrão. Que começa por invetivar o filho até reconhecer a intenção redentora da sua tentativa de salvar o barco das garras dos bancos.
O «Providence» muda de rota para casa, com Sean ao leme enquanto Riley e o pai dormem. Mas, antes de chegarem a porto, a sonda indica a existência de cardume promissor e já que traziam as redes na água, o rapaz convence novamente o marinheiro a ajudá-lo a puxá-las para bordo. Mas, para surpresa de ambos, elas vêm carregadas com os corpos dos emigrantes que o mestre afogara durante a noite e atirara borda fora.
Fica então demonstrada a impiedade do mestre, que não hesita em querer concluir o crime na pessoa da jovem adolescente, que, nesse momento, surge espantada no convés. Mas é o cozinheiro, que, entretanto a descobrira e ajudara, quem impede aquele assassinato adicional, matando o mestre com uma corrente.
Horas depois, a rapariga apanha um autocarro levando consigo todo o dinheiro entregue por Pol a Sean. Um dinheiro que se revelara maldito. Mas o tema mais contundente do filme é o do garrote imposto pelos bancos aos pequenos proprietários de negócios com escassa rentabilidade que, para se salvarem, não hesitam em fazerem emergir de dentro de si mesmos as mais hediondas características...

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